Depois deu uma manhã predominantemente em queda, em meio à disputa pela formação da última taxa Ptax de novembro, o dólar ganhou força ao longo da tarde, chegando, nos piores momentos, a tocar na casa de R$ 5,67. A troca de sinal se deu durante uma arrancada momentânea do índice DXY - que mede o desempenho moeda americana frente a seus pares fortes -, após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, dar a entender que o surgimento da variante Ômicron não muda o plano de voo do BC americano. Ou seja, pode haver aceleração no ritmo de redução de estímulos monetários (tapering) e antecipação da alta de juros para o primeiro semestre de 2022.
Com o retorno do índice DXY para terreno negativo, o dólar desacelerou o ritmo de alta, mas seguiu com sinal positivo, orbitando os R$ 5,65. Lá fora, a moeda cedia contra os principais pares do real, como o peso mexicano e o rand sul-africano. A aprovação da PEC dos Precatórios na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e a perspectiva de votação da proposta no plenário da Casa tiraram um pouco da pressão sobre a taxa de câmbio, mas não o suficiente para sustentar um movimento de apreciação do real.
Segundo operadores, o azedume da Bolsa, que perdeu pontualmente o patamar dos 101 mil pontos, acompanhando os índices em Nova York, e fatores técnicos, como a rolagem das posições futuras típicas de fim de mês, prejudicaram a moeda brasileira. Com isso, o dólar à vista terminou o dia em queda alta de 0,46%, a R$ 5,6355, acumulando valorização de 0,71% na semana. Mesmo assim, a moeda americana encerra novembro em queda de 0,19%, interrompendo uma sequência de dois meses de valorização expressiva (3,67% em outubro e 5,30% em setembro).
Vale ressaltar que o real se destacou em relação a seus pares, já que o dólar subiu mais de 4% em relação ao peso mexicano e ao rand sul-africano no mês. Novembro também foi marcado por uma alta de mais de 2% do índice DXY.
O diretor de estratégia da Inversa Publicações, Rodrigo Natali, afirma que a formação da taxa de câmbio nesta terça-feira foi contaminada por movimentos técnicos típicos de fim de mês, o que impede uma avaliação mais assertiva dos impactos do noticiário externo e interno sobre a dinâmica do dólar. "Muitos fundos tiveram um mês horrível e estão tentando fazer ajustes. Em dois ou três dias, esse movimento técnico vai ser normalizar", diz.
Natali destaca que o mercado foi pego no contrapé na sexta-feira passada, tendo que absorver a informação da descoberta da ômicron em dia de liquidez reduzida. Após a recuperação parcial dos ativos na segunda, nesta terça-feira o humor voltou a piorar no exterior. "Grosso modo, os ativos domésticos vêm se comportando bem. A bolsa está caindo em linha com Nova York e o dólar subindo um pouco. Há um mês, um movimento de estresse lá fora desse tamanho teria levado o dólar a subir mais de 2%", diz Natali, ressaltando que o real teve um bom desempenho em novembro, tendo se apreciado em relação a outras moedas, como o euro, em mês marcado por forte apreciação do dólar no exterior.
Pela manhã, ecoou negativamente a fala do CEO da Moderna, Stéphane Bancel, de que as vacinas atualmente existentes devem ter eficácia reduzida na prevenção da variante ômicron. Já o conselheiro da Casa Branca para infectologia, Anthony Fauci, afirmou que, ainda que a nova variante possa ter uma capacidade maior de escapar das vacinas contra a covid-19, os imunizantes devem seguir reduzindo quadros graves da doença.
Powell disse que o impacto da ômicron sobre a economia não deve ser "remotamente próximo" do observado em 2020, quando houve lockdowns. O presidente do BC disse que a nova variante é um risco, mas que não integra as projeções do Fed. E afirmou que "talvez seja adequado" encerrar o tapering, como é conhecimento o processo de redução de compra mensal de títulos, alguns meses antes, tendo em vista os níveis elevados de inflação. "Usaremos nossas ferramentas para que a inflação não fique enraizada", afirmou.
O economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, observa que o mercado esperava que Powell, diante do surgimento da nova variante do coronavírus, trouxesse um discurso dovish, descartando a possibilidade tanto de uma aceleração do tapering quanto de uma antecipação da alta de juros nos EUA. "Era isso que o mercado tinha posto no preço com a ômicron. Mas o discurso de Powell foi bem duro e a reação foi imediata, com um movimento de risk-off", afirma Miraglia. "Temos que acompanhar o impacto dessa variante na economia. Pode criar choque de oferta, que é responsável pela inflação. Mas os preços das commodities caem, o que pode ajudar".
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