O dólar terminou a sexta-feira (2), em alta, acumulando valorização de 2,07% nos últimos cinco dias, a quarta semana seguida de ganhos, subindo 41,3% no ano. Hoje a moeda chegou a encostar em R$ 5,69 com pressão vinda do exterior, após o aumento da incerteza nas eleições americanas com Donald Trump confirmando estar infectado com o coronavírus. No Brasil, persistentes dúvidas sobre o financiamento do novo programa social do governo seguem pressionando o câmbio, hoje com a troca de farpas entre o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e o da Economia, Paulo Guedes.
O dólar à vista encerrou a semana cotado em R$ 5,6704, em alta de 0,29%. É a cotação mais alta desde o fechamento de 20 de maio. No mercado futuro, o dólar para novembro tinha ganho de 0,46% às 17h, para R$ 5,6750.
No novo capítulo sobre o Renda Cidadã, Marinho disse em call com o mercado hoje, de acordo com fontes ouvidas pelo Broadcast, que o programa sai "por bem ou por mal" e ainda criticou Guedes. Mais tarde, ao ouvir os relatos, Guedes chamou o colega de "desleal".
"O teto da dívida continua sendo um problema permanente", destaca a analista de moedas do banco alemão Commerzbank, Alexandra Bechtel. Ela ressalta que após a repercussão negativa de como financiar o novo programa social de Jair Bolsonaro, o governo voltou atrás sobre o uso de precatórios, mas não deu novos detalhes do que pretende fazer. Nesse cenário, será difícil o real se apreciar, mesmo se o ambiente for de procura por risco, ressalta ela.
Nesta sexta-feira, o cenário de incerteza fiscal se somou ao aumento da incerteza sobre as eleições americanas após Trump anunciar que está com covid e cancelar a campanha por 15 dias. Os estrategistas do banco ING observam que as dúvidas eleitorais vêm em um momento de preocupação redobrada com a recuperação da atividade econômica. Com isso, o dólar subiu ante divisas fortes e em alguns emergentes, como Colômbia, Chile, Turquia e Rússia.
Para o mercado doméstico, o Itaú Unibanco manteve a projeção de dólar a R$ 5,25 no final do ano. Caso a incerteza fiscal diminua e o cenário externo fique mais benigno - com recuperação das principais economias no segundo semestre deste ano - somado a um balanço de pagamentos já ajustado, o real deve se apreciar nos próximos três meses. Com o PIB voltando a crescer em 2021, há espaço para apreciação adicional do real, destaca o Itaú, prevendo o dólar a R$ 4,50 em dezembro do ano que vem. O banco, porém, faz um alerta. "Caso haja uma deterioração fiscal significativa, que resulte numa saída mais forte de capitais, o real deve se depreciar mais do que no nosso cenário."
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