Com receio de investidores aos efeitos econômicos do coronavírus, a cotação do dólar comercial subiu 1,23% nesta quarta-feira (1º) e foi a R$ 5,2630, novo recorde nominal (sem contar a inflação).
A máxima anterior era de 18 de março, quando a moeda superou os R$ 5,20. O turismo é vendido a R$ 5,410 e, em algumas casas de câmbio, ultrapassa os R$ 5,50.
"Não é de se estranhar o R$ 5,26, pessoas já falam de dólar a R$ 5,40. Ninguém sabe onde vamos parar com o coronavírus e isso causa muito medo no mercado", diz Rodrigo Esper, chefe da mesa de câmbio da Vero Investimentos.
Em termos reais (corrigidos pela inflação), a moeda americana ainda está longe de sua máxima de 2002. Se for considerado apenas o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, o pico de R$ 4 naquele ano, equivale a cerca de R$ 10,80 hoje. Caso também seja levada em conta a inflação americana, o valor corrigido seria cerca de R$ 7,50.
No ano, a divisa acumula alta de 31%, ficando R$ 1,25 mais cara. O dólar é um dos ativos que mais se valoriza em meio à pandemia de Covid-19. Assim como o ouro, a moeda americana é tida como um dos investimentos mais seguros do mundo, sendo buscada por investidores em momentos de incerteza.
O movimento faz a maior parte das moedas globais a se desvalorizarem ante o dólar, incluindo o euro e a libra. O real, porém, é a moeda que mais perde valor no ano.
Segundo analistas, o movimento é fruto de uma expectativa de maior dano econômico da pandemia no Brasil, que deve ter contração do PIB (Produto Interno Bruto), e impacto fiscal das medidas de incentivo do governo.
Ainda pesa a discussão entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em torno da liberação do auxílio a trabalhadores informais e os mais pobres, de R$ 600. Ambos são vistos pelo mercado como fiadores das reformas tributária e administrativa.
Também contribui para a alta do dólar um cenário de juro baixo. Com a Selic na mínima histórica de 3,75% ao ano, investir no Brasil fica menos vantajoso, o que contribui com uma fuga de dólares do país.
Nesta prática de investimento, chamada carry trade, o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, no caso, os Estados Unidos, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior, o Brasil.
Além da saída de dólares da renda fixa, há uma saída recorde da Bolsa de Valores. O saldo de investimento estrangeiro em ações brasileiras está negativo em R$ 63,3 bilhões até a última segunda (30).
Para conter a alta da moeda e garantir liquidez ao mercado, que busca dólares diante da aversão a risco, o Banco Central (BC) tem feito leilões diários da moeda americana.
Nesta terça, o Banco Central (BC) vendeu US$ 645 milhões à vista, reduzindo a valorização do dólar, que chegou a R$ 5,2750 na máxima do pregão.
Até 20 de março, o BC vendeu US$ 16,211 bilhões à vista em 2020 para conter a alta da moeda. As intervenções levaram as reservas internacionais a US$ 347,423 bilhões. Em 2018, elas somavam US$ 374,72 bilhões.
A Bolsa brasileira também refletiu a aversão a risco que predominou nos mercados globais nesta quarta e caiu 2,81%, a 70.966 pontos, menor patamar desde junho de 2018, antes da corrida eleitoral que levou Jair Bolsonaro à Presidência.
Nos EUA, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caíram em torno de 4,4% cada uma.
Após ajustes na carteira ao fim de março e do primeiro trimestre de 2020, que trouxe calmaria aos mercados nas últimas semanas, investidores voltaram a precificar o coronavírus.
Na tarde de terça (31), o presidente americano, Donald Trump, apresentou, junto a membros do governo, projeções sobre o impacto da doença nos EUA, que deve ocasionar de 100 mil a 240 mil mortes.
Por precaução, o governo americano já havia estendido a recomendação de isolamento social até o fim de abril.
Segundo analistas, as medidas de combate ao vírus devem gerar contração da atividade industrial e aumento do desemprego nos EUA em pesquisas divulgadas nesta semana.
No Brasil, a produção industrial contrariou as expectativas e subiu em fevereiro pelo segundo mês seguido, embora alguns segmentos possam já dar os primeiros sinais das consequências da pandemia de coronavírus.
"Todo mundo percebeu que não tinha certeza de nada quanto ao coronavírus e isso gerou um pânico no mercado. No início, achavam que o impacto do vírus não seria tão forte. Também pesa um efeito psicológico de medo pessoal da doença", diz Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta