O dólar nesta segunda-feira, 28, testou as máximas em quatro meses, em dia que o noticiário local não ajudou e a moeda americana ainda subiu ante divisas emergentes no exterior. A questão fiscal do Brasil voltou aos holofotes quando o governo anunciou na tarde de hoje que pretende financiar o Renda Cidadã, o novo programa social do Planalto, com precatórios. Além disso, a sinalização de que ainda não há acordo para aprovar a reforma tributária também causou desconforto.
Com isso, o dólar chegou a bater na máxima do dia em R$ 5,67, o maior valor diário desde 21 de maio, quando foi a R$ 5,70. Nesse ambiente de nervosismo, o Banco Central precisou intervir e vendeu US$ 877 milhões no mercado à vista, no primeiro leilão neste segmento desde 21 de agosto. Assim, o dólar arrefeceu o ritmo de valorização, ajudado também pelo fato de a oferta do BC ter coincidido com perda de fôlego da moeda americana no mercado internacional. No final do dia, o dólar à vista encerrou com valorização de 1,44%, cotado em R$ 5,6353, o maior nível desde o fechamento de 20 de maio. No mercado futuro, o dólar para outubro era negociado em R$ 5,6370 às 17h, em alta de 1,32%.
"O dólar teve um comportamento ruim hoje entre os emergentes mais frágeis, mesmo com o dia de busca por ativos de risco em Nova York", destaca um diretor de tesouraria. Como reflexo, a moeda americana teve as maiores altas do dia ante o real e a lira turca (+1,67%).
No mercado doméstico, a situação piorou após a divulgação do plano de uso de precatórios pra financiar o Renda Cidadã, ressalta este executivo. "A noticia foi muito mal recebida pelo mercado em geral." Segundo o governo, o plano é financiar o programa com o dinheiro reservado no Orçamento para o pagamento de precatórios e com recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), o principal mecanismo de financiamento da educação.
O gerente de Tesouraria do Travelex Bank, Felipe Pellegrini, destaca que o dia no mercado de câmbio foi "nervoso", com o anúncio do financiamento do programa Renda Cidadã provocando "indisposição", fazendo o investidor buscar proteção no dólar. "Vamos ter que aguardar cenas do próximo capítulo. O problema é como fica o Orçamento", disse ele. Outro risco no cenário, principalmente para o longo prazo, é ficar sem a reforma tributária, afirmou ele.
Para o executivo do Travelex, o BC mostrou que está atento ao intervir hoje no mercado, embora se esperasse que a atuação também ocorresse na semana passada. Com a venda no mercado à vista, o BC conseguiu arrefecer a alta, mas ele não muda a tendência para a moeda, ressalta Pellegrini, destacando que o dólar oscilar em um regime de câmbio flutuante não é problema, a preocupação é quando estes movimentos são muito rápidos. Após testar os R$ 5,65 hoje, Pellegrini avalia que a moeda ainda não mostra tendência de reversão mais acentuada na expectativa pelos próximos acontecimentos. Poderia voltar para a casa dos R$ 5,40 com alguma notícia positiva.
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