SÃO PAULO - Apesar de ter começado o dia em queda, o dólar reverteu o movimento e fechou em alta de 1,11%, atingindo a marca de R$ 5,652 nesta segunda-feira (1°), em dia de forte avanço nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano, os chamados "treasuries", no exterior. Com a nova marca, a moeda americana renovou seu maior valor nominal desde janeiro de 2022.
A alta dos treasuries ocorre em meio a tensões sobre a corrida eleitoral dos Estados Unidos. Na semana passada, houve o primeiro debate entre os candidatos à presidência, e a performance do democrata Joe Biden foi considerada desastrosa, numa vitória para seu oponente, Donald Trump.
O aumento nos rendimentos dos treasuries, que atingiram o maior valor em um mês, beneficia o dólar pois aumentar a atratividade da renda fixa americana, considerada bastante segura. Assim, mercados de maior risco, como países emergentes, acabam sendo penalizados.
A depreciação do real estava em linha com o movimento de outras divisas globais. A maioria das principais moedas do mundo também registrava queda ante o dólar nesta segunda, com o won sul-coreano e o rand sul-africano figurando, ao lado da moeda brasileira, entre as maiores perdas do dia.
Nesta semana, o mercado americano aguarda a divulgação de novos dados de emprego do país, que podem ajudar a alinhar apostas sobre o futuro da política de juros dos EUA.
No Brasil, as preocupações com as contas públicas e com a condução da política monetária seguem no radar.
O mercado repercutiu nesta segunda o mais recente boletim Focus, do Banco Central, que aumentou para R$ 5,20 a sua previsão para o dólar no fim deste ano. Na semana anterior, a expectativa era que a divisa fechasse 2024 em R$ 5,15.
Houve, ainda, alta nas previsões de inflação: agora, os analistas consultados pela pesquisa passaram a prever um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 4% no fim deste ano, numa alta de 0,02 ponto. Foi a oitava semana seguida de aumento na projeção. Em 6 de maio, os economistas previam que a inflação seria de 3,72% no ano.
Nas últimas semanas, a moeda norte-americana tem acumulado uma série de ganhos ante o real, uma vez que os investidores seguem preocupados com o rumo das contas públicas brasileiras e com as críticas do presidente Lula à condução da política monetária pelo Banco Central.
Nesta segunda (1º), Lula voltou a citar a autoridade monetária em entrevista ao afirmar que quem quer o BC autônomo é o mercado. Ele disse, ainda, que o próximo presidente da autarquia olhará o Brasil da forma que o país realmente é, e não do jeito que o mercado financeiro fala.
Lula também afirmou que não dá para o presidente do BC ser mais importante que o presidente da República.
"Eu estou há dois anos com o presidente do Banco Central do [ex-presidente Jair] Bolsonaro, não é correto isso", disse o presidente, em entrevista à rádio Princesa.
No acumulado do mês de junho, o dólar registrou alta de 6,48%. No ano, a moeda americana registra alta de mais de 15% ante o real.
"Houve certa reação [de baixa do dólar] mais cedo, mas nada muito expressivo", pontuou o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado. "Nada mudou. O Brasil segue com dificuldades, com o desafio fiscal interno, e o presidente Lula falou hoje de novo sobre o Banco Central. Não tem como o dólar cair muito, ou [como] os juros [cederem]", acrescentou.
Na Bolsa, o dia foi de alta firme, com impulso principalmente da Vale e da Petrobras, as duas empresas de maior peso do Ibovespa, em dia de alta das commodities no exterior. Com isso, o principal índice da Bolsa brasileira subiu 0,65%, aos 124.718 pontos.
A Sabesp e a Equatorial também registraram bons desempenhos, subindo 4,24% e 4,36%, respectivamente, e ficaram entre as mais negociadas da sessão, após a elétrica ter sido oficializada como a única interessada em ser investidora de referência no processo de privatização da companhia de saneamento.
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