O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, voltou a criticar nesta sexta (17) propostas para elevação dos imposto sobre a gasolina. Segundo ele, eventual medida nesse sentido pode afetar o abastecimento de gás de cozinha, que já vem enfrentando dificuldades.
Em entrevista pela internet para comentar impactos da pandemia nas operações da empresa, voltou a criticar lobbies por benefícios ou subsídios do que chama de "capitalistas inimigos do capitalismo". Disse ainda que a Petrobras não vai quebrar e que sairá mais forte da crise.
O aumento dos impostos sobre a gasolina é pleito do setor de cana-de-açúcar, com o objetivo de garantir maior competitividade para o etanol em um cenário de baixos preços do petróleo. Na quarta (16), Castelo Branco já havia comentado que "não é hora" para o debate.
Nesta sexta, ele subiu o tom do alerta, argumentando que o GLP (gás liquefeito de petróleo, o gás de cozinha) é produzido junto com a gasolina nas refinarias da estatal, que já vêm operando com capacidade reduzida para controlar os estoques em meio à queda da demanda.
"Redução da demanda de gasolina implica em redução da produção de GLP e a necessidade de importação de GLP para abastecer o seu mercado", afirmou o presidente da Petrobras em entrevista coletiva para falar dos impactos da crise sobre as operações da companhia.
A estatal vem reforçando as importações de gás de cozinha para compensar a perda da produção interna, mas Castello Branco diz que a infraestrutura para colocar o produto importado no mercado brasileiro é limitada.
"Nesta época do ano, a demanda por GLP tende a aumentar de forma sazonal, principalmente no Sul e no Sudeste. A hipótese de vir a se colocar imposto de importação sobre a gasolina para beneficiar produtores de etanol pode ter efeito muito negativo."
Ele ressaltou, porém, que no momento não há riscos de desabastecimento, embora revendedores alertem para problemas na entrega do produto em algumas regiões. "No mês de abril, importamos 350 mil toneladas, o que é mais do que suficiente para abastecer o mercado", afirmou.
O presidente da Petrobras disse que a possibilidade de aumento na operação das refinarias é limitada pela falta de capacidade para estocar os produtos. "Teríamos que afretar navios para simplesmente guardar estoques. Isso implicaria em sérios prejuízos."
A companhia ainda não avaliou os impactos da crise em seu balanço. O foco, diz Castello Branco, é se preparar para enfrentar o curto prazo com dinheiro em caixa. Por isso, desde o início da pandemia, a empresa vem adotando uma série de medidas de corte de custos.
A projeção de investimentos para 2020 foi reduzida em quase 30%, dividendos e bônus para executivos foram suspensos e os salários de cargos de chefia, reduzidos. A companhia também vem renegociando contatos com fornecedores de bens e serviços.
Por outro lado, a empresa acionou uma linha de crédito no valor de US$ 8 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões). A diretora financeira da estatal, Andrea Marques de Almeida, disse que, caso seja necessário, um novo financiamento pode ser tomado. Ela também evitou fazer projeções, mas disse que dificilmente a companhia atingirá sua meta de endividamento para o ano, de 1,5 vezes a geração de caixa medida pelo Ebitda.
Para enfrentar a queda do consumo, a Petrobras decidiu também reduzir sua produção de petróleo, paralisando 62 plataformas menos rentáveis. De acordo com o diretor de Exploração e Produção, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, o teto de produção de 2,07 milhões está sendo respeitado.
Ele disse, porém, que a operação no pré-sal se mantém rentável com o petróleo no cenário atual. "Temos uma carteira muito robusta, particularmente no pré-sal", afirmou. "Mesmo num cenário de US$ 20 (R$ 105) por barril, a carteira é robusta."
A produção vem sendo afetada também pela contaminação de trabalhadores em plataformas. Atualmente, duas unidades da empresa estão paradas para desinfecção. De acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), 78 trabalhadores que estiveram em plataformas já tiveram confirmação de Covid-19.
A estatal diz que vem adotando medidas para reduzir os riscos de contaminação, mas admitiu nesta sexta a possibilidade de iniciar um processo de testagem prévia dos embarcados, conforme vem sendo solicitado pelos sindicatos de petroleiros.
"Na medida em que há evolução no quadro e a gente identificar da testagem prévia, é uma possibilidade. Já estamos discutindo com a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e conversando com fornecedores de testes, de maneira que possa passar a testar todos os empregados" disse o diretor de Relacionamento Institucional da empresa, Roberto Ardenghy.
Castello Branco disse que o cenário ainda é muito incerto para fazer projeções sobre retomada dos preços ou do consumo. Segundo ele, a empresa está se preparando para sobreviver em um cenário mais desafiador. "A Petrobras não vai quebrar", afirmou.
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