Em reunião do conselho de governo nesta quinta-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) determinou que, a partir de agora, cada ministro fale apenas sobre temas diretamente relacionados à sua respectiva pasta. Foi mais um gesto de apoio ao ministro Paulo Guedes (Economia).
Com a decisão, segundo relatos feitos à Folha de S.Paulo, o ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) não teria mais autorização para se pronunciar sobre a formulação de programas sociais, o cumprimento do teto de gastos ou qualquer outra ação ligada ao Ministério da Economia.
A ordem foi celebrada nos bastidores por membros da equipe econômica, que vinham tendo uma série de atritos com o ministro do Desenvolvimento.
A reunião desta quinta-feira, no Palácio do Planalto, teve foco no alinhamento da equipe após briga pública entre Guedes e Marinho.
Os dois já vinham trocando farpas nos bastidores por discordarem em relação à estratégia de retomada da economia após a pandemia do novo coronavírus. O ministro do Desenvolvimento defende uma ampliação dos gastos públicos com obras, enquanto chefe da Economia quer focar na retomada da atividade por meio de investimentos privados.
Na última semana, a disputa veio a público. Em encontro com analistas e investidores na sexta-feira (2), Marinho disse que Guedes é fraco em temas de microeconomia e defendeu que o novo programa social fique fora da trava do teto de gastos.
Marinho afirmou que as declarações foram distorcidas, mas isso não foi suficiente evitar um desgaste dentro do governo.
No mesmo dia, perguntado sobre as declarações, o ministro da Economia chamou o colega de despreparado, desleal e fura-teto, em referência a uma suposta tentativa de desrespeitar a regra do teto de gastos, que limita as despesas do governo à variação da inflação.
No domingo (4), a Folha de S.Paulo antecipou a intenção do presidente de repreender Marinho por causa das críticas feitas a Guedes.
Na segunda-feira (5), Bolsonaro chamou Marinho no Palácio da Alvorada. Segundo relatos de assessores palacianos, o presidente condenou a atitude do ministro e pediu que, pelo menos no curto prazo, ele evite conceder entrevistas ou fazer declarações públicas.
O recado foi reafirmado na reunião ministerial. O presidente deixou claro que trocas públicas de críticas entre integrantes de sua equipe não serão admitidas.
A aliados, Marinho tem ressaltado que, na reunião, não houve menção clara a ele e que, para evitar mais atritos, Guedes não fez um discurso que estaria previsto.
No Palácio do Planalto, apesar de haver uma resistência a Guedes na cúpula militar, a postura de Marinho foi classificada como um gesto descabido e de traição do ministro à equipe do presidente.
Apesar da insatisfação, Bolsonaro disse que não pretende trocar nem Guedes nem Marinho, mas ressaltou que a disputa entre os dois precisa ser superada.
A irritação de Guedes com Marinho já havia se intensificado antes da briga pública. Na busca por saídas para o novo programa social do governo, o ministro da Economia disse a interlocutores que Marinho havia sugerido furar o teto de gastos em R$ 70 bilhões.
Nesse momento, Guedes teria determinado uma força-tarefa para vasculhar o Orçamento em busca de recursos, na tentativa de evitar a burla à regra fiscal.
Foi nessa busca, segundo auxiliares do ministro, que teria surgido a ideia de reavaliar gastos com precatórios, dívidas do governo reconhecidas pela Justiça.
O novo programa social chegou a ser anunciado com fonte de custeio diretamente ligada à limitação dos precatórios, o que não estava nos planos da Economia. Após forte reação negativa do mercado e críticas de especialistas e parlamentares, o governo recuou e agora busca novas fontes para bancar o programa.
Marinho, segundo integrantes do governo, se irritou com a atitude de Guedes em meio à polêmica sobre a paternidade da proposta de travar o pagamento de precatórios, o que foi considerado pelo mercado financeiro como um calote.
Guedes e o relator do Orçamento, senador Márcio Bittar (MDB-AC) se desentendiam sobre de onde surgiu a ideia. Marinho, que tem forte ligação com o Congresso, chegou a afirmar que a sugestão partiu do ministro da Economia, cuja equipe transferia a paternidade a Bittar.
Após a confusão, Guedes reconheceu que a ideia de usar os precatórios foi "um vírus que vazou do laboratório da Economia", mas ponderou que a finalidade da proposta acabou desvirtuada.
Na sexta (2), Marinho, em nota, disse que "não foram feitas desqualificações ou adjetivações de qualquer natureza contra agentes públicos, nem tampouco às propostas já apresentadas".
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