O dólar emendou nesta quinta-feira, 18, a quarta sessão seguida de alta, em dia marcado por fortalecimento da moeda americana frente a emergentes, sobretudo por conta do aumento das apostas em alta dos juros nos EUA no primeiro semestre de 2022, e recrudescimento dos riscos fiscais domésticos. Teme-se que a apresentação de um novo texto da PEC dos Precatórios no Senado atrase a aprovação definitiva da proposta e faça o governo lançar mão de créditos extraordinários para bancar o Auxílio Brasil.
Operadores ressaltam que o clima de incerteza diminui a liquidez e aumenta a demanda por posições defensivas. O contrato futuro de dólar futuro para dezembro - termômetro do apetite por negócios - movimentou menos de US$ 10 bilhões, bem aquém da faixa tradicional, entre US$ 13 bilhões e US$ 15 bilhões.
Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar rompeu o nível R$ 5,55 ainda pela manhã e, ao longo da tarde, correu até a linha de R$ 5,57. A despeito da pressão altista, a faixa de oscilação foi estreita, com pouco mais de cinco centavos entre a mínima (R$ 5,5259) e a máxima (R$ 5,5776). No fim da sessão, o dólar era cotado a R$ 5,5699, em alta de 0,83%. Com isso, a moeda já avança 2,07% nesta semana. No mês, contudo, ainda apresenta queda de 1,35%.
Ontem à noite, senadores do PSDB, Podemos e Cidadania apresentaram uma proposta alternativa para a PEC dos Precatórios O texto mantém a mudança na fórmula de correção do teto de gastos, mas retira R$ 89 bilhões em pagamentos de precatórios de 2022 do guarda-chuva do teto. A nova versão abre um espaço de R$ 64 bilhões no orçamento, que seriam destinados ao Auxílio Brasil Prevê também o fim das emendas do relator, principal moeda de troca do Planalto com parlamentares aliados.
Se a proposta alternativa vingar no Senado, a PEC terá que ser novamente apreciada na Câmara dos Deputados, o que atrasaria ainda o desenlace da questão, fundamental para uma definição do Orçamento de 2022. Ontem à noite, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que seria um erro grave tirar os precatórios do teto, em alusão à proposta de senadores. Fontes ouvidas hoje pelo Broadcast afirmaram que a bancada do PSD no Senado deve se posicionar e apoiar mudanças na PEC para evitar uma "farra fiscal".
Na avaliação do operador Hideaki Iha, da Fair Corretora, era de se esperar uma correção do dólar como a observada nos últimos dias, já que a queda recente foi fruto, em especial, de zeragem de posições na esteira de uma "euforia inexplicável" do mercado com a aprovação da PEC dos Precatórios em segundo turno na Câmara. "Com toda essa incerteza fiscal, crescimento baixo e inflação elevada, não dá para imaginar o dólar para baixo", diz Iha, ressaltando que, apesar da taxa Selic mais elevada, não se vê apetite grande por operações para arbitrar diferencial entre taxa de juros interna e externa.
Para Iha, com o impasse em torno da PEC dos Precatórios e o pendor populista do presidente Jair Bolsonaro, que já mira a eleição de 2022, é possível que o governo adote algum expediente, como extensão do auxílio emergencial via crédito extraordinário, para bancar transferências de renda à população. "Com esse quadro, o dólar deve continuar pressionado e pode buscar novamente R$ 5,60", afirma.
Diferentemente de outras ocasiões, o real não liderou o ranking das perdas entre as divisas emergentes, papel que coube à lira turca - na esteira da decisão do BC da Turquia de reduzir os juros -, seguida pelo rand sul-africano. O índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em leve queda, sobretudo por conta da valorização do euro, mas ainda em níveis elevados, na casa dos 95,500 pontos.
As pressões inflacionárias nas economias desenvolvidas, em especial nos Estados Unidos, aumentam as chances de uma antecipação do movimento de normalização da política monetária, o que diminui o apelo dos ativos de risco e respinga nas moedas emergentes. Nos EUA, é grande a expectativa pela decisão do presidente Joe Biden sobre a permanência de Jerome Powell à frente do Fed, já que o mandato do dirigente expira em fevereiro do ano que vem.
Hoje, o presidente do Fed de Nova York, John Willians, afirmou que o núcleo da inflação americana aumentou mesmo excluindo os efeitos de base e que é necessário equilibrar o choque de demanda com o de oferta. O presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, disse que a alta de juros pode vir após o fim do 'tapering', em meados de 2022 ou em 2023, mas ressaltou que, se as expectativas de inflação aumentarem, a política monetária terá que ser mais restritiva.
Em relatório, o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, ressalta que dados positivos de indústria e emprego nos EUA mantêm pressão sobre as taxas futuras americanas, que espelham mais de 30% de chance de que o Fed promova uma alta de juros já em maio do ano que vem. A aposta em elevação dos Fed Funds em junho de 2022 já é majoritária, com mais de 60%.
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