A Embraer afirma que estuda novas parcerias internacionais, inclusive para a produção conjunta de novos aviões, após a Boeing romper o acordo para a compra de sua área de aviação comercial.
"Estamos revendo nossa estratégia para os próximos cinco anos, e sem dúvida alguma há iniciativas para potenciais parcerias. Eventualmente, até parceria para produção, mas é muito cedo", afirmou o presidente da empresa, Francisco Gomes Neto.
Ele não quis detalhar quais seriam os eventuais parceiros. Sem a Boeing e com a europeia Airbus já tendo comprado a linha de aviação regional da Bombardier, rival canadense da Embraer, sobram no mercado empresas emergentes da China, Japão, Índia e Rússia.
A principal dela é a estatal chinesa Comac, mas há diversos óbices políticos para uma associação mais ampla com Pequim, especialmente porque a Embraer estaria sujeita a embargos a peças de origem americana em seus aviões.
A fabricante paulista registrou um prejuízo líquido ajustado de R$ 434 milhões no primeiro trimestre deste ano, ante uma queda de R$ 230 milhões registrada no mesmo período do ano passado. O prejuízo líquido total foi de R$ 1,276 bilhão, ante R$ 160,8 milhões negativos de janeiro a março de 2019.
A empresa enfatizou mais o impacto do processo de separação de sua área comercial, que seria vendida para a Boeing, do que a pandemia da Covid-19 pelo mau resultado.
O negócio foi abortado pelos americanos em abril, após mais de dois anos de negociações, sob a alegação de que os brasileiros não cumpriram todos os requisitos para a venda no prazo estipulado.
A Embraer contesta essa versão e diz que a Boeing desistiu do negócio por seus próprios problemas financeiros - a gigante americana enfrenta a maior crise de sua história, com a paralisação da produção de seu principal produto, o 737 MAX, e os impactos da pandemia no setor aéreo.
Em janeiro, a fabricante paulista paralisou suas atividades para finalizar o processo de separação, além de ter tido de pagar impostos a mais. O gasto de separação foi de R$ 97 milhões só neste ano.
A separação é litigiosa. A Embraer abriu um procedimento arbitral em Nova York contra a Boeing, que deverá começar a ser instruído nos próximos dois meses. Em 2019, o processo de segregação da área comercial custou R$ 485,5 milhões aos brasileiros.
A pandemia, contudo, teve impacto financeiro de R$ 108,6 milhões em variações negativas no valor da participação que a empresa tem na Republic Airways Holdings e de R$ 163,1 milhões em provisões para devedores duvidosos no contexto da Covid-19.
O primeiro trimestre é tradicionalmente mais fraco em entrega de aeronaves, mas o tombo foi ainda maior neste ano. Enquanto 11 aviões comerciais e 11 jatos executivos foram entregues no mesmo período de 2019, agora foram 5 e 9 unidades, respectivamente.
Ao longo de todo o ano passado, a Embraer entregou 89 aeronaves comerciais e 109 jatos executivos. Segundo a empresa, os próximos meses serão dedicados à reinserção dos processos produtivos que foram separados durante todo o ano de 2019.
A pandemia, segundo Gomes, não provocou nenhum cancelamento de pedido até aqui. "Houve postergações de entregas", disse ele, afirmando acreditar que a Embraer está bem posicionada para a retomada do setor aeronáutico após a pandemia.
Haverá uma demanda por aviões menores, já que o crescimento deverá ser bastante lento -analistas especulam até cinco anos para a volta ao ritmo de viagens aéreas no mundo. As incertezas sobre o mercado, contudo, fizeram a Embraer não divulgar previsão de entregas para este ano.
A área de defesa segue investindo pesadamente no seu principal produto, o cargueiro C-390 Millennium, que já está em operação na Força Aérea Brasileira - duas unidades serão entregues neste ano. O avião seria vendido por uma joint-venture específica com a Boeing, que também foi desfeita com o fim do negócio.
A Embraer não comentou acerca da possibilidade de acessar uma linha de crédito de R$ 3,3 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de bancos privados já em junho, conforme divulgou no domingo (31) a agência Reuters.
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