O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta segunda-feira (26) que a engrenagem política não tem permitido deslanchar sua agenda de privatizações. Para ele, escândalos de corrupção observados nas estatais já deveriam ter convencido a população sobre a necessidade das vendas.
"Há privatizações que não conseguimos fazer. Há acordos políticos que dificultam, há uma mentalidade cultural equivocada", afirmou em evento virtual da Academia Brasileira de Direito Constitucional.
"De alguma forma essa nossa dificuldade de criar um caminho de prosperidade em um país rico em recursos naturais está ligada à nossa prisão cognitiva. Somos prisioneiros cognitivos de uma visão de mundo que está obsoleta", afirmou o ministro.
Guedes já chegou a culpar publicamente o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pela demora nas privatizações. Mas há uma série de vendas que dependem apenas do Executivo e que também não mostram avanços.
Há pouco mais de um mês, conforme informou a Folha de S.Paulo, Guedes informou a aliados que sua equipe discutiria com o Palácio do Planalto indicações a empresas estatais e outros órgãos.
O movimento foi relatado após a saída de Salim Mattar (ex-secretário de Desestatização), responsável por privatizações e por barrar indicações consideradas perigosas.
A visão expressa foi que Mattar saía e o centrão chegava. Mattar, que culpava o "sistema" pela demora nas vendas, saiu do cargo e passou a atribuir a culpa pela demora também a Bolsonaro.
Guedes fez nesta segunda uma palestra em que teceu hipóteses sobre uma suposta generosidade do homo sapiens ao longo de sua evolução, falou sobre a Guerra do Peloponeso, comentou a Idade Média, passou pela perestroika soviética e chegou ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Para o ministro, é preciso respeitar o presidente porque ele venceu as eleições de 2018. "Um democrata tem que esperar a vez. Pede a senha, entra na fila e mude se quiser. Você não pode simplesmente interditar o governo que tem 60 milhões de votos", afirmou o ministro.
Guedes disse que Bolsonaro é um democrata e que comprova essa visão o fato de o presidente já ter exercido por mais de 20 anos o cargo de deputado. Para o ministro, é natural de uma democracia haver divergências sobre a obrigatoriedade da vacina contra o vírus da Covid-19.
"É natural que haja diferença de opinião. Acho que na Coreia do Norte não tem nenhuma dúvida se tem que tomar vacina ou não. Tem uma pessoa para tomar decisão e quem tem juízo obedece", afirmou. "Temos que celebrar essas diferenças de opinião, desde que sem ódio e sem intolerância", disse.
Para ele, as sociedades mais prósperas são as democráticas. "O resultado real de sociedades que foram para esse caminho [de autoritarismo] não foi historicamente bem-sucedido", afirmou.
"Muitos falam que a China está indo bem, mas porque ela entrou nos mercados globais. Ela tem que passar no outro teste, que é o da liberdade de seus cidadãos, para ver se aquilo é durável ou não", disse.
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