A escalada do preço do óleo diesel espalha uma série de reflexos em setores diversos da economia brasileira: do transporte de cargas e passageiros até a produção de alimentos no campo.
Neste ano, o combustível já acumula alta de 65% nas refinarias da Petrobras, o que gera uma pressão até as bombas dos postos.
O diesel mais caro, ao elevar os custos do transporte de cargas nas rodovias, levou a uma onda de críticas dos caminhoneiros à política de preços da estatal.
Parte da categoria chegou a organizar uma greve no começo deste mês, mas a paralisação não ganhou corpo.
Na hora de definir os preços dos combustíveis nas refinarias, a Petrobras leva em consideração o comportamento do petróleo no mercado internacional e a variação do dólar. Trata-se de uma política de paridade.
Com a retomada da economia mundial, após restrições para frear a Covid-19, a demanda por petróleo aumentou ao longo dos meses. Assim, a cotação do barril passou a subir, impactando os preços no Brasil.
Além disso, o avanço do dólar, acima de R$ 5, gera uma pressão adicional para os combustíveis.
"O real está desvalorizado. O descompasso frente ao dólar se reflete nos preços", diz o economista Marcio Sette Fortes, professor do Ibmec-RJ.
Entre os dias 24 e 30 de outubro, o valor médio do diesel nos postos brasileiros foi de R$ 5,211 por litro, indica pesquisa da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis). A marca representa avanço de 43,6% frente ao final do ano passado (R$ 3,628).
O diesel mais alto também eleva as despesas de empresas que realizam o transporte de passageiros. No dia 28 de outubro, operadoras de ônibus urbanos criticaram o governo federal e a política de preços da Petrobras.
"Preço do diesel mostra que o governo quer ônibus lotado e serviço ruim", afirmou na ocasião a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), que representa o setor.
A alta do insumo ocorre no momento em que o transporte de passageiros tenta se recuperar do baque causado pela pandemia. Segundo a NTU, as operadoras de ônibus urbanos amargam um prejuízo acumulado de pelo menos R$ 17 bilhões durante a crise sanitária.
"A omissão do governo federal frente aos sucessivos reajustes do óleo diesel, insumo que representa em média 26,6% do custo do transporte público coletivo, está forçando a insolvência das empresas operadoras", disse a NTU.
No campo, o combustível é insumo para a operação de máquinas agrícolas, além de ser usado no transporte de mercadorias em caminhões. Ou seja, ao subir, encarece os custos de produção de alimentos.
"O diesel alto tem um efeito de médio e longo prazo na economia, maior do que o da gasolina. Impacta desde o transporte de cargas e passageiros até bens industriais e in natura", afirma o economista Matheus Peçanha, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Segundo ele, o combustível tende a permanecer em nível elevado pelo menos até o começo do próximo ano.
A perspectiva está relacionada ao processo de reabertura da economia internacional. O movimento deve seguir nos próximos meses, mantendo a demanda por petróleo aquecida, segundo o pesquisador.
Em meio à escalada de preços no Brasil, o Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária), colegiado que reúne governo federal e secretários de Fazenda dos estados e do Distrito Federal, aprovou o congelamento, até o final de janeiro, do valor do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cobrado nas vendas de combustíveis.
De acordo com especialistas, a medida tem efeito limitado, já que não impede novos avanços para o consumidor.
"A perspectiva é de os combustíveis continuarem muito pressionados. O ICMS não é a causa do aumento dos preços. O que provoca a alta é o aumento do barril de petróleo e do dólar", aponta Peçanha.
A moeda americana voltou a ganhar força na reta final deste ano com o cenário de incertezas fiscais. As dúvidas sobre as contas públicas aumentaram após o governo federal decidir driblar o teto de gastos para pagar o Auxílio Brasil.
"Estamos em um cenário de retomada da economia no mundo, e pode haver nova elevação do petróleo. Isso poderia ser compensado com o dólar em um patamar mais baixo", analisa Fortes.
O avanço dos combustíveis joga pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) às vésperas do ano eleitoral. Nas últimas semanas, Bolsonaro passou a fazer críticas à Petrobras, chegando a dizer que a estatal deveria ter um "viés social" e lucrar menos.
A empresa, por sua vez, argumentou que seus resultados positivos beneficiam toda a sociedade, com a distribuição de dividendos à União, pagamento de impostos e investimentos.
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