O crescimento recorde de 7,7% da economia brasileira no terceiro trimestre de 2020, na comparação com os três meses anteriores, divulgado nesta quinta-feira (3) pelo IBGE, foi influenciado pela base de comparação, devido à queda recorde verificada entre abril e junho deste ano.
A variação também é resultado de uma economia que, como na maior parte do mundo, retomou boa parte das atividades que ficaram fechadas ou com restrições durante os três meses anteriores por causa da pandemia do novo coronavírus.
O dado reflete ainda um pacote de estímulos fiscais para enfrentar a pandemia que está entre os maiores do mundo, cerca de R$ 400 bilhões naqueles três meses (25% do PIB do trimestre), juros baixos e um cenário externo favorável para as exportações brasileiras.
O resultado também está em linha com o verificado em outros países. Segundo dados compilados pela OCDE, entre as 30 economias que já divulgaram o resultado do terceiro trimestre, o crescimento do PIB ficou em 8,5% na média.
Apesar do crescimento recorde do PIB, a economia brasileira ainda não voltou ao nível pré-crise e se encontra no menor patamar dos últimos dez anos, que devem se encerrar como uma nova década perdida.
A expectativa agora é de um crescimento mais lento nos últimos três meses deste ano e de retorno ao patamar de 2019 em algum momento de 2021 ou 2022.
O PIB é uma medida da produção de bens e serviços do país em um determinado período, e a sua queda é utilizada como sinônimo de retração da economia.
Em junho, o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), órgão ligado ao Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e formado por oito economistas de diversas instituições, definiu que o Brasil entrou em recessão no primeiro trimestre de 2020, encerrando um ciclo de fraco crescimento de três anos (2017-2019). A expectativa é que a recessão atual seja curta, mas com intensidade recorde, considerando dados dos últimos 40 anos.
Não há uma definição oficial sobre o que caracteriza uma recessão. Embora alguns economistas utilizem a métrica de que esse é o período marcado por dois trimestres seguidos de queda na atividade, o Codace considera uma análise mais ampla de dados. Para o comitê, o declínio na atividade econômica de forma disseminada entre diferentes setores econômicos é denominado recessão.
O PIB brasileiro caiu 9,2% no segundo trimestre deste ano. Então, o crescimento de 7,7% no terceiro trimestre não conseguiu compensar essa perda do mês anterior. O efeito foi estático por ter ocorrido com base em um dado menor. O problema é que a economia voltou, sem recuperar as perdas do período mais crítico da pandemia.
Os dados do IBGE mostram que nem todos os setores estão conseguindo recuperar as perdas, um deles por exemplo é o de serviços, um dos segmentos mais abalados pela crise. O comércio um setor que cresceu mesmo na crise também não apresentou avanço homogêneo. Alguns setores como o de roupas teve desempenho negativo enquanto o de material de construção batia recordes.
O auxílio emergencial no valor de R$ 600 ajudou a impulsionar a economia nacional, mas desde a queda do valor do benefício o consumo tem também registrado crescimento num ritmo menor. O fim do benefício, que deixa de ser pago em janeiro, poderá afetar esse crescimento. Mas o economista Bruno Funchal, atual secretário do Tesouro Nacional, disse em entrevista para A Gazeta que o crescimento econômico não pode ser pautado no endividamento.
A taxa de desemprego no país atinge 14,6% no país, segundo a Pnad Mensal do IBGE. Mas especialistas estimam que o indicador deverá alcançar até 17% por conta da pandemia.
A segunda onda da Covid-19 na Europa e nos Estados Unidos, país, aliás, que bateu recorde de mortes nos últimos dias, preocupa especialistas, que temem a chegada de uma nova leva de infecção antes que a vacina seja aplicada na população. Um aumento no número de infectados e de mortes pode acabar levando a novas restrições. Com incertezas sobre a doença, existe a preocupação de o governo ter que acabar aumentando seu endividamento para socorrer cidades, Estados e também trabalhadores vulneráveis.
O país deve fechar com uma dívida pública próxima a 100% do PIB. Esse alto endividamento eleva os juros por conta do risco de descontrole fiscal e não agrada o investidor, agente essencial para ajudar no avanço da economia.
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