RIO DE JANEIRO - A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou para 0,23% em maio, após subir 0,61% em abril.
Divulgado nesta quarta-feira (7) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o resultado ficou abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 0,33% em maio.
Com a nova variação, o IPCA atingiu 3,94% no acumulado de 12 meses. É o menor nível desde outubro de 2020 (3,92%). A seguir, entenda o que puxou o resultado de maio para baixo.
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, 2 tiveram quedas de preços no mês passado. Foram os seguintes: transportes (-0,57%) e artigos de residência (-0,23%).
Dentro dos transportes, houve pelo menos dois destaques da pesquisa, as passagens aéreas e os combustíveis.
Os preços das passagens caíram 17,73% em maio, após avanço de 11,97% em abril. Segundo o IBGE, o resultado pode ser atribuído à base de comparação alta.
Os combustíveis, por sua vez, tiveram baixa de 1,82% em maio. Houve queda do óleo diesel (-5,96%), da gasolina (-1,93%) e do gás veicular (-1,01%).
Conforme o IBGE, a redução pode ser associada ao corte nos preços de combustíveis que entrou em vigor em meados de maio nas refinarias da Petrobras.
Individualmente, os principais impactos para baixo no IPCA do mês passado vieram justamente das passagens aéreas (-0,11 ponto percentual) e da gasolina (-0,10 ponto percentual).
Outro fator que ajudou a inflação a desacelerar em maio foi a alta menor dos alimentos. O IPCA do grupo alimentação e bebidas saiu de um avanço de 0,71% em abril para 0,16% no mês passado.
"Trata-se do grupo com maior peso no índice, o que acaba influenciando bastante no resultado geral", disse André Almeida, analista da pesquisa do IBGE.
Em alimentação e bebidas, o principal destaque foi a alimentação no domicílio, que passou de alta de 0,73% no mês anterior para estabilidade em maio (0%).
Houve queda nos preços das frutas (-3,48%), do óleo de soja (-7,11%) e das carnes (-0,74%).
Segundo analistas, a trégua dos alimentos está associada em parte a melhores condições de oferta. Em 2023, o clima beneficiou a produção de diferentes culturas.
O IPCA só não desacelerou mais em razão de fatores como a pressão de parte dos preços monitorados. São itens cujos valores dependem de decisões de órgãos públicos.
Individualmente, as maiores pressões para cima no IPCA vieram da alta dos jogos de azar (12,18%), que subiram após autorização de reajuste médio de 15% no valor das apostas, da taxa de água e esgoto (2,67%) e dos planos de saúde (1,20%).
Cada um teve impacto de 0,05 ponto percentual na inflação de maio.
Segundo economistas, a trégua do IPCA reforça a pressão pelo corte da taxa básica de juros do país (Selic).
O Copom (Comitê de Política Monetária), ligado ao BC (Banco Central), vem mantendo a Selic em 13,75% ao ano como forma de conter a inflação.
"Para a próxima reunião do Copom, nos dias 20 e 21 de junho, não se espera alteração na Selic, mas aumenta a expectativa por sinalização mais clara de que o ciclo de baixa venha a seguir", disse o economista Alexsandro Nishimura, sócio do escritório de assessoria de investimentos Nomos.
"Com a desaceleração consistente da inflação, a curva de juros deve começar a precificar totalmente um corte na Selic a partir da reunião de agosto", completou.
A economista Claudia Moreno, do C6 Bank, destacou que o IPCA de maio veio "melhor do que o esperado".
A analista também disse que os chamados núcleos de inflação do BC ficaram em linha com o esperado, acumulando uma alta de 6,7% em 12 meses.
Esse patamar, contudo, ainda é considerado elevado e sinaliza que a "inflação mais estrutural" está "resiliente e caindo em ritmo lento", segundo a economista.
Os núcleos de inflação excluem elementos voláteis e não recorrentes sobre os preços, como uma seca, por exemplo.
Representam um fator de relevância para o BC no momento de decidir o patamar da taxa básica de juros. Em outras palavras, procuram captar tendências para os preços.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, avaliou na segunda-feira (5) que a inflação está melhorando, mas ainda de forma lenta, principalmente no caso dos núcleos.
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