A demora para finalizar a negociação de um pacote de socorro com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a lenta retomada da demanda por voos influenciaram a decisão da Latam Brasil de incluir a filial no processo de recuperação judicial do grupo nos Estados Unidos nesta quinta (9), segundo o presidente da empresa, Jerome Cadier.
"Em maio, a gente imaginava que estávamos mais próximos de encontrar um meio termo que satisfizesse o banco e a Latam para o financiamento do BNDES, e isso até agora não aconteceu. A gente esperava que isso acontecesse no fim de junho, e não se materializou", afirmou o executivo à Folha de S.Paulo.
Pessoas familiarizadas com as tratativas disseram à reportagem que o BNDES foi pego de surpresa pelo anúncio da Latam. O banco tem buscado uma solução única de financiamento para atender Azul, Gol e Latam, o que na visão de Jerome Cadier não é o ideal.
Com o ingresso oficial da Latam Brasil no processo de reestruturação negociado pela holding chilena do grupo nos EUA, a empresa pode obter recursos por meio de outros financiamentos por meio de empréstimos DIP (Debtor in Possession, que garantem ao credor prioridade no recebimento dos créditos).
"Existe um receio natural do BNDES de tomar decisões diferentes das corriqueiras, o DIP não é um mecanismo que o banco está acostumado a usar, como debêntures conversíveis. Temos conversado nas últimas semanas e direcionando as negociações [para um DIP]", afirma.
Com a entrada da Latam Brasil no processo de recuperação judicial, qualquer aporte deve ser feito por meio desse mecanismo, de acordo com o executivo.
O grupo Latam anunciou nesta quinta que formalizou a proposta de um DIP de US$ 1,3 bilhão do fundo Oaktree Capital Management. A proposta precisa ser aprovada pela corte de Nova York.
Os recursos complementam o aporte de US$ 900 milhões anunciados em maio pela empresa, prometido pela Qatar Airways e pelas famílias Cueto e Amaro, controladoras da empresa.
A retomada da demanda por voos tem sido mais lenta que o esperado, segundo Cadier. A Latam Brasil opera hoje com 20% da sua capacidade e prevê chegar ao fim do ano a níveis entre 50% e 60%.
"A gente não imaginava uma recuperação tão lenta. Ela existe, mas é volátil e muda toda semana. A recuperação, principalmente no internacional, é mais lenta do que tínhamos imaginado", disse o executivo.
A Latam Brasil hoje é a companhia aérea brasileira com a maior fatia da receita vinda de voos internacionais. Segundo Cadier, a empresa tem 1.300 pilotos no Brasil destinados a voar em rotas internacionais, contra 700 que operam voos domésticos.
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