A decisão do governo brasileiro, anunciada na sexta-feira (11), de renovar a cota de importação do etanol dos Estados Unidos de 187,5 milhões de litros sem tarifa por 90 dias vai impor um grande sacrifício ao setor sucroalcooleiro.
A avaliação é do presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Evandro Gussi. Por conta da redução da mobilidade provocada pela pandemia, neste momento os estoques de etanol estão 43% acima do mesmo período do ano passado e a safra do Nordeste começa a entrar no mercado, o que vai pressionar o preço. "Cada litro de etanol que entrar no Brasil é um problema a mais para o setor."
O que foi apresentado pelo governo para o setor é que a prorrogação da cota isenta de tarifa seria um gesto para permitir uma negociação, capitaneada pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo, mais favorável para as exportações do açúcar brasileiro para os EUA. Apesar de ser o maior exportador, o produto brasileiro tem presença insignificante nos EUA. Isso porque sobre ele é cobrada uma tarifa de importação de 140% "Esperamos que o governo tenha sucesso porque só por isso valeria a pena um sacrifício tão grande como esse neste momento; o mercado americano é muito relevante."
Existem no mercado duas leituras da decisão do governo de prorrogar a isenção de tarifa para o etanol americano. Uma delas é, a do governo brasileiro. Foi divulgada uma declaração conjunta do governo brasileiro e dos EUA, informando que os dois países decidiram realizar "discussões orientadas" para chegar a um "arranjo" que aumente o acesso ao mercado de etanol, no Brasil, e do açúcar, nos Estados Unidos. Segundo o texto, os países também vão considerar um incremento no acesso ao mercado de milho em ambos os países.
A outra leitura do mercado é que a questão do etanol é sensível à campanha de reeleição do presidente americano Donald Trump. O etanol americano é produzido a partir do milho e essa seria uma maneira de Trump conquistar votos dos produtores do grão. "Eu odiaria saber de alguma coisa como essa. O que nos foi a apresentado é que era uma negociação para buscar uma condição de justiça para o açúcar", diz Gussi.
O economista Felippe Serigatti, da FGV/Agro, afirma que o tempo irá dizer qual das duas versões para prorrogação da isenção de tarifa sobre o etanol americano é a verdadeira. "Acho que esse veredicto vai sair mais para frente, se essas negociações para o açúcar prevalecerem ou não. Ele lembra que o aço brasileiro não teve isenção de tarifa dos americanos e, na sua avaliação, estaria faltando um gesto dos Estados Unidos nesse sentido.
Se a prorrogação da isenção de tarifa do etanol americano tiver como contrapartida uma negociação mais favorável ao açúcar, que hoje está com preço em alta no mercado internacional, Serigatti considera decisão positiva. No entanto, se motivo for eleitoral, o economista reprova a decisão. "O governo brasileiro tem que tratar os EUA como país, não ser um apoiador do governo Trump ou de qualquer outro governo."
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