Querer é fácil, difícil é ter dinheiro. Certamente você já ouviu ou até falou essa frase alguma vez na vida. Mas criar uma poupança para conseguir realizar diferentes sonhos não é algo impossível nem coisa só para quem ganha bem. É o que dizem especialistas em educação financeira, que garantem que todo mundo pode construir uma reserva desde que faça isso com planejamento e levando em conta o tipo de objetivo que quer alcançar.
E os sonhos são muitos. Comprar a casa própria ou um carro, casar e até mesmo viajar pelo mundo. Para qualquer um deles, no entanto, as primeiras dicas são comuns: definir um prazo e ter disposição para mudar os hábitos financeiros.
Isso é o que tem sido feito pelos noivos Fernanda Gomes, 23 anos, e Ramires Biazatti, 25. Eles já estão juntos há mais de cinco anos e tinham o sonho de se casar. O primeiro passo foi definir quando, e escolheram novembro deste ano. Depois, ainda no início de 2018, iniciaram o planejamento para conseguir bancar a festa e a lua de mel. E, desde então, até vender chup-chup no carnaval para juntar dinheiro eles já fizeram.
Iniciamos o planejamento quando noivamos. Nos apertamos nos gastos para sobrar um pouco mais dos nossos salários e vendemos sacolé no último carnaval. E ainda pensamos em fazer rifas mais para frente. Aos poucos vamos chegando ao valor total e tem sido bom porque já está dando para ir pagando alguns fornecedores, conta Fernanda.
Essa apertada nas finanças domésticas e até mesmo os trabalhos extras são as melhores opções para começar a montar esse colchão, explica José Antônio Rezende Alves, professor de Finanças da Faesa. É preciso passar por um processo de reeducação financeira. Botar todas as despesas na ponta do lápis, traças tetos de gastos e contingenciar sua despesa. E coisas simples podem ajudar, como cortar algumas atividades de lazer, economizar na energia e até fazer uma lista com o que falta antes de ir ao supermercado para não sair comprando coisas desnecessárias.
A forma certa de construir e guardar essa reserva, porém, depende muito do tipo de sonho para qual será essa poupança. E por poupança aqui não confunda com a velha caderneta que tem um rendimento fraco perto de outras opções de aplicações que também são acessíveis.
PRAZOS
É a partir da definição de quando alcançar esse objetivo que será possível traçar como chegar até lá, quanto poupar por mês e onde guardar esse dinheiro, conforme aconselha a planejadora financeira da Valor Investimentos, Daniela Cade:
Em nenhuma situação, mesmo que seja um sonho passível de ser realizado em curtíssimo tempo, é aconselhável deixar o dinheiro parado, como debaixo do colchão, apontam os especialista. A caderneta de poupança, apesar da facilidade, também está longe de ser o destino ideal.
Se o objetivo for algo de curtíssimo prazo, há opções conservadoras e com boa rentabilidade, segundo Daniela, como investir no Tesouro Selic e em ativos bancários como um CDB de curto prazo, que possuem uma liquidez melhor (possibilidade de sacar rapidamente sem perder tanto dinheiro). Essas aplicações também são aconselháveis para colocar reservas de emergência.
Já em projetos de até dois anos, considerados de curto-médio prazo, ainda pensando em uma pessoa conservadora, é possível abrir mão da liquidez rápida e com isso ter uma rentabilidade ainda maior, como um CDB com prazo maior.
Os mais longos, com prazos acima de dois anos, contam com opções de investimentos ainda melhores. Nesse caso, alguém com perfil mais arrojado pode optar por investimentos de maior risco, já que haverá tempo para uma recuperação se alguma coisa acontecer.
INVESTIR PODE FAZER CONQUISTA VIR ANTES
Realizar os sonhos é importante e dá um novo gás para viver. Melhor ainda é conseguir tirá-los do papel antes mesmo do tempo estipulado. E para conseguir isso a melhor dica é: faça investimentos. Segundo especialistas em finanças, além de não deixar seu dinheiro parado, com risco de perdas pela inflação, uma boa aplicação como em títulos de renda fixa, por exemplo, possui uma rentabilidade interessante que, no final das contas, pode acabar encurtando o tempo necessário para juntar dinheiro.
Por exemplo: imagine comprar um imóvel de R$ 200 mil, mas agora a sua reserva é de apenas R$ 10 mil. Se você juntar R$ 500 por mês para somar a esse valor inicial, e deixar o dinheiro parado, serão necessários, no mínimo, 31 anos e seis meses para conseguir alcançar o objetivo. Isso sem considerar perdas inflacionárias, já que os R$ 500 de hoje não terão o mesmo poder de compra daqui a tanto tempo.
Mas aplicando essa mesma reserva inicial toda em um título como o Tesouro IPCA com vencimento em 2035, e com aportes mensais de R$ 492,18, em apenas 16 anos seria possível comprar o imóvel e ainda sobrariam cerca de R$ 23 mil. Ou seja, com o objetivo seria alcançado na metade do tempo. E isso ainda não considerando uma carteira de investimentos mais diversificada, composta também por outras aplicações de maior risco que podem ter ganhos ainda maiores. Já para ter esse mesmo rendimento na caderneta de poupança seria preciso um valor de aporte mensal um pouco maior, de R$ 601,66.
Um investimento vai te ajudar a conquistar um objetivo de forma mais eficiente e na maioria das vezes de forma mais rápida. Essa é a grande vantagem. No final, essa pessoa não irá arcar com todo o custo do item que ela vai comprar porque o investimento já rendeu algo e ajudou ela nessa missão de poupar, explica a planejadora financeira da Valor Investimentos, Daniela Cade.
NECESSIDADES
A consultora lembra, porém, que além dos sonhos há outros propósitos de fazer um investimento, tão ou mais necessários quanto. O principal, de extrema importância e que ela aconselha que todos tenham, é para se ter uma reserva de emergência: É preciso ter aquele dinheiro que você pode precisar recorrer de última hora. Mas mesmo sendo uma demanda inesperada que precisa de um dinheiro rapidamente dá para investir esse valor, em ativos mais conversadores, como o Tesouro Selic, que tem segurança, boa rentabilidade e a liquidez rápida que se precisa. Ou seja, de um dia para o outro, numa emergência, é possível fazer o resgate, diz.
O professor de Finanças da Faesa José Antônio Rezende Alves ressalta que essa é a primeira poupança que se deve fazer. O ideal é chegar a uma reserva prudencial que consiga te manter por pelo menos seis meses caso perca sua renda. E dá pra começar poupando de 10% a 15% da renda mensal, aconselha.
Outra necessidade é poupar para a aposentadoria, que é um investimento considerado de longo prazo, mas importante, sobretudo, em tempos de mudanças no regime previdenciário. Assim é possível se aposentar mais cedo e sem queda na renda, lembra Daniela Cade: Uma previdência privada é um ótimo instrumento e, em sua maioria, tem uma alíquota de Imposto de Renda menor, além de não entrar em inventário.
INDEPENDÊNCIA
Um outro bom objetivo além dos sonhos e necessidades, é conquistar a independência financeira. E esse é o foco do estudante de Engenharia João Souza, de 23 anos, que já investe em fundos multimercado e de ações.
Tudo começou com um presente da minha avó, que me deu R$ 300. E fui começando a trocar meus hábitos e guardar uma parte da minha renda, antes era a mesada e hoje é a bolsa do estágio. Quero conquistar essa independência e, depois disso, já com a minha liberdade, viajar e conhecer o mundo, que é um sonho meu, conta.
OUTROS PROPÓSITOS
Aposentadoria
Um plano de previdência privada pode permitir uma aposentadoria mais cedo e sem queda no valor da renda mensal, o que normalmente acontece. Mas cuidado. Alguns fundos têm baixa rentabilidade e cobram taxas altas.
Reserva financeira
Ter ao que recorrer em uma situação extrema, como perda do emprego, problemas de saúde e até mesmo tragédias, é necessário para qualquer pessoa. Essa poupança deve ter capacidade de te sustentar por, pelo menos, de três a seis meses, e pode ser investida em títulos de renda fixa com boa liquidez, por exemplo, para garantir a rapidez necessária para o resgate.
Independência financeira
Ser dono do próprio nariz sem passar apertos nem ficar preso a alguma atividade pode permitir até tirar um ano sabático para viajar pelo mundo e descansar.
TIRE OS SONHOS DO PAPEL
No prazo curto
Viagem de férias
Como poupar
Começando a planejar as próximas férias desde quando voltar das anteriores dá tempo suficiente para acumular uma boa reserva e fazer aquela viagem dos sonhos. Um percentual pequeno economizado por mês junto com uma parte do 13º já ajuda.
Onde aplicar
O prazo é curto, mas nada de deixar o dinheiro parado. A caderneta de poupança pode ser uma ideia, mas há opções melhores que, além de não perder dinheiro, te rendem um extra, como um CDB de curto prazo de liquidez e o Tesouro Selic. O ideal, nesse caso, são ativos conservadores.
Médio prazo
Casar
Como poupar
Com os esforço aqui são de duas pessoas fica mais fácil para juntar, mas é preciso disciplina nos gastos. Ter uma renda extra pode ser uma boa.
Onde aplicar
Depende de quando será o casamento. Se for em até um ano, as opções da dica anterior também valem. Se o prazo for maior mas você não queira correr riscos, aplicações em renda fixa como o Tesouro Direto, o Certificado de Depósito Bancário e as Letras de Crédito são uma boa.
Comprar um veículo
Como poupar
Sobretudo para comprar o primeiro carro ou moto, é preciso se esforçar para cortar gastos. E não tenha pressa: quanto mais tempo juntando menor a necessidade de um grande financiamento.
Onde aplicar
Se você não quer ser tão conservador nem estiver com pressa, pode começar a ir um pouco mais além da renda fixa, diversificando a carteira de investimentos e aplicando uma parte menor também em fundos.
Longo prazo
Viajar pelo mundo
Como poupar
É preciso calcular bem todos os custos de uma grande viagem. Desde as passagens e hospedagem até os gastos locais. Além disso o esforço em fazer a reserva deve levar em conta os valores em dólares e euros.
Onde aplicar
Investir em um fundo multimercado cambial, seguindo o dólar ou o euro, é recomendável para não perder dinheiro nem ficar a mercê da variação da moeda estrangeira. Na prática, é como se você estivesse comprando essa moeda e o valor adquirido continua o mesmo, o que muda é o valor em reais.
Comprar um imóvel
Como poupar
Esse talvez seja um dos mais difíceis e pode levar anos se você não quiser se comprometer com longos financiamentos. É preciso enxugar ao máximo despesas para ter um bom percentual mensal para aplicar.
Onde aplicar
Continua dependendo do seu perfil e disposição para correr riscos, mas com o prazo maior passa a ser uma boa ideia destinar uma parte da reserva para investimentos mais arrojados, como fundos multimercado (que podem atuar com diversos mercados como o dólar e ativos estrangeiros, por exemplo), além de ações. Isso porque com o prazo maior, se houver alguma queda no rendimento, há tempo para se recuperar.
Fonte: especialistas ouvidos
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta