Com a promessa de lucro de até 20% ao mês com bitcoin, uma corretora de criptomoedas, fechada pela Justiça Federal por suspeita de fraude nesta quarta-feira (15/05), pode ter movimentado milhões em investimentos irregulares. O nome do negócio suspeito é mantido em sigilo pelas autoridades.
Um cliente da companhia contou à reportagem, após coletiva da Polícia Federal, que teme perder cerca de R$ 100 mil aplicados recentemente em operações na gestora de recursos.
O rapaz procurou a polícia após ver a notícia no Gazeta Online de que a PF havia deflagrado a Operação Madoff para suspender atividades de uma companhia, com sede no município da Serra, que estaria oferecendo serviços de administração de carteiras de investimentos em criptomoedas. As investigações começaram no ano passado.
A companhia agia desde 2017 como uma corretora de valores, vendendo investimentos vinculados a Bitcoins, semelhantes aos famosos fundos de ações. O problema é que a firma não tinha autorização nem da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nem do Banco Central para atuar como gestora de recursos e como agente financeira.
Segundo o delegado da Polícia Federal, Guilherme Helmer, responsável pelo caso, a suspeita é de que os valores aplicados pelos poupadores não eram realmente destinados a compras de bitcoins e que a empresa funcionaria como um esquema Ponzi, um tipo de pirâmide financeira. Existe indício de que o dinheiro das pessoas que entravam no negócio era usado para pagar a rentabilidade dos mais antigos. Entre os clientes da companhia, havia gente tanto do Espírito Santo quanto de outros Estados.
Durante a operação de busca e apreensão na sede da empresa, a Polícia Federal conseguiu apreender apenas 2,8 bitcoins, o equivalente a R$ 91,8 mil. O valor foi transferido para uma conta da Polícia Federal criada especificamente para a operação. A apreensão de bitcoin em carteiras físicas e digitais é uma medida inédita no país.
O valor encontrado, no entanto, foi considerado baixo para indenizar todas as possíveis vítimas do esquema, que podem acabar ficando no prejuízo. "Caberá à Justiça decidir como as pessoas serão ressarcidas", explica Helmer.
O delegado explica que também foi encontrado uma chave pública com um saldo de mais de 4 mil em bitcoins (R$ 11,2 milhões), mas que não há provas de que o recurso realmente pertence à empresa.
Ao todo, são investigados cinco pessoas, uma no Acre, uma no Mato Grosso do Sul e três no Espírito Santo. O dono da empresa, que vive no Estado, é também conhecido por ser líder de uma igreja evangélica.
OPERAÇÃO VIRTUAL
Um site semelhante ao das grandes empresas corretoras de valores permitia o investidor da companhia suspeita acompanhar o resultado das operações financeiras, como rentabilidade ou mesmo perda dos investimentos.
Segundo o cliente da gestora de recursos, que preferiu não ter o nome revelado, ele podia acompanhar de forma virtual o desempenho. Cada pessoa tinha um tipo de contrato. Algumas pessoas comprovam investimentos que pagavam lucros mensal, trimestral, semestral ou mesmo anual. Geralmente, a rentabilidade era de 10% ao mês, mas podia chegar a 15% ou mesmo 20%, conta ao acrescentar que retirou o dinheiro da renda fixa para colocar no negócio.
O internet banking da empresa ainda não foi encontrado pela Polícia Federal, que disse só ter evidências, até agora, de contratos em papel com os investidores. Mas que as provas coletadas durante a operação, como celulares e computadores, serão avaliados pela perícia.
BLOQUEIOS
A pedido da Polícia Federal, a decisão da Justiça, que autorizou a Operação Madoff e suspendeu as atividades da empresa, também definiu pela remoção da página da empresa na internet e o bloqueio de ativos financeiros dos investigados, como contas bancárias, carros, imóveis e criptomoedas em exchanges (espécies de casas de câmbio on-line), além do bitcoin em carteiras físicas e digitais.
Foram sequestrados pela Justiça quatro carros de luxo, como BMW, Mercedes, um Honda Civic e um Chevrolet Blazer.
A operação da PF e do Ministério Público Federal contou com a participação de 43 policiais federais.
TESTAMENTO
Durante a operação Madoff, a Polícia Federal se deparou com algo curioso: um testamento feito pelo dono da empresa. O documento seria a garantia de que os recursos em bitcoins poderiam ser movimentados em caso de morte do proprietário do negócio.
Em dezembro do ano passado, o dono de uma corretora de Bitcoin morreu e levou consigo a senha que permitia a empresa operar os recursos. A história aconteceu com Gerald Cotten, fundador da empresa canadense QuadrigaCX. Ele era a única pessoa com acesso a cerca de R$ 700 milhões em criptomoeda.
POR QUE MADOFF?
Para quem não sabe, Madoff é o sobrenome de um dono de um fundo de investimentos americano envolvido num grande esquema Ponzi, um tipo de pirâmide financeira que causou prejuízos de mais de 50 bilhões de dólares em todo o mundo.
Bernard Madoff, que armou a maior fraude da história, lesou bancos, empresas e investidores pessoas físicas de 40 países.
A operação capixaba recebeu o nome Madoff por causa da semelhança no modelo de investimento. A suspeita da Polícia Federal é que a companhia não tem saldo para pagar todos os investidores. As rentabilidades eram passadas aos clientes com recursos de novas pessoas que entravam no negócio.
OUTROS CRIMES FINANCEIROS
Não é a primeira vez, no entanto, que o Espírito Santo esteve envolvido em crimes contra o sistema financeiro. O caso mais emblemático é a Telexfree. Segundo a Justiça, além de ser uma pirâmide financeira, a empresa, que tinha sede em Vitória, também atuava como um banco, emitindo moedas virtuais.
Apesar de o esquema Madoff ser o maior da história em volume de recursos desviados, a Telexfree foi o maior em número de pessoas envolvidas. Mais de 4 milhões em todo o mundo investiram na empresa de raízes capixabas.
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