O programa de renegociação de dívidas Desenrola Brasil lançado nesta segunda-feira (17) já serve como isca para fraudes que circulam no WhatsApp e nas redes sociais. Uma busca na biblioteca de anúncios do Facebook pelo termo "desenrola" retorna centenas de links patrocinados. Parte desses endereços redireciona para sites fraudulentos.
Um deles simula um chatbot de autoatendimento que faz perguntas e as responde com promessas enganosas sobre o programa de renegociação de dívidas -promete, por exemplo, descontos de 99%.
Outro link vende um material chamado "Guia do nome limpo" por R$ 27. O pagamento pode ser feito via Pix ou cartão de crédito.
Como os posts identificados pela reportagem são patrocinados, a Meta, empresa que controla Facebook, Instagram e WhatsApp, recebe para aumentar o alcance deles. Procurada pela reportagem na tarde desta terça (18), a empresa afirma não permitir atividades fraudulentas ou quaisquer atividades que violem seus padrões de comunidade e publicidade.
"Usamos uma combinação de denúncias da nossa comunidade, tecnologia e revisão humana para identificar conteúdos violadores e aplicar nossas políticas", diz a empresa. A Meta incentiva os usuários a denunciar golpes na própria plataforma.
Segundo checagem da Agência Lupa, um link circula no WhatsApp desde segunda-feira (17) instruindo pessoas a acessarem um site falso, que supostamente seria da Serasa.
Os bancos participantes do Desenrola têm canais próprios para os correntistas interessados em quitar dívidas adquiridas entre 2019 e 2022 e é o endividado que deve procurá-los para negociar, e não o contrário. Por isso, qualquer link que não seja da instituição financeira é suspeito de golpe.
Procurada pela reportagem, a Serasa diz que faz renegociação de dívidas apenas por meio dos canais oficiais da empresa -o site Serasa Limpa Nome, o aplicativo para smartphone Android e iPhone e o WhatsApp (11) 99575-2096.
É comum que golpistas se passem por representantes de empresas que renegociam dívidas nas redes sociais para oferecer propostas incompatíveis com o que é praticado no mercado, segundo a coordenadora de soluções da Serasa, Franciele Tiburcio. "Prometem retirar a negativação na hora e aumentar o score [pontuação] de crédito em 24 horas, o que é impossível."
Um vídeo falso checado pelo UOL, por exemplo, diz que as dívidas serão perdoadas com 99% de desconto. Mas os descontos oferecidos por Caixa e banco Inter chegam ao máximo de 90%, e apenas para algumas condições. O valor final é decidido em negociação com o banco.
O objetivo dos criminosos é levar o endividado ao link falso. O site é uma falsificação da plataforma da Serasa, numa suposta edição especial do Desenrola Brasil. A Serasa esclarece que não é responsável pelo endereço.
De acordo com relatório da empresa de cibersegurança Kaspersky, o Brasil é líder global em fraudes aplicadas a partir de links falsos -a prática usa uma isca e, por isso, é chamada de phishing, em referência ao verbo pescar, em inglês. Os estelionatários usam esse engodo para furtar dinheiro e informações pessoais, que podem ser usadas em outros golpes financeiros --compra online, criação de contas-laranja, entre outros crimes.
A Kaspersky identificou 76 mil tentativas de phishing no Brasil apenas em 2022. Em menor proporção, os golpes também ocorrem no Telegram e Viber.
Novo relatório da Kaspersky, divulgado nesta terça (18), ainda mostra que 65% dos brasileiros não sabem reconhecer se um site é legítimo.
Para evitar fraudes, a empresa recomenda desconfiar de promessas exageradas, verificar o endereço do site, que pode conter erros gramaticais e trocas de letras por números, e ter um antivírus instalado no aparelho --o software tem uma lista de sites suspeitos, que pode impedir o golpe.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Fazenda informou que divulga orientações sobre o programa nas redes sociais. Segundo a pasta, as pessoas devem denunciar as fraudes às instituições representativas do setor bancário --Febraban (Federação Brasileira de Bancos), ABBC (Associação Brasileira dos Bancos Comerciais) e a Zetta.
Interessados em participar do Desenrola Brasil precisam procurar seus bancos até 30 de dezembro deste ano.
Os cinco maiores bancos do país (Banco do Brasil, Caixa, Bradesco, Itaú e Santander) anunciaram a adesão ao programa. Além deles, C6, Daycoval, Inter, PagBank e Pan também informaram que participarão. O banco Mercantil disse que avalia a adesão, enquanto Banrisul, BMG e Nubank não responderam à reportagem da Folha.
Para participar da atual rodada de negociação, o devedor precisa receber entre R$ 2.640 e R$ 20 mil por mês e ter entrado na lista de inadimplentes entre 2019 e 2022. A dívida não pode ser relativa a crédito rural, ter garantia da União ou entidade pública, ter risco de crédito integralmente assumido pelo agente financeiro, ter previsão de aporte de recurso público ou equalização de taxa de juros pela União.
A empresa disponibiliza um verificador de meio de pagamentos na plataforma Limpa Nome, disponível na internet, no Google Play e na App Store.
Após fazer login com CPF e senha, o usuário deve selecionar a aba Soluções. Depois, ir até a opção Validar Meio de Pagamento na seção Pagamentos.
Por fim, é preciso acrescentar o código do Pix ou do código de barras no campo indicado.
Caso o boleto não seja da Serasa, verifique se no campo beneficiário consta uma instituição financeira autorizada a renegociar dívidas.
As tentativas de fraudes podem ser registradas em boletins de ocorrência em delegacias online da Polícia Civil.
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