Para minimizar o desgaste público da equipe econômica com o presidente Jair Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou a interlocutores que aguarda um pedido de demissão do secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues.
Pessoas próximas ao ministro afirmam que ele costuma ser leal aos subordinados e, por isso, espera que a iniciativa parta de Waldery. Caso isso não aconteça, Guedes afirma estar dividido sobre a decisão que deveria tomar, embora acredite que a saída de seu subordinado seria, segundo relatos, "o melhor para o Brasil".
No último fim de semana, Waldery afirmou que o plano do governo para custear o Renda Brasil prevê o congelamento de aposentadorias. Em entrevista ao G1, ele disse que a regra valeria para todos os patamares de benefícios previdenciários.
Bolsonaro se irritou com a repercussão da entrevista e anunciou a desistência de lançar o novo programa social que substituiria do Bolsa Família.
"Quem por ventura vier propor a mim uma medida como essa eu só posso dar um cartão vermelho para essa pessoa", disse o presidente em vídeo publicado em redes sociais na terça-feira (15).
Em seminário virtual logo em seguida, Guedes afirmou que não era o alvo do cartão vermelho. Nos bastidores, a avaliação é que o recado foi para Waldery.
Após a crítica de Bolsonaro, Guedes foi ao Palácio do Planalto e levou o secretário para dar satisfações ao presidente.
De acordo com pessoas que acompanharam a conversa, Bolsonaro estava visivelmente nervoso, reclamou muito da entrevista, mas não foi agressivo. Em um dos momentos da conversa, disse que a equipe de Guedes não entende de política e não deveria conceder entrevistas.
O ministro da Economia afirmou a auxiliares que tem muito respeito por Waldery, mas ponderou que uma série de atritos envolvendo seu subordinado vem dificultando os trabalhos.
Ministros do Palácio do Planalto avaliam que a demissão seria a melhor saída para reduzir os ruídos no governo. Apesar das críticas, Bolsonaro não teria exigido de Guedes o desligamento.
No Ministério da Economia, no entanto, crescem os relatos de insatisfação com Waldery.
O secretário de Fazenda já teve atritos internos com o então secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, e outros componentes da pasta. Membros do time de Guedes acreditam que a fonte da maior parte das brigas vem do fato de Waldery ser "o homem do dinheiro", por ter o Tesouro sob seu comando, e adotar postura restritiva.
Há ainda críticas sobre "trapalhadas" do secretário em entrevistas. Em outro episódio recente, ele apresentou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo uma proposta de usar recursos do Fundeb (fundo para educação) em pagamentos de voucher-creche no setor privado.
O anúncio recebeu críticas e uma coletiva de imprensa que estava programada para anunciar a medida foi cancelada. O governo acabou desistindo da proposta.
Em conversas com auxiliares, Guedes afirmou que o episódio de Waldery é diferente do ocorrido com o ex-secretário da Receita, Marcos Cintra. Ele foi demitido após repercussão negativa da proposta do governo de criar um imposto sobre transações aos moldes da CPMF.
Fontes do ministério afirmam que a saída de Cintra, há um ano, foi previamente combinada. O secretário havia pedido autorização do ministro para defender em público o novo tributo. Apesar de achar que o momento não seria o ideal, Guedes deu o aval, mas deixou claro que Cintra arcaria com eventuais consequências.
No fim, um subordinado do secretário apresentou a proposta antes mesmo dessa defesa pública. Segundo relatos, prevendo a reação negativa de Bolsonaro, Guedes ligou para Cintra e comunicou que, conforme combinado, ele seria demitido.
No caso de Waldery, Guedes teria sido pego de surpresa. Embora avalie que os veículos de imprensa captaram um ponto da entrevista que dá um tom negativo à proposta do governo, ele acredita que o secretário tomou uma péssima decisão ao fazer as declarações.
O ministro segue defendendo a medida, que tramita no Congresso. O texto do pacto federativo, apresentado pelo governo no ano passado, desvincula, desindexa e desobriga recursos públicos. Isso significa que serão retiradas amarras do Orçamento, inclusive as que obrigam o governo a reajustar aposentadorias.
Guedes quer que a tramitação avance no Congresso. Para acalmar Bolsonaro, ele teria comunicado ao presidente que é possível fazer algumas alterações na proposta para modificar pontos que ele não concorde. O objetivo é não perder toda a proposta, que pode abrir espaço no Orçamento para liberar outros tipos de gastos, inclusive sociais.
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