O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta sexta-feira (17) que conceder reajustes a todos os servidores seria uma desonra com as futuras gerações, um dia após ter pedido ao Congresso para reservar R$ 2,5 bilhões para aumentos a policiais a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Já tem gente querendo desonrar o compromisso com os contemporâneos, falando já tomei minha vacina, me dá meu aumento. Por enquanto, é uma desonra com os contemporâneos", disse em entrevista de fim de ano à imprensa.
"Se todos tiverem esses aumentos, é uma desonra com as futuras gerações. Aí a inflação vai voltar, vamos mergulhar em um passado tenebroso, vamos nos endividar em bola de neve. Nosso papel é assegurar que isso não aconteça", disse.
A referência às futuras gerações costuma ser usada por Guedes para falar sobre a necessidade de usar os recursos públicos de modo que eles sejam bancados pela população atual, e não se transformem em dívida pública a ser paga pelas próximas.
Ele negou que tenha pedido o reajuste para os policiais (apesar de ter assinado ofício que pediu ao Congresso para reservar os recursos) e afirmou que tentou até barrar a proposta dizendo que a medida abriria pressão de outros servidores, como auditores da Receita Federal.
Segundo ele, o presidente foi sensível ao apelo da categoria. "É um pedido político", disse.
Guedes revelou que o valor solicitado ao Congresso incluiria ainda outras duas categorias mas disse que não revelaria quais são para não haver mais pressão por reajustes.
No caso dos policiais, o ministro admitiu ainda que orientou o restante do governo a dizer que não se tratava de um reajuste mas de uma reorganização na carreira, como forma de evitar os reajustes ao restante do funcionalismo. "Se começa a todo mundo pedir, a inflação vai para 15%, 20%, aí quem sofre é a população pobre, aí o Auxílio Brasil vai a R$ 600", afirmou.
Após questionamentos sobre o tema, Guedes disse que o aumento para os policiais está suspenso e que ainda será decidido pelo governo.
A defesa por reajustes foi encampada por Bolsonaro, que atuou diretamente para garantir a reestruturação de carreiras policiais do governo federal. O movimento deflagrou a pressão de outras categorias, como auditores da Receita Federal.
No último dia 8, em entrevista, o presidente chegou a defender um reajuste amplo, alcançando todas as categorias. Ele disse que a medida seria feita sem estourar o teto de gastos.
"Teria [que ser reajuste de] 3%, 4%, 5%, 2%... Que seja 1%. Essa é a ideia. Porque nós estamos completando aí no meu governo três anos sem reajuste. Agora, o reajuste não é para recompor toda a inflação, porque não temos espaço para isso", disse Bolsonaro em entrevista ao jornal Gazeta do Povo.
Nos cálculos do governo, cada aumento de 1% tem um impacto de R$ 3 bilhões. Um reajuste de 5%, portanto, teria um custo adicional de R$ 15 bilhões em 2022.
O governo estudava ao longo deste ano um reajuste para os servidores, mas devido ao pouco espaço fiscal foi verificado que o reajuste ficaria muito baixo. Então, a escolha foi feita pelo aumento a apenas algumas categorias.
Guedes reconheceu também que há um empobrecimento no país por causa da inflação.
"Alguns vão dizer que o Brasil está mais pobre. Sim, guerras empobrecem", afirmou em entrevista de fim de ano à imprensa.
Apesar disso, ele afirma que a escalada dos preços é um movimento global impulsionado pela inflação e, por isso, não se pode culpar o governo.
"Teve inflação. Sim, em todo o mundo. Salários aposentadorias, aluguéis perderam poder de compra porque houve um choque nas cadeias produtivas globais", disse.
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