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Haddad anuncia medidas de arrecadação com reoneração da folha de salários

Haddad anuncia medidas de arrecadação com reoneração da folha de salários

De olho em déficit zero em 2024, governo divulga pacote para compensar renúncia fiscal

Publicado em 28 de dezembro de 2023 às 15:08

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NATHALIA GARCIA E MATHEUS TEIXEIRA

BRASÍLIA - Com a meta de zerar o déficit primário em 2024, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta quinta-feira (28) três novas medidas para evitar perda de arrecadação e reforçar o caixa da União no próximo ano.

O pacote fará parte de uma MP (medida provisória), que entrará em vigor após sua publicação e será encaminhada ao Congresso Nacional. O texto não foi apresentado pela equipe econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante o anúncio das propostas.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad discursa durante reunião de apresentação e assinatura dos decretos que autorizam a regulamentação do Marco Legal do Saneamento
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad . (Joedson Alves/Agência Brasil)

Faz parte do plano a reoneração gradual da folha por atividade como alternativa à derrubada do veto à prorrogação do benefício até dezembro de 2027. Uma vez publicada, a MP irá revogar a lei que renova a desoneração da folha promulgada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), nesta quinta, conforme publicação no DOU (Diário Oficial da União).

Outra medida vai limitar a compensação tributária com decisões judiciais sobre créditos acima de R$ 10 milhões. A Fazenda ainda prevê mudança na lei do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) — que oferece benefícios para empresas aéreas e ligadas a entretenimento.

O secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, e o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, também participaram do anúncio de medidas.

De acordo com Barreirinhas, as medidas anunciadas vão permitir a compensação do rombo de R$ 12 bilhões que seria gerado pela desoneração de folha de pagamento. Primeiro, porque a reoneração gradual irá gerar uma economia de R$ 6 bilhões e, segundo, porque as alterações no Perse irão representar a economia de outros R$ 6 bilhões.

O plano de Fazenda tem o objetivo compensar a renúncia fiscal com a manutenção da desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia até dezembro de 2027, após o veto do presidente Lula ter sido derrubado pelo Congresso Nacional.

"Estamos encaminhando ao Congresso uma reoneração gradual, está sendo analisado setor a setor, vão ter oportunidade depois de conhecer o texto. Reoneração gradual, não necessariamente volta 20% de cota patronal, pode ficar abaixo disso e ficará abaixo em alguns casos", disse Haddad.

O ministro prosseguiu e disse que agora será testado "um ingrediente novo".

"A ideia é isentar de pagamento de cota patronal o primeiro salário mínimo que o trabalhador receber. Se ele ganhar um salário mínimo não vai pagar, se ele ganha dois, na prática a cota patronal vai ser metade, de qualquer trabalhador celetista. Essa é a ideia que vamos testar e entendemos que pode ser caminho interessante, sobretudo para empregabilidade de população de mais baixa renda."

O benefício da desoneração da folha foi criado em 2011, no governo Dilma Rousseff (PT), e teve sucessivas prorrogações. A medida permite o pagamento de alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20% sobre a folha de salários para a Previdência.

Entre os 17 setores da economia beneficiados está o de comunicação. Também são contemplados os segmentos de calçados, call center, confecção e vestuário, construção civil, empresas de construção e obras de infraestrutura, entre outros.

A reoneração parcial vai considerar a atividade principal de cada empresa por meio da CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas).

Ao detalhar a medida, Barreirinhas disse que não haverá isenção de pagamento. De acordo com o secretário, passará a ser aplicada uma alíquota de 10% sobre a faixa de um salário mínimo de todos os funcionários no caso das 17 atividades que contam com maiores benefícios hoje e de 15% para outras 25 atividades, que possuem menos benefícios na sistemática atual da desoneração.

Nas contas do Ministério da Fazenda, a extensão da desoneração da folha drenaria R$ 12 bilhões anuais aos cofres públicos.

VEJA OS 17 SETORES AFETADOS 

Haddad chegou a declarar que o governo recorreria à Justiça para que a lei fosse considerada inconstitucional, mas dias depois afirmou que o Executivo iria tentar avançar com a alternativa legal antes de buscar o "remédio judicial".

Ao apresentar a medida de compensação tributária, Haddad mencionou a chamada "tese do século" do STF (Supremo Tribunal Federal), que trata da exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins.

"Você não apenas não tem compensação tributo a tributo como não tem um acompanhamento de uma autoridade sobre se compensação está sendo feita na forma da decisão judicial. Então, isso gerou uma queda de arrecadação de mais de R$ 60 bilhões não esperada a título de compensação", disse Haddad.

"Estamos limitando o que empresa pode compensar de um ano para o outro. Tem empresas multinacionais há anos sem pagar imposto a título de compensação. Então, ela vai poder [compensar], mas está limitada a determinado percentual para que a Receita [Federal] possa planejar o resultado primário do ano com alguma garantia", acrescentou o ministro, citando o teto de 30%.

De acordo com Barreirinhas, a medida que limita as compensações ainda será regulamentada e valerá para decisões judiciais sobre créditos acima de R$ 10 milhões. "Quando tiver decisão judicial superior a R$ 10 milhões, vai haver uma limitação temporal para utilização desse crédito", disse.

O secretário disse que as decisões superiores ao patamar estabelecido representaram R$ 35 bilhões em créditos tributários em 2023. Segundo ele, a medida que limita as compensações judiciais poderá representar um impacto de cerca de R$ 20 bilhões de fluxo a mais em 2024.

No entanto, Barreirinhas disse que não considera esta como uma ação arrecadatória porque a MP estabelecerá um escalonamento na compensação, que ainda deverá ser feita, mas dividida em até cinco anos.

Segundo o secretário, em vez de o montante ser compensado apenas no próximo ano, isso será parcelado em no máximo cinco anos, o que aliviará os cofres públicos em 2024.

Haddad afirmou que isso ajudará a Receita Federal a recuperar a sua capacidade de planejamento.

Sobre o Perse, Haddad destacou que houve renúncia fiscal acima do previsto originalmente e anunciou a volta da cobrança de tributos. O programa, criado de forma emergencial durante a pandemia de Covid-19, foi renovado neste ano.

"Por alguma razão que não foi discutida conosco, decidiu-se prorrogar por mais cinco anos com o seguinte compromisso, que esse programa ficaria limitado de R$ 4 bilhões ao ano de renúncia fiscal", disse.

Acontece que estamos fechando o primeiro ano com mais de R$ 16 bilhões de renúncia fiscal. Isso é a parte informada pelo contribuinte, não temos noção o que não foi informado e não foi pago", continuou.

As mudanças tributárias serão realizadas gradualmente nos próximos dois anos. Devido à chamada noventena — regra que determina prazo de 90 dias para alteração de alíquota — as empresas vão pagar contribuições somente a partir de maio de 2024.

Além disso, elas ainda estarão isentas de pagamento de Imposto de Renda no ano que vem por conta do princípio da anualidade. Consequentemente, a cobrança será retomada a partir de 2025.

"Mesmo com essa recuperação de uma parcela do benefício do Perse, isso é suficiente para cobrir todo o programa de desoneração. Para reiterar aquilo que o ministro falou, como é pesado o Perse para o Orçamento", disse o secretário da Receita.

A equipe econômica propõe novas medidas em meio ao ceticismo dos analistas sobre a viabilidade da meta do governo de zerar o déficit primário em 2024.

Além das alterações feitas nas propostas aprovadas no Congresso, que reforçaram o questionamento sobre o potencial de aumento de arrecadação, o cenário fica prejudicado pela esperada desaceleração da economia, que deve limitar a expansão natural das receitas no ano que vem.

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