Mesmo com desempenho negativo na sessão, em que acompanhou o mal-estar externo, o Ibovespa conseguiu interromper série de perdas que já durava três semanas, desde a virada de agosto para setembro, para acumular leve recuperação de 1,65% no agregado de segunda a sexta-feira. Hoje, cedeu 0,69%, aos 113.282,67 pontos, entre mínima de 112.504,99 e máxima de 114.062,20, da abertura. O giro financeiro ficou em R$ 29,6 bilhões. No mês, o Ibovespa limita as perdas a 4,63%, que chegaram a superar 8% no pior momento de setembro - no ano, cai agora 4,82%.
Após relativa distensão nos últimos dias, a retomada da percepção de risco sobre a China manteve os mercados globais na defensiva desde cedo nesta última sessão da semana, afetando o Ibovespa. Investidores globais que possuem títulos da Evergrande em dólares não receberam o pagamento de juros que deveria ter sido feito ontem. Além disso, a aversão a risco foi reforçada pela proibição da China à negociação de criptomoedas - pressionando abaixo o valor das moedas virtuais nesta sexta-feira.
Com a aversão a risco desde o exterior, setores e empresas de maior peso no Ibovespa, que mostravam ontem recuperação em geral bem distribuída, voltaram a cair hoje, ainda que moderadamente, devolvendo parte da recuperação do dia anterior, a terceira seguida. No plano doméstico, o dia também foi de ajuste na curva de juros, nos vencimentos curtos como nos longos, com mais uma leitura acima do esperado para a inflação, desta vez para o IPCA-15 de setembro, no maior nível para o mês desde 1994.
"Os mesmos problemas continuam no radar à medida que nos aproximamos de outubro: inflação em alta, o 'tapering' nos Estados Unidos e a Evergrande, na China. O desconforto com a inflação talvez ajude a impulsionar a definição de questões importantes, como os precatórios e avanço nas reformas. Lá fora, o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, hoje, não trouxe sinal novo sobre o tapering e, na China, a injeção de recursos no sistema financeiro sugere que as autoridades podem vir a tratar a Evergrande como 'too big to fail", evitando crise sistêmica como a de 2008, nos Estados Unidos", diz Victor Licariao, líder de alocação de renda variável da Blue3.
"O Ibovespa estava muito esticado para baixo, depois veio esta correção dos últimos dias, voltando para as médias, mas ainda em tendência de baixa no curto e médio prazo. O cenário continua muito desafiador, e não há muito boas notícias para contar, o que inclui a inflação, que resultou hoje em ajuste na curva de juros. O dólar futuro, considerando o vencimento mais próximo, está perto da resistência de R$ 5,358 que, se superada, pode levá-lo a R$ 5,507 (no médio prazo)", observa o analista técnico Eduardo Marzbanian, da Wise Investimentos, referindo-se ao que pode vir a ser um fator de pressão adicional sobre a Bolsa, a alta do câmbio.
De acordo com o analista gráfico da Wise, considerando as médias móveis de nove semanas e de 22 semanas, tendência de alta no médio prazo para o Ibovespa depende de o índice superar o intervalo entre 117.100 e 119.400 pontos - o que, a julgar pelo que se vê hoje, permanece um tanto distante. "Há muitos fatores de incerteza pendentes, aqui e no exterior, a começar pela cautela em torno de possível 'default' na Evergrande", diz Marzbanian.
Assim, no curto e médio prazo, a tendência para o Ibovespa ainda é de baixa, diz o analista, apontando a linha de 107.300 pontos como suporte significativo para o índice. Se perdido, no médio prazo o Ibovespa poderia convergir para a média móvel de 200 períodos (no caso, semanas), aos 99 mil pontos, observa Marzbanian.
"A perspectiva para a semana que vem ainda depende de como o governo da China vai interferir na Evergrande, e como vai ser esta recuperação (da empresa). Acredita-se que o governo está deixando sangrar para dar recado a outras empresas, para evitarem a alavancagem e altas dívidas", diz Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos.
Entre os setores de maior peso no índice, as perdas entre os grandes bancos ficaram nesta sexta-feira entre 1,34% (Bradesco ON) e 2,79% (Unit do Santander). Vale ON (-1,55%) e siderurgia (CSN ON -3,59%, Usiminas PNA -2,16%) voltaram a terreno negativo na sessão, com a retomada de dúvidas sobre a China.
Na ponta negativa do Ibovespa nesta sexta-feira, Méliuz (-7,09%), CSN (-3,59%) e Americanas ON (-3,55%). Na face positiva, destaque para Minerva (+4,52%), PetroRio (+3,87%) e JBS (+3,72%), com o setor de proteína animal, exportador, sendo favorecido pelo avanço do dólar na sessão. Em dia positivo para o petróleo, com o Brent em torno de US$ 78 por barril, Petrobras ON e PN fecharam respectivamente sem variação (estável) e em alta de 0,22%, após terem oscilado entre perdas e ganhos ao longo desta sexta-feira.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta