A sessão caminhava em ritmo preguiçoso para um desfecho modorrento até que o inesperado sobreveio: uma bandeira de paz acenada pelo presidente Jair Bolsonaro, em forma de nota, passadas apenas duas tardes dos acalorados pronunciamentos de Brasília e São Paulo, no Dia da Pátria. Gesto moderado do presidente já havia sido ensaiado no pedido para que os caminhoneiros suspendessem os protestos que ganhavam, desde ontem, força em estradas de diversos estados - o apelo presidencial resultou em redução da adesão às paralisações nesta quinta-feira (09). A expectativa de convívio mais urbano entre os Poderes, essencial para a economia em busca de normalização, foi celebrada com sprint final do Ibovespa, virando aceleradamente do negativo para o positivo.
Em tarde ruim em Nova York, a referência da B3 não encontrava fôlego para sustentar leve recuperação que havia chegado a esboçar mais cedo na sessão, vindo de perda de 3,78% no dia anterior, a maior em porcentual desde 8 de março (-3,98%). Com a nota de pacificação apresentada por Bolsonaro, o Ibovespa chegou às 16h45 aos 116.353,62 pontos no topo do dia, uma variação de 3 533,14 pontos em 13 minutos, saindo de baixa aos 112.820,48 pontos, assinalada às 16h32.
Ao final, o índice da B3 mostrava ganho de 1,72%, aos 115.360,86 pontos, após ter fechado o dia anterior aos 113.412,84 pontos - uma recuperação de quase 2 mil pontos. O giro financeiro ficou em R$ 39,0 bilhões, após ter chegado a R$ 40,1 bilhões ontem. Nesta quinta-feira, a referência da B3 abriu aos 113.412,71 e oscilou dos 112.435,11 pontos, menor nível intradia desde 25 de março (110.926,74), até a máxima de 116.353,62, no fim da tarde. Na semana, ainda cede 1,34% e, no mês, perde 2,88% - no ano, a retração está agora em 3,07%.
A chacoalhada de Bolsonaro jogou os principais setores e empresas para cima, a maioria em baixa, até então, nesta quinta-feira. Ao fim, Petrobras PN e ON mostravam ganho de 2,12% e 0,93%, respectivamente, enquanto, entre os grandes bancos, os ganhos chegaram hoje a 1,76% (BB ON). Na ponta do Ibovespa, PetroRio (+8,32%), WEG (+6,44%) e Eletrobras ON (+6,07%). No lado oposto, Suzano (-0,54%), Bradespar (-0,38%) e Vale ON (-0,36%).
"A importância do diálogo entre os Poderes para reduzir os ruídos políticos e, em especial, evitar o isolamento, era a única forma de reduzir o estresse da curva de juros e oferecer um risco menor, para, assim, justificar o potencial de valorização atual", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. "Em manifestação pública a respeito da crise institucional, Jair Bolsonaro colocou panos quentes sobre o inflamado último discurso e disse que não teve 'nenhuma intenção de agredir quaisquer dos poderes', justificando que suas palavras 'por vezes contundentes' decorreram do calor do momento", acrescenta o analista.
Após apelo direto do presidente Jair Bolsonaro, o relativo esvaziamento do protesto de caminhoneiros em relação ao que se viu ontem chegou a contribuir mais cedo para algum respiro, em dia de câmbio menos pressionado após a reação do dia anterior à crise político-institucional, aguçada pelos eventos do 7 de setembro. Por outro lado, a leitura acima do esperado para o IPCA em agosto (0,87%), no maior nível para o mês em 21 anos, e que aproxima a inflação dos dois dígitos no acumulado em 12 meses, reforça a perspectiva de Selic mais restritiva, o que tende a reduzir o apelo da renda variável em momento marcado por aversão a risco.
"Como consequência (do IPCA), a curva de juros deu uma nova guinada para cima e já projetava Selic na faixa de 9% no ano que vem, o que aumenta a percepção de risco para o mercado brasileiro, sem falar nos potenciais ganhos da renda fixa, que retiram atratividade da renda variável", observa Ribeiro, da Clear Corretora, destacando que "dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 8 registraram aumento de preços".
Assim, o IPCA de agosto superou o teto das estimativas da pesquisa do Projeções Broadcast, de 0,85%, com piso de 0,62% e mediana de 0,70%. Foi a maior taxa para o mês desde 2000 (1,31%). Em 12 meses, a inflação acumulou 9,68% - o nível mais alto desde fevereiro de 2016 (10,36%).
"No mês, destaque para o setor de transportes, em alta de 1,46%, tendo contribuição de 0,31 ponto porcentual para o índice, muito puxado pela alta dos combustíveis", diz Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos, destacando, também pela manhã, a leitura sobre os pedidos semanais de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, a 310 mil, contra 345 mil no período anterior, contribuindo para firmar a melhora do mercado de trabalho americano, acompanhado de perto pelo Federal Reserve.
"Após perder ontem os 114 mil pontos, o Ibovespa respeitava agora um canal de baixa, dos 113 mil aos 114 mil, dando prosseguimento a ajuste no qual já vem há algum tempo, desde junho. Agora, testou a base desse canal de baixa, na região dos 113,5 a 114 mil pontos. Uma vez respeitada esta base, o mercado pode fazer uma correção leve e imediata nos preços", acrescenta a analista da Toro. "Caso não seja respeitada, abre espaço para novas quedas."
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