Apesar de o Pix estar operante desde 16 de novembro, são poucos os pequenos e médios empresários que já oferecem o método de pagamento aos seus clientes ou que começaram a adaptar os seus sistemas à modalidade.
"Ainda existe muita dúvida com relação às taxas e tarifas que serão cobradas na modalidade", afirmou o gerente executivo da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), Daniel Sakamoto.
Dos cinco maiores bancos, apenas Bradesco e Itaú informaram qual será o custo do Pix para contas de pessoas jurídicas depois de um período promocional de isenção (1,40% e 1,45%, respectivamente). Entre as seis maiores adquirentes, apenas duas já anunciaram o custo da cobrança por Pix por meio da maquininha, que variam de 0,99% (Mercado Pago) a de até 1,89% (PagSeguro).
A maioria das instituições concedeu de três a seis meses de isenção para os empresários que querem oferecer o Pix como meio de pagamento.
"Não sabemos quanto vão cobrar da gente. Enquanto não definirem tarifas, não temos como saber se vamos adquirir. Tem empresa que cogita cobrar 1,49% por Pix, que é mais caro que o débito. Isso precisa ser definido. Como usar algo que não sabemos o custo?", questiona Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (associação dos restaurantes).
Apesar da incerteza quanto a cobrança no futuro, os valores já divulgados são menores do que os cobrados para transações de crédito ou débito, que variam de 1,69% a 6,40%.
"Não me passaram taxa nenhuma. Se for menos que cartão, a gente pode sentar e conversar" afirma Sheila Simantob Fridman, dona de uma loja de roupas femininas em Alphaville (SP).
A empresária, que tem cerca de 80% do seu recebimento no crédito, não sabia que as maquininhas podem processar pagamentos por Pix. Segundo ela, nenhuma cliente pediu para pagar pelo sistema até o momento.
Segundo Tito Bessa Júnior, dono da rede TNG e presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos), cerca de 70% do recebimento dos lojistas é no crédito.
"Se a loja não tem Pix, não faz diferença no momento. Os clientes que querem pagar com esse meio são poucos e, se o lojista não aceita, ele paga com cartão", afirma.
Ele conta que, por ser um sistema novo, muitos empresários têm dúvidas e inseguranças em relação a fraudes.
"A grande maioria das lojas pequenas não está preparada para o Pix. Na TNG eu nem comecei ainda, estou negociando contratos, mas não é uma prioridade. Vai começar no próximo ano. O Pix alivia os custos, mas, se não tiver parcelado, não vai ajudar a vender mais."
Pesquisa da Stone feita com 1.065 mil lojistas de todas as regiões do Brasil entre 4 e 6 de novembro aponta que 77% ainda não estavam ou não sabiam se estavam preparados para incorporar o novo sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central e 36% o desconhecem.
No levantamento, 37% dos empreendedores se sentem inseguros em relação ao Pix. As principais dúvidas são sobre segurança (38,8%), usabilidade (34,9%), funcionalidades (30%) e custos (47,1%). Apenas 16,2% dos entrevistados se disseram esclarecidos.
Dentre grandes varejistas, o cenário é diferente. Carrefour, Grupo Pão de Açúcar, Raia Drogasil, Grupo Guararapes e Petz, por exemplo, já aceitam Pix como forma de pagamento em todas as suas lojas físicas.
Segundo Antônio Wagner Neves, presidente da franquia de lanchonetes The Burgers, o único impedimento para os pequenos e médios empresários adotarem o Pix é a falta de demanda e conhecimento dos clientes.
"Precisa ter procura. Eu como pessoa física já faço transferências pelo Pix, mas a maioria dos meus clientes ainda não. Meu público é classe C, não sabe o que é Pix."
Para impulsionar o recebimento via Pix, o empresário Igor Hadad Macarios, dono da Lojas Magui, de vestuário, ensinou seus clientes a utilizarem a tecnologia.
"Com a liberação do Pix, gravamos um vídeo em parceria com a Stone para explicar como funciona e já temos clientes se cadastrando, usando e adorando", diz Macarios.
Ele conta que fez cerca de dez vendas pelo novo sistema. "Para o lojista, faz diferença o dinheiro cair na hora. É mais fácil que cobrar no boleto".
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun, existe um problema de desconhecimento também por parte dos lojistas.
"Tudo é muito novo e as empresas ainda estão adaptando seus sistemas ou tentando entender como a demanda do consumidor será, principalmente agora no Natal. Muitos também não têm uma compreensão total do modelo, mas é questão de tempo."
Luciano Antônio Halada de Carvalho, 35, proprietário da padaria Big Bread em São Paulo, afirma que oferece o Pix como forma de pagamento aos seus clientes desde o seu lançamento e que já nota diferença no caixa.
"O funcionário mais caro que temos na empresa é a credenciadora porque, mesmo quando negociamos os preços, as taxas de débito e crédito são bem maiores. E como o nosso volume de vendas é alto, uma redução nesse custo acaba sendo significativa."
Os clientes da Big Bread podem pagar pelo que consumiram direto na comanda, que conta com um QR Code e um código de barras. "A participação da modalidade nas vendas ainda é baixa, mas vemos uma demanda crescente. As pessoas já começam a se interessar e a querer experimentar", disse Carvalho.
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