A inflação acumulada neste ano, até setembro, foi maior para aqueles que recebem até três salários mínimos, com alta de 2,29%. O índice das famílias mais pobres é sete vezes maior do que o daquelas de renda mais elevada, segundo comparação feita em estudo do Banco Central divulgado nesta quinta-feira (12).
A maior alta foi observada região Nordeste (3,14%). No Sul, pessoas de baixa renda sentiram menos a alta de preços (1,39%).
Segundo a pesquisa, os preços de alimentos subiram mais no Norte e no Nordeste, inclusive para as famílias de baixa renda. Para a autoridade monetária, o movimento é efeito do auxílio emergencial.
"[O resultado] sugere algum efeito do auxílio emergencial a pessoas em situação de vulnerabilidade mais significativa nessas regiões sobre a demanda desses produtos", justificou.
Em contrapartida, no Sudeste, famílias de renda acima de 10 salários mínimos tiveram a menor inflação do período, com 0,05%. O grupo também teve taxas menores no Sul (0,23%) e no Centro-Oeste (0,41%).
No Nordeste e no Norte, as famílias mais ricas analisadas pelo estudo tiveram alta de 0,90% e 1,58%, maiores que a média do país.
A inflação de serviços é mais baixa para a faixa de renda mais alta, principalmente no Sul e no Sudeste. "Em parte, pela maior participação de itens como passagem aérea, transportes por aplicativos e hospedagem, que foram impactados pela menor mobilidade", disse o texto.
A autoridade monetária ressaltou que os itens com maior impacto sobre a inflação variam entre as faixas de renda e entre as regiões. "Algumas das principais contribuições para alta da inflação das famílias com renda entre 10 e 40 salários mínimos foram automóvel novo, em todas as regiões, e plano de saúde e alimentação fora do domicílio", mostrou o estudo.
A pesquisa mostrou que a faixa de renda que menos sentiu a alta de preços foi a de 10 a 40 salários (até R$ 41.800), com 0,32%. Famílias que recebem de 3 a 10 salários mínimos (até R$ 10.450) viram o poder de compra diminuir 1,35% no período.
A diferença entre a inflação dos grupos de menor e maior renda é de 1,97 ponto percentual.
De acordo com o levantamento, os mais pobres gastam mais com alimentação no domicílio, segmento que mais pressionou a inflação após a pandemia do novo coronavírus. Além disso, o documento mostra que houve maior variação dos preços de serviços e alimentos consumidos especificamente por famílias com rendas menores.
"A pandemia da Covid-19 tem influenciado a inflação e os preços relativos no Brasil desde março. Por um lado, distanciamento social, aumento do desemprego e retração da atividade deprimiram os preços de diversos serviços. Por outro, a depreciação cambial, os programas de transferência de renda e o aumento dos gastos com alimentação no domicílio pressionaram os preços dos alimentos", destacou o BC.
No estudo, a autoridade considerou três faixas de renda. O grupo que recebe de 1 a 3 salários mínimos representa 46,2% da população alvo do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), inflação oficial do país calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Famílias que ganham de 3 a 10 salários mínimos equivalem a 44,0% e de 10 a 40, são 9,8% dentro do índice.
"A inflação acumulada em 2020 até setembro apresenta, de modo geral, relação inversa com o nível de renda familiar. Em todas regiões, as famílias com renda entre 1 e 3 salários mínimos foram as mais impactadas pela inflação", afirma o BC no documento.
"Ressalta-se que mesmo para este grupo, a inflação se encontra em patamar baixo, com variação de 2,29% no acumulado do ano para o país [3,01% em termos anualizados]", ponderou o BC.
Entre os itens que mais pressionaram a inflação das famílias que ganham entre 1 e 3 salários mínimos, o estudo destacou cereais, leguminosas e oleaginosas, leites e derivados e carnes.
Outros dois estudos da autoridade monetária, também divulgados nesta quinta, falam sobre a retomada do setor de serviços e sobre horas trabalhadas nas regiões do país.
Após o período de restrições mais intensas decorrentes da pandemia, a recuperação de serviços é diferente entre os segmentos, apontou a pesquisa. As vendas com cartão de débito mostraram atividades como recreação e lazer ainda bastante deprimidas.
"Enquanto outras, como alimentação, alojamento e cabeleireiros mostram trajetória mais clara de retomada", disse o texto.
"A atividade com recuperação mais rápida foi a de cabeleireiro, lavanderias e outros serviços pessoais, que no mês de setembro já reverteram ao faturamento pré-pandemia. A atividade de alimentação, que tem o maior peso no setor, está em trajetória crescente, mas, em outubro, ainda se encontra aproximadamente 7% abaixo do observado no primeiro bimestre", trouxe o levantamento.
Já as atividades culturais, de recreação e lazer apresentam retomada mais lenta (faturamento 53% abaixo do nível pré-pandemia). "Grande parte desses serviços ainda não estão funcionando normalmente na maioria dos estados", pontua o BC.
O levantamento que mediu as horas trabalhadas após a chegada do vírus ao país mostra retração mais intensa até abril no Nordeste e Sudeste e mais branda no Sul. A partir de maio houve tendência geral de recuperação.
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