A quebra do monopólio da Petrobras com a abertura do setor de gás natural no Brasil deve atrair investimentos bilionários para o Espírito Santo e estimular a criação de empregos nos próximos anos. Projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) dão conta que o novo mercado de gás tem potencial para destravar a construção de três novos gasodutos e duas unidades de processamento de gás natural (UPGN) no Estado.
A estimativa de investimentos no Espírito Santo é da ordem de R$ 9,1 bilhões com a construção de 285 quilômetros de dutos, o que pode criar cerca de 7 mil vagas de empregos, sendo 4,6 mil oportunidades geradas na construção dos dutos e unidades e 2,4 mil vagas na operação dessas estruturas.
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Isso porque a EPE mapeou a necessidade, em breve, de construção de dois dutos vindos do mar do Espírito Santo para escoar o gás produzido para a costa, e de um terceiro em terra, recebendo esse gás e levando-o até à malha de gasodutos já existente.
No caso dos gasodutos de escoamento, a previsão é que o Estado ganhe dois dutos. O primeiro vai conectar campos do pós-sal da Bacia do Espírito Santo a uma unidade de processamento no Litoral Norte capixaba e será necessário diante das perspectivas de produção de gás nos próximos anos em blocos hoje sob exploração da Petrobras e da Equinor na região.
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Para esse duto, são duas as alternativas mapeadas, uma ligando os campos produtores ao Porto da Imetame, em Aracruz, que deve receber um terminal e uma UPGN; e outra até a UPGN de Cacimbas, em Linhares, essa já existente. Em ambas as possibilidades, a EPE estima que os dutos deverão ter 150 km e demandar um investimento de cerca de R$ 2,3 bilhões.
"São duas possibilidades, com mais ou menos a mesma extensão, para escoar a produção em campos da Petrobras e da Equinor. Como isso será viabilizado dependerá da estratégia dessas petroleiras, que podem, por exemplo, fazer um consórcio para construir um duto só, que é uma coisa cara. E para onde vai depender da estrutura do porto e da UPGN, que já tem em Cacimbas e precisará ser ampliada, e que a Imetame também prevê ter em seu parque", destaca o consultor técnico da área de gás natural da EPE, José Mauro Ferreira Coelho.
O segundo duto de escoamento seria na região do pré-sal, na porção capixaba da Bacia de Campos. A ideia é que os dutos liguem blocos offshore da petroleira norte-americana Anadarko a portos.
Para este duto, são duas alternativas estudadas, ambas com cerca de 120 km de extensão e investimentos de R$ 1,9 bilhão: uma levando o gás até o futuro Porto Central, em Presidente Kennedy; e a outra conectando ao Porto do Açu, em São João da Barra (RJ).
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Em ambas as possibilidades para o pré-sal, seria preciso ainda construir um duto de transporte terrestre, levando o gás que chegará a um dos portos até à malha mais próxima já existente - Gasoduto Cabiúnas -Vitória (Gascav). É aí que o Porto Central sairia um pouco na frente.
Isso porque para ligar o porto de Presidente Kennedy ao Gascav, o duto precisaria de ter 15 quilômetros, com investimento de R$ 288 milhões. Já para conectar Açu ao mesmo gasoduto seriam necessários 46 quilômetros de dutos, com R$ 355 milhões de investimentos.
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De acordo com o diretor de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE, José Mauro Ferreira Coelho, a definição de qual o porto receberá o investimento vai depender das estratégicas dos operadores e também das condições oferecidas pelos portos, mas a demanda para isso haverá.
"Em pouco mais de 10 anos o Brasil vai triplicar sua produção de gás, e por isso teremos necessidade de termos gasodutos e unidades para transportá-lo e processá-lo. No pré-sal, temos três rotas hoje com capacidade de escoar 44 milhões de m³ por dia, mas a previsão é que a produção de gás no pré-sal chegue a 71 milhões de m³/dia", explica.
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Para o coordenador do Fórum Capixaba de Petróleo e Gás da Findes, Durval Vieira Freitas, o Espírito Santo demandará essa estrutura adicional. "Novos projetos no Estado da Petrobras, Equinor, ExxonMobil e Shell vão gerar muito gás. E esse gás ou você reinjeta, ou queima ou consome. Precisamos de ampliar o consumo com esse novo mercado de gás, sobretudo atraindo novas indústrias", diz.
Coelho, da EPE, ressalta que o indicativo não é determinativo, mas sim um planejamento energético com base em demandas e aumento da produção. "É um projeto indicativo, que por ter uma análise preliminar já reduz custos para empresas interessadas. Essas estruturas precisarão entrar em operação até a segunda metade da próxima década. Então como a construção demora algo em torno de 4 e 5 anos, a decisão já precisará ser tomada logo".
Esses novos gasodutos também vão demandar novas unidades de processamento de gás natural (UPGN) para tratar o gás recebido e prepará-lo para o consumo.
Uma das previstas pela EPE para o Espírito Santo é a UPGN do Porto Central, com investimentos da ordem de R$ 2,3 bilhões, para processar o gás que deve chegar pelo gasoduto de escoamento do pré-sal. Isso se o porto capixaba de fato for o escolhido como destino final do duto.
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Já no pós-sal, o investimento dependeria de até onde irá o gasoduto de escoamento. Se for para o Porto da Imetame, em Aracruz, seria necessária a construção de uma UPGN no local. Já se for para o terminal de Cacimbas, em Linhares, que já conta com uma unidade de processamento, seria necessário fazer investimentos para ampliá-las.
"No caso do Porto da Imetame e de Cacimbas, nem seria preciso construir um gasoduto de transporte para ligar à malha existente porque eles já são conectados", comenta José Mauro Ferreira Coelho, da EPE.
Antes o patinho feio entre os combustíveis, o gás natural vem se consolidando como a energia do futuro. Menos poluente que o petróleo, por exemplo, o gás tem ganhado destaque com a perspectiva de aumento da produção no país nos próximos anos e a possibilidade de empresas competirem, estimulando que o preço do insumo caia e, assim, o consumo aumente.
Se diretamente a construção e operação de gasodutos, terminais e unidades de processamento de gás já vai atrair investimentos bilionários e criar milhares de empregos no Espírito Santo na próxima década, indiretamente o novo mercado de gás tem potencial de atrair vários empreendimentos para o Estado, trazendo empregos, diversificando a economia e criando um novo ciclo de desenvolvimento.
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"Se a gente conseguir transformar esse potencial em realidade, certamente teremos um novo ciclo de desenvolvimento no Estado a partir do gás", resume Durval Vieira Freitas, coordenador do Fórum Capixaba de Petróleo e Gás da Findes. Ele complementa: "Já temos uma logística boa e os campos produtores e, tendo essa infraestrutura disponível, certamente teremos várias empresas interessadas em vir para cá".
Para isso, Durval no entanto pontua que será necessário que a livre concorrência prometida aconteça na prática. "Se a gente tiver essa política, podendo comprar diretamente de empresas produtoras como a Shell, a Equinor, a ExxonMobil, ou mesmo importar, o gás vai ficar mais barato e teremos condições das indústrias apostarem mais nisso. A competição é sempre o melhor caminho."
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Se isso se concretizar, o especialista acredita que o Estado deve virar alvo de empresas de geração de energia (termoelétricas), siderúrgicas com processos a gás, mineradoras, petroquímicas e indústrias de cerâmica, plástico e alimentos.
O diretor de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE, José Mauro Ferreira Coelho, pontua que o momento é de uma verdadeira revolução. "O setor de gás passa por um momento importantíssimo no país, com a projeção de aumento na produção, e os Estados mais bem posicionados são Rio, São Paulo e Espírito Santo, com grandes oportunidades de trazer essa indústria de óleo e gás, atrair investimentos e gerar empregos."
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