SÃO PAULO - Diante dos bons resultados da produção industrial e do varejo no início do terceiro trimestre, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revisou nesta quinta-feira (1º) sua estimativa para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro de uma queda de 6% para 5%. Para 2021, a expectativa de crescimento foi mantida em 3,6%.
O instituto alerta, porém, que as perspectivas para a economia dependem da redução das incertezas quanto à política fiscal, diante do forte aumento do déficit e da dívida pública resultante das medidas de combate à pandemia, e das pressões que vêm se acumulando por aumento de gastos.
"O país sairá da pandemia com seu desafio de consolidação fiscal redobrado, e com a necessidade de sinalizar de forma inequívoca seu compromisso com o equilíbrio fiscal", escrevem os economistas do Ipea, em relatório.
"Na ausência de medidas efetivas que disciplinem o crescimento dos gastos públicos - aí incluídos os gastos tributários -, a possível percepção de insustentabilidade da dívida pública poderia gerar um ciclo vicioso, no qual aumentos da taxa de juros, do déficit nominal e da dívida se reforçariam mutuamente, tornando cada vez mais difícil o ajuste das contas públicas e conduzindo a economia a um equilíbrio instável de baixo crescimento."
Ainda conforme a equipe do Ipea, a intensidade da recuperação da atividade depende também da evolução da pandemia, em especial da continuidade da trajetória de redução do número de novos casos e mortes.
"O efetivo controle da disseminação da Covid-19 é particularmente importante para o setor de serviços, que vem apresentando desempenho inferior aos demais devido às restrições ainda em vigor e ao comportamento cauteloso por parte de consumidores", afirmam.
Em julho, a produção industrial cresceu 8% e a estimativa do Ipea é de que o setor tenha registrado nova alta em agosto, de 6,1% em relação ao mês anterior. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulga o resultado da indústria em agosto na sexta-feira (2).
Já o varejo cresceu 5,2% no conceito restrito em julho e 7,2% no ampliado, que inclui vendas de automóveis e material de construção. Para agosto, o Ipea espera novas altas nos indicadores, de 5,6% e 7,5%, respectivamente.
Enquanto o varejo em julho já estava 5,3% acima do nível registrado em fevereiro, antes da adoção das medidas de distanciamento social, o setor de serviços ainda estava naquele mês 12,5% abaixo do patamar pré-pandemia. O instituto projeta, porém, uma alta de 7,6% para o setor em agosto, após avanço de apenas 2,6% em julho.
A melhora da projeção para o PIB feita pelo Ipea acompanha uma tendência geral.
No boletim Focus, a estimativa mediana dos economistas chegou a ser de queda de 6,5% da atividade em meados de junho, mas está atualmente em cerca de 5%. O Banco Central também melhorou este mês sua projeção de -6,4% para -5%. Já a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) revisou sua perspectiva para o PIB do país para queda de 6,5%, de estimativa anterior de um tombo de 7,4%.
Ao mesmo tempo em que mostra otimismo com o desempenho da atividade, o Ipea piorou sua projeção para a inflação esse ano, de uma alta de 1,8% para 2,3%. A mudança foi influenciada principalmente por uma revisão na perspectiva para a inflação dos alimentos, de avanço de 3% no ano para 11%.
Mesmo com a perspectiva de uma inflação um pouco mais alta este ano, os economistas do Ipea avaliam que o nível de preços não é motivo para maiores preocupações por enquanto.
"A expectativa de uma retomada apenas gradual da demanda, aliada à capacidade ociosa presente na maioria dos setores produtivos e à redução dos custos de mão de obra e aluguéis, deve continuar mantendo uma trajetória bem comportada do nível médio de preços", afirmam, em relatório.
Para 2021, o instituto espera que a inflação acelere para uma alta de 3,3%, acompanhando a perspectiva de aumento da demanda, com a recuperação esperada da economia.
"Mesmo diante da expectativa de um comportamento mais favorável dos alimentos, haverá uma pressão maior vinda tanto dos demais preços livres quanto dos administrados [como conta de luz, combustíveis, transporte público, medicamentos e planos de saúde] compatível com um cenário de atividade econômica mais dinâmico em 2021."
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