O armazenamento da safra de milho no Centro-Oeste pode ter problemas devido ao isolamento provocado pela pandemia do novo coronavírus no País. A afirmação é da Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso), que também aponta problemas como dificuldades para embarcar produtos e ausência de assistência no campo.
Em maio, terá início a colheita da segunda safra de milho, que deve ser forte no estado, mas que não terá onde ser armazenada se as medidas de isolamento persistirem nas próximas semanas, segundo o presidente da associação, Antonio Galvan.
"É simples, não teremos espaço para armazenar milho caso não retire essa soja que está dentro dos armazéns hoje. E a movimentação de caminhões nas rodovias está muito pequena, tudo atrapalha. Não sei se o total de caminhões nas rodovias chega a 25%", afirmou.
A avaliação da Aprosoja é a de que, por segurança, seria necessário ter armazenamento equivalente a 120% da produção, mas os armazéns disponíveis cobrem apenas 60% do total.
Dois caminhoneiros ouvidos pela reportagem disseram estimar que o fluxo de veículos no trecho entre Cuiabá e Sinop está 70% abaixo do normal."Temos 60 dias para colher o milho. A procura é imensa, há escassez no mundo. Quando dá o ponto de colheita, de umidade, o produtor vai colher, ele tem de colher, não pode segurar", disse.
Outro problema para o milho é que a safra que foi plantada há pouco mais de um mês depende de trato cultural e, se o produtor precisar de defensivos agrícolas, pode não conseguir devido à situação provocada pelo coronavírus. "Um dente da engrenagem está quebrado, que é o isolamento. Se isso não se resolver, atrapalha tudo."
No estado, o isolamento tem atrapalhado ainda embarques, assistência técnica e mecânica, além de empresas que têm alegado que atrasarão pagamentos por não conseguirem retirar produtos de armazéns. Houve casos no estado de o município proibir por meio de decreto o transporte de produtos agrícolas para fora da cidade, como o de Canarana, para conter a disseminação do coronavírus.
O setor reclamou da medida e se reuniu com a prefeitura em busca de reverter a decisão, que poderia interromper o fluxo de mercadorias e operações de tradings que atuam no região. "Isso foi um absurdo. Na prática, o município estava proibido de fazer a colheita", disse.
Já com a cana-de-açúcar, além de queda na demanda de etanol, o isolamento tem provocado problemas pontuais em usinas no centro-sul do país, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
Entre eles estão a dificuldade para efetuar a colheita manual em alguns pontos isolados e atraso na entrega de equipamentos a serem reformados.
"O primeiro impacto no curto prazo é a demanda de etanol para fins combustíveis. Para abril, alguns cenários de distribuidoras falam em 20% a 30% de queda na demanda", afirmou o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues.
Um cenário de prolongamento do isolamento e baixa demanda poderá gerar problema de caixa nas empresas, segundo ele, pois 70% do valor recebido no ano-safra é desembolsado na própria safra para custear plantio, colheita e reforma de lavouras, entre outros gastos.
"Elas têm de manter produção, e aí imagine, pois vendendo menos a preço que ainda possa ficar abaixo do custo de produção, elas vão ter de vender mais para continuar produzindo."
Ao contrário do etanol, porém, no açúcar não houve impacto. "Até houve incremento nas vendas para o mercado interno. Não sei se é reforço das empresas, estoques ou supermercados, mas aumentaram as vendas."
Nas lavouras, reformas de canaviais, dependentes de mão de obra, e manutenção em usinas podem ser prejudicadas com o isolamento.
"É um problema pontual ainda, pois, em março de 2019, tínhamos 80 usinas produzindo e agora são 79. Até 15 de abril, deveremos ter 198, ante as 157 do ano passado, a não ser que haja algum problema nos próximos 15 ou 20 dias", disse.
Segundo Rodrigues, apesar dos problemas as usinas estão operando normalmente e manter a atividade é essencial para garantir o abastecimento de etanol, açúcar e bioeletricidade.
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