A Justiça de Nova York rejeitou a proposta de financiamento, no modelo DIP (devedor em posse), de US$ 2,4 bilhões (R$ 12,7 bilhões) da Latam nesta quinta-feira (10).
O grupo entrou com o pedido de empréstimo em julho, logo após o pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, em maio. Em julho, a operação no Brasil também entrou com pedido de recuperação.
O grupo Latam tem dívidas de quase US$ 18 bilhões (R$ 95,76 bilhões) e foi impactado pela interrupção e queda na demanda de voos com a pandemia de Covid-19.
Como parte da recuperação, a companhia tenta um empréstimo com a Oaktree, gestora de investimentos americana, e com seus acionistas controladores, a Qatar Airways e as famílias Cueto e Amaro.
A Oaktree dará US$ 1,3 bilhão (R$ 6,9 bilhões) e os acionistas, US$ 900 milhões (R$ 4,8 bilhões), podendo elevar o empréstimo para um total de US$ 2,4 bilhões (R$ 12,7 bilhões). Segundo a proposta, os controladores determinavam que o pagamento do empréstimo a eles fosse feito pela Latam em dinheiro ou em ações, com 20% de desconto neste caso.
Credores e acionistas criticam a proposta, já que ela abre margem para a ampliação do controle das famílias e da Qatar sobre a Latam. Além disso, no modelo DIP, os financiadores recebem primeiro, entes mesmo dos credores com garantia no processo de recuperação judicial.
De acordo com o juiz James Garrity Jr., os credores devem votar como será feito o pagamento do empréstimo, o que invalida a proposta atual.
A companhia pode recorrer ou retirar a cláusula de remuneração da proposta, que teve todos os outros pontos aprovados.
O financiamento daria um alívio imediato à companhia, que está com dificuldades para custear a sua operação.
"A empresa pode aceitar as condições e já colocar a mão no dinheiro. Agora, vão decidir se é mais importante salvar a companhia ou se salvar. A Latam já deixa de pagar coisas básicas como tarifas aeroportuárias", diz Ana Carolina Monteiro, advogada da área de reestruturação e insolvência do Kincaid e representante dos credores da Latam.
Ela aponta que, caso a empresa não tenha acesso ao DIP, há grande risco de falência.
Até a conclusão desta reportagem, a diretoria da Latam estava reunida para discutir os próximos passos. Procurada, a empresa comentou apenas que "está avaliando a sentença".
Em julho, os credores encaminharam objeção ao empréstimo à Justiça americana, por o considerarem muito caro.
No Brasil, a Latam emprega cerca de 20 mil pessoas. Em julho, demitiu 2.700, após demissões, licenças não remuneradas e cortes salários em março.
A redução do número de voos chegou a 95% no início da pandemia. As aéreas tiveram queda drástica de caixa, entraram no vermelho e passaram a negociar um pacote de socorro ao setor com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A Latam, porém, ainda não conseguiu empréstimo com o banco público.
A Latam Brasil disputa a liderança do mercado de aviação doméstica no Brasil com a Gol, e é a companhia que mais fazia voos internacionais até o início da pandemia. A filial brasileira é a principal operação do grupo, e representa cerca de metade do seu faturamento.
O presidente da empresa, Jerome Cadier, afirmou à reportagem que a lenta recuperação do setor aéreo e a demora para fechar um acordo com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) sobre um pacote de socorro à empresa influenciaram a decisão de incluir a Latam Brasil na reestruturação do grupo chileno.
"Existe um receio natural do BNDES de tomar decisões diferentes das corriqueiras, o DIP não é um mecanismo que o banco está acostumado a usar, como debêntures conversíveis. Temos conversado nas últimas semanas e direcionando as negociações [para um DIP]", afirmou Cadier em julho.
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