A Latam Brasil vai iniciar nesta quarta (27) uma nova negociação com os sindicatos de tripulantes e aeroviários (trabalhadores em solo) a fim de reduzir o número de funcionários da companhia aérea, segundo o diretor-executivo da empresa, Jerome Cadier.
O grupo Latam, que tem dívidas de quase US$ 18 bilhões (R$ 96,35 bilhões), anunciou na madrugada desta quarta-feira (26) que formalizou um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos de suas operações em Chile, Peru, Colômbia, Equador e nos EUA. As filiais da aérea em Argentina, Brasil e Paraguai não fazem parte do pedido de proteção à falência.
A Latam emprega no Brasil cerca de 21 mil pessoas, segundo Cadier. À Folha de S.Paulo o executivo diz que a empresa precisa reduzir de tamanho para se adequar à queda brusca de demanda resultante da pandemia do novo coronavírus.
A linha aérea opera hoje no Brasil com 5% de sua capacidade, e prevê uma retomada paulatina dos voos pelos próximos meses. A empresa fez um acordo coletivo com os sindicatos em março que previa licenças não remuneradas e cortes salários que, na prática, chegaram a 80%. Como contrapartida, prometeu não fazer demissões até o fim de junho.
"A Latam continua honrando o acordo com o sindicato (dos aeronautas). A partir de amanhã (27), entraremos em negociação com os sindicatos para entender qual é a melhor forma da gente ajustar o tamanho da companhia à nova realidade de mercado. A demanda caiu a curto prazo violentamente e vai cair a longo prazo. Vamos operar de 30% a 40% a menos que no ano passado no fim do ano. A Latam não pode manter o mesmo tamanho", disse Cadier.
O executivo afirma que entre os formatos possíveis de cortes estão a realização de um PDV, a extensão de licenças não remuneradas, suspensões de contrato, reduções de jornada.
A jornalistas, o presidente do grupo, Roberto Alvo, disse não descartar demissões na companhia.
Sobre o pacote de socorro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao setor aéreo, Alvo disse estar confiante quanto às negociações com o banco estatal, cuja oferta prevê participação de instituições financeiras privadas e outros agentes de mercado.
"Acho que a estrutura [financeira do pacote de socorro] que o banco propôs é um pouco complexa. Acreditamos que os países em que estamos entendem a importância que tem a indústria aérea e a Latam em particular para suas economias e vamos continuar conversando tanto com o BNDES quanto com o governo do Brasil. Estou confiante de que podemos encontrar uma solução".
Alvo diz que 95% das dívidas do grupo estão concentrados na holding chilena e o restante está dividido em filiais como a brasileira. O montante listado pelo grupo em seu pedido de recuperação judicial chega a US$ 17,96 bilhões (R$ 96,35 bilhões no câmbio atual). A empresa diz esperar que a reestruturação termine em, no máximo, 18 meses.
A concentração das dívidas fora do Brasil e a conversa em andamento com o BNDES são fatores pelos quais a empresa não pediu recuperação judicial aqui, segundo Jerome Cadier.
"Temos uma discussão na mesa há várias semanas com o BNDES que está caminhando para uma situação positiva em que o banco pode ajudar a operação brasileira e a gente daria a garantia ao banco que esse dinheiro seria usado só no Brasil. É uma das preocupações deles. Se entrássemos [em recuperação judicial] aqui também, seria mais difícil garantir que o dinheiro ficaria no país", afirmou.
A reestruturação nos Estados Unidos já prevê uma renegociação dos contratos de leasing e uma redução de frota em todas as empresas do grupo, segundo Cadier. A companhia deverá devolver 20 aeronaves já nesta terça (26). Segundo ele, o processo de reestruturação permite a quebra de contratos de arrendamento antes do fim originalmente estipulado.
"Temos de nos preparar para reduzir entre 30% e 40% a frota durante este ano e depois, à medida que a demanda for voltando, voltarmos a crescer. O ajuste é dessa ordem de grandeza, da frota e das rotas de voo", afirma ele.
"Precisamos negociar uma redução dos preços (de leasing de aeronaves) também. A gente tem que mirar uma redução da ordem de 30% no mínimo. É mais ou menos o que vai acontecer com o preço de mercado no geral. A companhia tem que ser capaz de capturar o preço mais baixo de mercado. Ninguém pode pagar mais o preço pré-Covid, ele não existe mais", disse.
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