Uma queda na chamada margem financeira, o resultado com operações e intermediações financeiras, fez a Caixa Econômica Federal registra queda no resultado do terceiro trimestre deste ano.
A margem financeira caiu 48% no terceiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2019, para R$ 9,879 bilhões. A margem financeira é a principal receita do banco, tida principalmente com operações de crédito e intermediações financeiras. Em relação aos três meses anteriores, a margem subiu 2,7%.
A redução da margem foi um dos principais responsáveis pela nova queda de 37,6% do lucro líquido do período em relação ao terceiro trimestre de 2019, para R$ R$ 2,636 bilhões. Em relação ao trimestre anterior, o lucro teve alta de 1,7%.
O lucro contábil, que considera receitas e despesas não recorrentes do banco, foi de R$ 1,890 bilhão de julho a setembro -uma queda de 76,5% em relação a igual período de 2019. Em relação ao trimestre anterior, o lucro caiu 26,1%.
Segundo o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, a queda da margem financeira em relação ao ano passado foi impulsionada pelas dificuldades trazidas pela pandemia de coronavírus.
"Ainda temos um número sensível de pessoas trabalhando remotamente. Isso significa que não há o mesmo número de pessoas focadas em realizar vendas, principalmente porque a prioridade tem sido o auxílio emergencial. Além disso, temos provisões importantes de crédito que também explicam esse impacto", afirmou em conferência para falar dos resultados do banco.
As reservas contra calotes da Caixa totalizaram no período R$ 2,742 bilhões, uma queda 6,5% em relação a igual período de 2019. As provisões do resultado contábil, no entanto, ficaram em R$ 3,670 bilhões -o que representa um aumento de 25,2% na mesma comparação.
"Desse total, R$ 1,3 bilhão veio como provisão extra em prol das operações de crédito e do acordo coletivo. Os resultados têm sido melhores do que o esperado, mas vamos continuar [fazendo provisões] mesmo com a queda contínua da inadimplência", afirmou Guimarães.
O presidente da Caixa, disse, ainda, que apesar de não ser possível antecipar detalhadamente o que tem acontecido no quarto trimestre, a expectativa é de que não haja mais provisões adicionais neste ano. "Também não vemos necessidade de reverter as provisões já feitas. Queremos dar tempo ao tempo", afirmou.
A carteira de crédito ampla do banco atingiu R$ 756,5 bilhões no terceiro trimestre deste ano, um aumento de 10,7% em comparação ao mesmo intervalo de 2019.
A carteira de pessoas jurídicas foi a que mais cresceu no período, com alta de 52,7%, para R$ 61,4 bilhões. O resultado conta com os empréstimos cedidos no âmbito do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), de R$ 12,1 bilhões.
No âmbito do FGI (Fundo Garantidor de Investimentos) e do Fampe (Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas) foram cedidos R$ 11,1 bilhões e R$ 2,3 bilhões, respectivamente.
As concessões de crédito para habitação, principal negócio da Caixa, atingiram R$ 498,7 bilhões no terceiro trimestre, um avanço de 9,3% em relação a iguais três meses de 2019. A linha representa 65,9% da carteira total.
O crédito para pessoas físicas subiu 5,2% na mesma base de comparação, para R$ 85,7 bilhões, enquanto as concessões voltadas para saneamento e infraestrutura registraram alta de 6,1%, para R$ 86,7 bilhões, e o crédito rural subiu 32,9%, para R$ 6,9 bilhões na mesma relação.
O índice de inadimplência total acima de 90 dias da Caixa ficou em 1,87%, uma redução de 0,51% p.p. (ponto percentual) em relação ao terceiro trimestre de 2019.
Em relatório divulgado nesta quarta-feira (25), o banco afirmou que não houve alterações no processo de apuração de provisão de risco de crédito, nem na constituição de provisão prudencial.
"Essas operações são fundamentadas nas características das operações da Caixa, que são concentradas em operações de longo prazo, com garantias reais e com mais de 91,9% das operações classificadas em níveis de riscos entre AA e C [considerados mais baixos]. A Caixa continuará acompanhando as operações de crédito, em especial quanto aos reflexos da pandemia de Covid-19 na economia", disse o banco.
O presidente da Caixa também afirmou que o resultado do terceiro trimestre deste ano ainda traz uma diferença de aproximadamente R$ 730 milhões, que são referentes à redução da tarifa cobrada do FGTS para administração dos recursos do fundo, que saiu de 1% para 0,5%.
"No terceiro e no quarto trimestre do ano passado, ainda tínhamos R$ 700 milhões a mais, que não voltaremos a ter por conta da redução da taxa de gestão. Mas na análise normalizada [que ajusta esses números para uma base comparável], temos crescimento", disse Guimarães.
As receitas com prestação de serviços e tarifas bancárias do banco público atingiram R$ 6,1 bilhões no terceiro trimestre, recuo de 12,4% em relação a igual período de 2019. As despesas de pessoal subiram 7% na mesma base de comparação, para R$ 5,5 bilhões.
No início deste mês, a Caixa abriu um PDV (plano de demissão voluntária) para 7.200 funcionários. O número responde por 8,5% do quatro de funcionários da Caixa, de aproximadamente 84,3 mil pessoas. Em anos anteriores, a média de adesões desses planos foi de até 2 mil funcionários.
No terceiro trimestre, as receitas com seguros totalizaram R$ 84,1 milhões, avanço de 78,9% em relação a igual período de 2019. Já as receitas com cartões somaram R$ 751 milhões, um aumento de 5,8% na mesma relação.
Em setembro, a Caixa desistiu mais uma vez de fazer o IPO (abertura de capital) de sua subsidiária de seguros, citando a atual conjuntura do mercado como motivo para o adiamento. A expectativa era de que o banco levantasse mais de R$ 10 bilhões na oferta secundária -quando o dinheiro arrecadado vai para o acionista vendedor-, vendendo parte de sua participação na Caixa Seguridade.
Entre os programas de transferência de renda que aconteceram por meio do banco, a estimativa é de um total de pagamentos no valor de R$ 356 bilhões, que alcançaram cerca de 120 milhões de pessoas. O destaque é do auxílio emergencial, que responde por R$ 297,8 bilhões desse total, tendo alcançado 67,8 milhões de pessoas.
A respeito do Caixa Tem, aplicativo por meio do qual os benefícios sociais estão sendo pagos durante a pandemia do coronavírus, o banco público informou que foram criadas 105 milhões de contas, com a geração de 95,8 milhões de cartões de débito virtual.
Guimarães já havia informado sua intenção de transformar o aplicativo em banco digital separado e em, posteriormente, fazer sua abertura de capital.
"Há um consenso, internamente, de que o banco digital é o futuro da Caixa. Estamos com uma tratativa inicial com o conselho de administração e já tivemos algumas conversas com o Banco Central sobre criar esse banco digital. O objetivo é monetizar uma parte [desse banco] logo após sua aprovação, que esperamos que aconteça nos próximos seis meses. Pretendemos realizar essa abertura de capital, mas antes é necessário que haja a aprovação", afirmou.
A Caixa já teria separado uma equipe de 100 pessoas para cuidar do banco digital que deve também contar com um programa específico de microcrédito, além de listagem no Brasil e nos Estados Unidos. A expectativa é que a chegada da nova plataforma reduza os custos do banco com pessoal, aluguel e numerário.
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