RIO DE JANEIRO E BRASÍLIA - Em meio à ofensiva para indicar o ex-ministro Guido Mantega no comando da Vale, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quinta-feira (25) a atuação da mineradora após a tragédia de Brumadinho (MG), que matou 270 pessoas há cinco anos.
Em outra frente, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também recorreu às redes sociais para reforçar a pressão pela indicação do ex-ministro, segundo ela, "um dos brasileiros mais injustiçados de nossa época".
A mineradora privada começa a debater nesta quinta a sucessão em seu comando, com reunião do comitê interno que avaliará a gestão do presidente atual, Eduardo Bartolomeo, e recomendará ao conselho se reconduz o executivo ou busca novo profissional no mercado.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer colocar Mantega no cargo como uma forma retribuir os serviços prestados pelo ex-ministro, que comandou a Fazenda de 2006 a 2015 — nas gestões de Lula e de Dilma Rousseff (PT).
Lula ainda não falou publicamente sobre esse desejo. Nesta quinta, porém, questionou a gestão atual da companhia, em uma rede social.
"Hoje faz cinco anos do crime que deixou Brumadinho debaixo de lama, tirando vidas e destruindo o meio ambiente. Cinco anos e a Vale nada fez para reparar a destruição causada", escreveu.
"É necessário o amparo às famílias das vítimas, recuperação ambiental e, principalmente, fiscalização e prevenção em projetos de mineração, para não termos novas tragédias como Brumadinho e Mariana", afirmou.
Em sua manifestação desta quinta, Gleisi reforçou argumento de Lula sobre injustiças que teriam sido cometidas contra o ex-ministro em acusações sobre sua responsabilidade na recessão iniciada no fim do governo Dilma.
Ela argumenta que, enquanto ele esteve no Ministério da Fazenda, entre 2006 e 2014, o país experimentou um período de crescimento econômico, inflação controlada e baixo desemprego.
"Pouquíssimos brasileiros são tão qualificados quanto Guido Mantega para compor o conselho da Vale, uma empresa estratégica para o país e na qual o governo tem participação e responsabilidades, mesmo depois de sua privatização danosa ao patrimônio público", afirmou.
"Guido Mantega foi alvo de mentiras e acusações falsas do lavajatismo", prosseguiu a presidente do PT. "Agora virou alvo de mentiras grosseiras por parte da mídia que quer condená-lo ao ostracismo, perpetuando a injustiça."
A participação do ex-ministro no conselho da Petrobras durante o governo Dilma foi questionada pela própria direção da empresa, que também havia sido indicada pela ex-presidente.
Em depoimento ao MPF (Ministério Público Federal), a ex-presidente da estatal Graça Foster afirmou que Mantega impediu reajustes de combustíveis durante período eleitoral mesmo diante da deterioração das contas da companhia.
Em agosto de 2014, pouco antes do primeiro turno, Graça reconheceu em reunião do conselho que a companhia estava "no limite", que houve sacrifícios em conter reajuste desde 2011, mas disse "que não tinha poder para fazê-lo", já que a palavra final era do então ministro.
A indicação de Mantega é vista como uma tentativa de ingerência do governo em uma empresa privada, que hoje não tem controlador definido. Enfrenta resistência entre investidores privados e vem mexendo com as ações da companhia em bolsa.
A decisão final sobre o novo presidente é do conselho de administração, hoje composto por 13 membros, a maior parte deles independentes. Dois são indicados pela Previ e um pelos trabalhadores. Bradesco e Mitsui têm um representante, cada.
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