A vencedora do Nobel de Economia de 2019, Esther Duflo, afirmou nesta quinta-feira (16) que a população mais pobre acaba sendo um "amortecedor" dos impactos econômicos da crise do coronavírus para as classes mais altas.
Segundo Duflo, as diferentes condições de trabalho - que não permitem home office, por exemplo - e a maior dificuldade em acessar o tratamento de qualidade necessário em caso de contaminação pelo Covid-19 são os principais motivos.
"Os mais riscos conseguem continuar trabalhando de casa, então o choque econômico é limitado para eles. Mas os mais pobres precisaram continuar trabalhando presencialmente e, eventualmente, acabam doentes por não conseguirem manter o distanciamento social ou mesmo perdem os empregos porque não exercem uma função que permite o trabalho remoto. Os impactos da pandemia são definitivamente desiguais", afirmou a economista em transmissão ao vivo na Expert XP, evento promovido pela corretora.
Ela disse, ainda, que a América Latina começava a obter sucesso na diminuição da desigualdade social depois de anos de trabalho, mas que o processo foi interrompido pela pandemia.
"Algumas pessoas até disseram que a pandemia é como um amante, que o vírus não sabe se você é rico ou pobre, mas, infelizmente, não é assim. Nos Estados Unidos, por exemplo, os latinos e africanos têm três vezes mais chances de serem infectados pelo coronavírus e quatro vezes mais chances de morrerem pela doença do que os brancos não latinos ou africanos."
Para Duflo, é necessário que os governos tenham respostas e políticas públicas que atendam as necessidades dos mais vulneráveis.
"Sobre a resposta econômica à pandemia, é preciso que nos viremos para os mais pobres para garantir que eles sejam capazes de atravessar a desaceleração da atividade econômica e para assegurar que eles consigam se manter, caso haja um novo lockdown [medidas drásticas de isolamento social] no futuro", disse.
A economista também afirmou que talvez seja necessário que os países repensem a globalização para a nova realidade do pós-pandemia.
"A interdependência [de uma economia global] é algo que pode ajudar nesse avanço e eu não vejo uma lógica que sinalize algum retrocesso. Estamos aprendendo a diversificar a cadeia global de suprimentos e isso também pode colocar outros países nas negociações internacionais", disse.
Duflo foi a vencedora mais jovem e a segunda mulher a ganhar o prêmio Nobel de Economia. A economista recebeu o reconhecimento em 2019, junto aos seus colegas Michael Kremer e Abhijit Banerjee, por trabalhos com abordagem experimental para alívio da pobreza em escala mundial.
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