Após assinar nota técnica que relata problemas relacionados à venda de títulos públicos, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, disse nesta quinta-feira (16) que o governo não tem dificuldade em se financiar.
Em documento publicado na quarta-feira (15) para apontar impactos gerados pelo pacote de socorro a estados aprovado pela Câmara, Mansueto e sua equipe afirmam que o Tesouro tem enfrentado, desde antes da pandemia do novo coronavírus, dificuldades de colocar títulos com vencimentos longos no mercado.
A nota ressalta que, diante do cenário atual de incertezas, o governo foi obrigado a cancelar diversos leilões de títulos públicos durante o mês de março.
Em videoconferência promovida pela Necton Investimentos nesta quinta, porém, Mansueto adotou tom moderado e disse que não há problemas. Ele disse que já houve períodos de desconfiança sobre a capacidade de financiamento do Tesouro, o que não se observa atualmente.
"A gente não tem problema de financiamento. A gente não vende mais [títulos] porque está fazendo administração de taxa e acha que não precisa ir ao mercado exatamente agora. Não tem nenhum problema de financiamento", afirmou.
O secretário explicou que, neste momento, o Tesouro "não está desesperado para voltar ao mercado" e vai esperar uma estabilização dos indicadores da economia. Segundo ele, o governo tem hoje um colchão de recursos que permite passar alguns meses sem leilões de títulos.
Mansueto disse que é natural que o governo pague um prêmio adicional aos compradores de títulos, mas disse que as taxas hoje estão baixas em relação a anos anteriores.
O secretário justificou que a redução da busca por títulos de longo prazo está relacionada à ausência de apetite de agentes como fundos de pensão e investidores estrangeiros, mesmo antes da crise do coronavírus.
Na nota divulgada no dia anterior, Mansueto afirmava que nenhum governo tem capacidade de se endividar infinitamente ao mesmo tempo que controla a inflação.
"Ainda que, em tese, um governo possa ofertar quantos títulos quiser, ele só poderá emitir se tiver alguém que os compre. Em casos extremos, a demanda por títulos públicos pode tender a zero", disse no documento.
Nesta quinta, ele afirmou que a dívida bruta do governo deve ficar entre 85% e 90% do PIB (Produto Interno Bruto) no encerramento deste ano e minimizou a gravidade do patamar.
"Se a gente consolidar na saída [da crise] uma agenda de reforma, com inflação controlada e juros baixo, não me assusta esse tamanho tão alto da dívida", afirmou.
O secretário evitou traçar cenários específicos para sanear as contas públicas após a pandemia.
"O ajuste fiscal em 2020 não é prioritário. Temos que gastar mais com saúde, proteger pessoas em situação frágil e ter políticas de manutenção de emprego. A gente vai sair com um buraco fiscal maior e uma dívida maior. Como vamos pagar isso, é um debate do próximo ano", disse.
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