O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, afirmou nesta terça (21) que "a maré está virando" contra a China na disputa pelo mercado da tecnologia 5G no mundo.
Falando em um webinário do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, Esper comentava a exclusão da gigante chinesa Huawei do fornecimento de infraestrutura crítica para o 5G no Reino Unido.
"Temos uma grande preocupação com a Huawei. O 5G vai mudar o jogo na dominância tecnológica", afirmou. "Fico feliz em dizer que a maré está virando", arrematou.
Na semana passada, Londres determinou que as operadoras de telefonia celular do país parassem de comprar componentes da Huawei a partir de 2021 e expurgassem suas redes deles até 2027.
Os EUA, diz Esper, seguirão "encorajando outros países a fazer o mesmo".
O Brasil está na lista do embate: o leilão das frequências de 5G deve ocorrer no ano que vem, e há debate interno no governo: de um lado, os EUA são aliados ideológicos da gestão Jair Bolsonaro, e do outro, Pequim é a maior parceira comercial do país. Até aqui, a Huawei está liberada para operar.
A decisão de Londres, saudada pelo presidente Donald Trump como uma vitória pessoal e pelo governo chinês como um ultraje político, veio na esteira do agravamento da crise entre o Ocidente e Pequim -a chamada Guerra Fria 2.0, liderada pelos EUA de Donald Trump.
No caso britânico, o golpe foi mais duro porque o governo de Boris Johnson inicialmente havia achado uma solução para manter a Huawei no jogo, fornecendo até 35% das redes, sem ter acesso a sistemas de segurança nacional ou estratégicos.
Esper ressaltou esse ponto em sua fala nesta manhã. Afirmou que os aliados americanos na Otan, o clube de defesa do Ocidente que tem 30 membros, a maioria europeus, não poderia correr o risco de ter suas informações à mercê dos chineses.
A "influência chinesa na Otan", como definiu, seria um perigo à segurança de todo o mundo. A China nega as acusações de que os sistemas da Huawei permitem o vazamento de dados confidenciais para seus serviços de inteligência.
A Huawei é vista nos EUA e, agora, no Reino Unido, como um ator estatal agressivo. Ela não pertence ao governo chinês, mas tem estreito laços com o regime comunista e foi fundada em 1987 por um ex-chefe militar.
Com soluções mais baratas do que a concorrência, hoje centrada na sueca Ericsson, na finlandesa Nokia e na sul-coreana Samsung, ela domina desde 2012 o mercado de infraestrutura para celulares. E lidera o fornecimento do 5G, apesar de estar perdendo terreno devido ao cerco americano.
A nova tecnologia é a base da chamada internet das coisas. Como o 4G atual permitiu o florescimento de empresas em torno de um ecossistema de aplicativos e serviços, como as redes sociais, o 5G promete um salto ainda maior, de interconexão ampliada do cotidiano.
Além disso, e aí é a preocupação central de Esper, ela estará no coração de novas formas de combate no futuro. Aviões, tanques e submarinos não-tripulados, fusão de dados com informações em tempo real das condições no campo de batalha, aviso antecipado de ações como lançamento de mísseis, tudo isso está no escopo futuro do 5G.
Outros países, como a Austrália e o Japão, já baniram a Huawei. No caso britânico, houve um componente político extra, que foi a implantação da draconiana nova lei de segurança nacional chinesa em Hong Kong, que foi colônia de Londres até 1997.
O texto gerou críticas no Reino Unido, que viu seu tratado de devolução do território violado e rompeu acordos bilaterais existentes com Hong Kong em retaliação.
Além disso, Trump deu uma mãozinha: em maio, proibiu a venda de chips com tecnologia americana, quase todos no mercado, para a Huawei. Isso afetou diretamente empresas como a maior do mundo na área, a taiwanesa TSMC, que inclusive deverá abrir uma fábrica nos EUA.
A disputa tecnológica e comercial é vista por Pequim apenas como um jogo político cínico, dado que até aqui os EUA fizeram tão bom uso de sua relação comercial com os chineses quando vice-versa.
Os limites dessa batalha sobre países interligados economicamente ainda é especulado por analistas, mas no momento a mão mais alta da partida parece estar com Washington -ao menos na retórica de Trump, que precisa ser dura para enfrentar a tentativa difícil de reeleição em novembro.
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