A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) considera que a máxima histórica do preço da carne bovina registrada no final de novembro é "ponto fora da curva", resultado de uma confluência de fatores que vai além da explosão de demanda da China.
A avaliação foi feita Bruno Lucchi, superintendente técnico da CNA, durante o balanço anual feito pela entidade.
Em 29 novembro, o preço da arroba do boi gordo atingiu a máxima histórica de R$ 231,35, o que representou alta acumulada de 35,5% no mês. Na terça-feira (03), a cotação diária teve recuo de 3,67%, chegando a R$ 219,45 a arroba, segundo o indicador Esalq/B3.
De acordo com Lucchi, o aumento das exportações à China - que assistiu a uma drástica redução do rebanho suíno em razão da peste africana- não foi a única razão para a elevação dos preços da proteína bovina no Brasil.
Também contribuíram, disse o representante da entidade, uma oferta reprimida registrada em 2019 e a gradual recuperação da demanda dos consumidores nacionais nos últimos meses.
"A questão da oferta e demanda já vai se equilibrar. O que aconteceu nesse período foram realmente vários fatores pontuais que pegaram os seus extremos, o que culminou num ponto realmente fora da curva", afirmou o superintendente.
Apesar da avaliação de que haverá um reequilíbrio da oferta e da demanda, o presidente da entidade, João Martins, disse que os preços da carne bovina não vão voltar aos patamares praticados há 60 ou 90 dias atrás, porque os valores estavam reprimidos.
"Estávamos no pico da baixa da entressafra, com o menor preço dos últimos anos. Já estávamos esperando, se não houvesse essa demanda muito grande lá fora e se não houvesse essa desvalorização cambial, que alguma coisa acontecesse", declarou.
"Outra coisa: não é só a China que está comprando carne. Tem China, Vietnã, Estados Unidos [carne processada]. Há demanda do mundo inteiro. Os preços já estão se acomodando", concluiu.
Na apresentação feita na CNA, foram apresentados números sobre a explosão da demanda chinesa.
A peste suína africana levou a uma redução de 28% do rebanho chinês em 2019, com 120 milhões de cabeças a menos. Isso fez com que os chineses aumentassem as compras de proteínas animais de gado e de frango.
De acordo com a confederação, de janeiro a novembro houve um aumento de 39,5% das exportações brasileiras de carne bovina à China. Também houve forte incremento do envio de porco (49%) e de frango (27,7%) para o gigante asiático.
Segundo o superintendente da CNA, também contribui para a alta demanda chinesa a proximidade com o ano novo daquele país, em 25 de janeiro, quando é tradição que a população consuma mais proteína animal.
Para argumentar que haverá um reequilíbrio dos preços, Lucchi disse que a China chegou a pagar US$ 5,8 mil pela tonelada de carne bovina em novembro.
"A tendência está sinalizando que em dezembro esses valores vão ter um reajuste, porque até mesmo para eles [chineses] é um valor muito elevado para se pagar na tonelada de carne bovina", afirmou o superintendente.
Na frente interna, a CNA citou uma oferta menor de carne bovina por parte dos produtores neste ano, além da recuperação do consumo das famílias e o aumento tradicional das compras de carne registradas para as festas de fim de ano.
Para ampliar a oferta, a CNA avalia que os produtores já estão se preparando para melhorar as produções, com investimentos em tecnologia --ue permitem por exemplo o abate de animais mais novos - e o aumento do número de cabeças confinadas.
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