Em meio à alta nos preços dos alimentos e de combustíveis, os economistas do mercado financeiro já projetam uma inflação em 2021 acima da meta perseguida pelo Banco Central.
O Relatório de Mercado Focus - que reúne as expectativas do mercado - indica que a inflação projetada para este ano já está em 3,82%. O centro da meta perseguida pelo BC é de 3,75%. A margem de tolerância é de 1,5 ponto porcentual (inflação entre 2,25% e 5,25%).
Esta é a primeira vez, considerando as projeções feitas nos últimos dois anos, que o mercado indica a expectativa de que o IPCA - o índice oficial de inflação - fique acima do objetivo central do BC, ainda que dentro da margem de tolerância.
O porcentual diz respeito à mediana de todas as projeções encaminhadas ao BC para formulação do relatório. Mas para pelo menos uma instituição consultada no Focus, a inflação encerrará 2021 em patamar ainda maior, aos 4,61%.
A elevação das projeções reflete a pressão exercida pelos preços dos alimentos e de itens do setor de energia. Desde o ano passado, a alta das commodities no mercado internacional tem influenciado as cotações do dólar, o que também traz impactos para outros itens da cesta de produtos e serviços dos índices de inflação.
No setor de energia, há impactos recentes da adoção de bandeiras tarifárias e dos reajustes dos combustíveis realizados pela Petrobras, na esteira dos aumentos dos preços internacionais do petróleo.
Em reação, na última sexta-feira o presidente da República, Jair Bolsonaro, anunciou a demissão do então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, numa clara intervenção na política de preços da estatal. O pano de fundo é justamente a alta de preços no Brasil - mais especificamente do óleo diesel, que tem provocado insatisfação entre os caminhoneiros.
Em um cenário com inflação mais elevada, o Banco Central pode não ter tanto espaço para manter a Selic (a taxa básica de juros) no mínimo histórico por mais tempo. Atualmente, a Selic está em 2,00% ao ano, mas os economistas do mercado financeiro já projetam a taxa básica no dobro disso no fim de 2021, em 4,00% ao ano. A expectativa mediana do mercado é de que a alta da Selic comece em maio deste ano.
A pressão inflacionária atual pode ser percebida mais diretamente no IGP-M - o índice de inflação que, tradicionalmente, é utilizado como referência para reajuste dos contratos de aluguel no Brasil. Em 2020, o índice acumulou uma alta de 25,31%, sob influência do avanço do dólar ante o real.
Para 2021, os economistas do Focus já projetam um aumento de 8,02% para o IGP-M - no início do ano, esta expectativa estava em 4,58%. Na prática, em menos de dois meses a projeção para o IGP-M em 2021 quase dobrou.
O Relatório de Mercado Focus, divulgado na manhã desta segunda-feira, 22, pelo Banco Central (BC), mostrou alteração no cenário para a moeda norte-americana em 2021. A mediana das expectativas para o câmbio no fim do período foi de R$ 5,01 para R$ 5,05, ante R$ 5,00 de um mês atrás.
Para 2022, a projeção para o câmbio seguiu em R$ 5,00, igual a quatro pesquisas atrás. A projeção anual de câmbio publicada no Focus passou a ser calculada com base na média para a taxa no mês de dezembro, e não mais no valor projetado para o último dia útil de cada ano. A mudança foi anunciada em janeiro pelo BC. Com isso, a autarquia espera trazer maior precisão para as projeções cambiais do mercado financeiro.
Os economistas do mercado financeiro alteraram suas projeções para a Selic (a taxa básica da economia) no fim de 2021. O Relatório de Mercado Focus trouxe nesta segunda-feira que a mediana das previsões para a Selic neste ano foi de 3,75% para 4,00% ao ano. Há um mês, estava em 3,50%.
No caso de 2022, a projeção permaneceu em 5,00% ao ano, igual a um mês antes. Para 2023, seguiu em 6,00%, mesmo patamar de quatro semanas atrás. Para 2024, permaneceu em 6,00%, igual a um mês atrás.
Em janeiro, ao manter a Selic em 2,00% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central preparou o terreno para uma possível elevação dos juros em 2021. Isso porque a instituição deu fim ao chamado forward guidance (ou prescrição futura, na tradução do inglês).
Adotado em agosto de 2020, o forward guidance era uma indicação técnica do BC de que não pretendia elevar os juros se a inflação seguisse sob controle e o risco fiscal não se alterasse. O problema é que, nos últimos meses, a inflação ao consumidor está mais salgada, puxada por aumentos de preços em itens como alimentos e energia.
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