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Mesmo após 'bronca' de Bolsonaro, governo publica portaria para rever BPC

Mesmo após 'bronca' de Bolsonaro, governo publica portaria para rever BPC

Internamente, o governo prevê com as novas regras e o cancelamento de benefícios uma redução aproximada de R$ 5 bilhões nas despesas em 2021 e de R$ 10 bilhões em 2022

Publicado em 17 de setembro de 2020 às 21:03

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Um dia após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciar veto a cortes em auxílios para idosos e pessoas com deficiência, o governo publicou uma portaria com novas regras para avaliação e concessão do BPC (Benefício de Prestação Continuada).

Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República, Onyx Lorenzoni,  Presidente da República, Jair Bolsonaro
Ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, assinou a portaria que prevê revisão de benefícios. (Marcos Correa/PR)

Conforme mostrou a Folha de S.Paulo, o governo planejava uma revisão de aproximadamente 2 milhões de inscritos no BPC com base nas novas regras.

A estimativa era começar as avaliações (ainda não anunciadas) ainda em 2020, cancelar 50 mil benefícios por mês e, com isso, economizar R$ 10 bilhões por ano.

A portaria publicada traz alterações para a avaliação do BPC, mas não prevê o começo da revisão.

Ela foi assinada pelo ministro Onyx Lorenzoni (Cidadania) e por Leonardo Rolim, presidente do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), na segunda-feira (14). Mas só foi publicada na quarta-feira (16) no DOU (Diário Oficial da União).

Na terça (15), Bolsonaro reagiu à notícia publicada pela Folha naquele dia sobre os planos de mudanças e cortes no BPC, vetando iniciativas do tipo. Ele também reagiu ao plano para congelar o reajuste de aposentadorias, comentado pelo secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues.

O presidente havia vetado naquele dia, em vídeo publicado em redes sociais, medidas que tirassem benefícios de idosos e pessoas com deficiência e anunciou que daria "cartão vermelho" a quem sugerisse medidas do tipo.

"Jamais vamos congelar salários de aposentados, bem como jamais vamos fazer com que os auxílios para idosos e para pobres com deficiência sejam reduzidos para qualquer coisa que seja", afirmou.

Depois disso, a medida com novas regras foi publicada. O texto altera uma portaria anterior, de 2018, e "regulamenta regras e procedimentos de requerimento, concessão, manutenção e revisão" do benefício.

O BPC equivale a um salário mínimo (R$ 1.045) e é pago a idosos acima de 65 anos e pessoas com deficiência que devem estar dentro de um limite de renda familiar per capita de até um quarto de salario minimo (ou seja, R$ 261,25).

No caso da pessoa com deficiência, o governo adicionou dois requisitos que não estavam previstos na regra anterior.

A deficiência em questão terá de ser de longo prazo (seja ela de natureza física, mental, intelectual ou sensorial). Além disso, deverá ser observado o grau de restrição para a participação plena e efetiva da pessoa com deficiência na sociedade.

A portaria ainda não traz a especificação desse item. Procurado, o Ministério da Cidadania afirmou que a avaliação da deficiência e do grau de impedimento se dará por meio dos instrumentos da LBI (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência).

"No entanto, o instrumento se encontra em desenvolvimento por um grupo de trabalho", afirmou a pasta.

O Ministério da Cidadania disse ainda que as normas buscam dar mais agilidade à análise de requerimentos do BPC. "A portaria trata de inovações procedimentais, de operacionalização do benefício, sem alterar qualquer regra para acesso", disse a pasta.

A medida também exclui artigos da portaria anterior que dispensava nova avaliação de renda quando o beneficiado entrasse com recurso contra o cancelamento que fosse feito com base em critérios de deficiência (e vice-versa).

Ou seja, quem entrar com recurso fica sujeito a passar novamente tanto pela avaliação de renda como de deficiência.

Para o IBDP (Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário), as medidas publicadas nesta quarta podem dificultar o acesso ao benefício assistencial. Como a avaliação será feita em dois critérios diferentes, ficaria atrasado o processo para resolução.

"O melhor é que o recurso seja a respeito de todo o conjunto. Pela portaria, será necessário um recurso por vez", disse a presidente do IBDP, Adriane Bramante.

Ela também ressaltou que as normas foram alteradas para deixar claro que as pessoas com deficiência terão de passar por avaliações periódicas para continuar recebendo o auxílio.

Após derrotas na Justiça, o governo passou a permitir que gastos com saúde sejam descontados na hora de apurar a renda de quem pede o BPC.

Portanto, ao analisar a renda, poderão ser deduzidas as despesas com medicamentos, alimentação especial, fraldas descartáveis e consultas médicas, e então se enquadrar no critério de R$ 261,25 mensais por membro da família.

No entanto, o IBDP defende que outro trecho da ação civil pública que tramita na Justiça seja incluído nas regras: o parecer social.

Segundo a entidade, isso permitiria critérios mais flexíveis para que, por exemplo, uma pessoa que ultrapasse o limite de renda mensal em R$ 30 possa receber o auxílio assistencial se as condições de moradia forem precárias.

O INSS não quis comentar a portaria publicada nesta quarta. "Lembramos que somos apenas o órgão operado. A política é do MC [Ministério da Cidadania]", disse em nota.

Técnicos do governo afirmam que o objetivo das mudanças relacionadas ao BPC é passar um pente-fino nessa despesa e garantir o benefício a quem realmente tem direito e se enquadra nos critérios.

Segundo o governo, a medida vai gerar redução da judicialização, adoção de critérios claros para acesso ao BPC, inclusive por estrangeiro, racionalização do fluxo de análise e controle firme acerca de renda do beneficiário ou seu grupo familiar proveniente de regimes próprios.

Internamente, o governo prevê com as novas regras e o cancelamento de benefícios uma redução aproximada de R$ 5 bilhões nas despesas em 2021 e de R$ 10 bilhões em 2022.

Por enquanto, para 2021, o governo reservou R$ 64,7 bilhões para despesas com o BPC. Com isso, a expectativa é atender a 5 milhões de pessoas, sendo 2,2 milhões de idosos e 2,8 milhões de pessoas com deficiência.

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Os gastos em 2020 estão previstos em cerca de R$ 60 bilhões.

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