Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Alberto Fernández, discutem a criação de uma moeda comum sul-americana para transações comerciais e financeiras. A ação é parte de uma estratégia de fortalecimento da integração regional com os países da América do Sul, prioridade do petista anunciada ainda na campanha eleitoral.
O anúncio de uma nova moeda — o Brasil sugeriu o nome "sur" — levantou dúvidas, gerou ruídos nas redes sociais e até virou fake news.
Não se trata, pelo menos por enquanto, de uma moeda no estilo do Euro na União Europeia e, sim, de uma unidade de valor compartilhada em transações bilaterais entre os países. Atualmente o dólar é a referência para essas transações.
O professor de Economia da UVV Wallace Millis explica que a China tem ampliado de forma acelerada sua influência sobre os parceiros brasileiros na América do Sul, notadamente a Argentina. O país vizinho deixou de ter o Brasil como principal parceiro comercial e o substituiu pelos chineses. "De 2019 para 2022, intensificou-se muito (comércio entre China e Argentina). E as exportações brasileiras para a Argentina são interessantes porque é para onde são destinados nossos produtos de maior valor agregado", aponta Wallace.
Paralelamente, a Argentina vive um momento de fragilidade política e grande instabilidade macroeconômica. Tudo isso é combinado com uma baixa reserva cambial, ou seja, o país tem pouca reserva de dólar para usar nas transações.
As moedas costumam ter três funções principais, segundo o especialista: meio de troca e pagamento; reserva de valor; ou unidade de contas e contratos. É nesse último que se encaixaria a nova moeda comum entre Brasil e Argentina.
Atualmente, se uma empresa Argentina quer importar um produto do Brasil, precisa ir ao Banco Central ter um certificado de importação e converter o peso para o dólar. Quando o dinheiro chega aqui, precisa fazer o mesmo caminho para converter o dólar para o real.
"Ao criar essa moeda comum, você tira a intermediação dos bancos centrais dos dois países e moderniza o sistema de pagamento para não depender de dólar, para que a transação seja feita numa conversibilidade direta", esclarece o professor.
Moeda comum não é a mesma coisa de moeda única. As transações dentro do Brasil continuariam a ser feitas em real e, na Argentina, em pesos argentinos.
Apenas as transações de exportação e importação entre os dois países seriam feitas com a nova moeda.
"Tem um problema de comunicação. Quando surge um noticia de moeda comum, é entendida como moeda única e cria turbulência de mercado, cria desconfiança e joga contra. É importante que, nesse momento, os comunicados tenham caráter de promoção de relações comerciais entre os dois países para aumentar nossa corrente de comércio, porque a Argentina é um pais estratégico", diz Wallace.
Ainda não há informações exatas sobre como a nova moeda será avaliada. O especialista explica, contudo que deverá ser criada uma autoridade monetária que vai administrar a conversibilidade da nova moeda, ou seja, o quanto ela vai valer em relação às demais divisas, principalmente ao real e ao peso. Isso vai depender da disponibilidade dessa moeda no mercado e da política monetária de cada país.
O professor afirma que foi feita, no passado uma tentativa de criar um sistema de pagamento entre os dois países utilizando as próprias moedas, ou seja, eliminando o dólar do cálculo, mas não deu certo.
"Nem os argentinos confiaram em receber em reais e nem os brasileiros, em pesos. Isso mostra justamente que moeda é uma questão de confiança, de credibilidade", explica.
Em 2019, o ex-presidente Jair Bolsonaro divulgou planos para uma união monetária, que também nunca se concretizou.
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