O presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Moraes, disse nesta quarta (5) que o setor já vem recorrendo a recursos do mercado privado e não conta mais com socorro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para minimizar a crise gerada pela pandemia.
Por outro lado, as montadoras negociam com o governo o adiamento de novas restrições ambientais e de segurança, alegando que restrições financeiras e restrições à circulação geradas pela pandemia dificultam o cumprimento das metas atuais.
Um dos setores mais afetados pela paralisação da economia após o início da pandemia, a indústria automotiva havia sido incluída pelo BNDES em uma lista de setores que receberiam atenção especial, ao lado das companhias aéreas, do setor de energia e de empresas de varejo.
No momento mais agudo da crise, o setor chegou a fechar 64 das 65 fábricas do país. Vem retomando gradativamente as operações, mas, com expectativa de queda de 40% nas vendas este ano, já há casos de empresas que decidiram fechar turnos e demitir empregados.
O BNDES chegou a negociar um modelo de socorro, que incluiria dinheiro estatal e capital privado. Para as grandes empresas instaladas no país, o pacote giraria em torno de R$ 4 bilhões, dos quais R$ 1 bilhão seriam injetados por meio de produtos do banco de fomento.
Houve divergências, porém, com relação às condições estabelecidas pelo banco e quanto ao uso de créditos tributários como garantia. Em entrevista nesta quarta, Moraes disse que o setor continua negociando com o governo os créditos, mas não espera mais receber recursos do BNDES.
"As montadores estão trabalhando com dinheiro privado, como a gente sempre defendeu", afirmou. "O governo não está suportando a crise da indústria. Até entendo, porque está dando abono emergencial para pessoas em necessidade. E isso é correto. Então, vamos continuar vivendo com o que nós temos."
Há expectativas, porém, quanto ao programa de financiamento a pequenas empresas com garantia do FGI (Fundo Garantidor de Investimentos), aprovado no início de julho, para socorrer fornecedores em dificuldades financeiras.
Em outra frente, as montadoras querem adiar a vigência de novas restrições a emissões no âmbito do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) e de novos padrões de segurança em veículos.
De acordo com a Anfavea, as mudanças demandam investimentos de R$ 12 bilhões. Além da crise de liquidez provocada pela pandemia, o setor alega que a paralisação das atividades e as maiores restrições após a reabertura das fábricas terão impacto nos cronogramas de desenvolvimento das tecnologias.
"Provavelmente, dentro do novo normal vai gastar mais, porque perdemos testes [na paralisação], porque tem que garantir segurança dos trabalhadores. Isso significa um custo que é difícil de mensurar", disse o presidente da Anfavea. "Não podemos desconsiderar que pandemia afetou a sociedade no mundo inteiro, afetou o Brasil, afetou nossas vidas", defendeu.
A proposta é adiar para 2025 o início da vigência da nova etapa do Proconve, prevista inicialmente para 2022. O tema está sendo discutido com o os ministérios do Meio Ambiente e da Economia e com a Casa Civil da Presidência da República, mas a palavra final é do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).
Na entrevista, a Anfavea argumentou que desde o início do programa, em 1986, o nível de emissões por veículos no país já caiu em mais de 90%.
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