Cobrado por um grupo de empresários brasileiros por metas de redução de desmatamento na Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta sexta-feira (10) que hoje não tem meios para estabelecer um número para esse objetivo.
"Todos eles colocam a questão de que a gente tem que ter uma meta. A meta de desmatamento qual é? Nós temos que reduzir o desmatamento ao mínimo aceitável; e obviamente as pessoas também entenderem que não podem mais desmatar", disse Mourão, após participar de uma videoconferência com executivos de empresas como Suzano, Marfrig, Natura e Vale, entre outras.
A jornalistas, Mourão disse que não tem como se comprometer com uma meta no momento e que está trabalhando num planejamento de longo prazo para poder apresentar objetivos semestrais de diminuição da destruição da floresta até 2022.
"Hoje é uma leviandade eu chegar e dizer: 'vou cortar 50% do desmatamento'. Eu não tenho meios para dizer isso hoje. Eu prefiro que a gente consiga terminar o nosso planejamento e eu dizer que daqui a 2022, a cada semestre, eu vou reduzir em X% até chegarmos no ponto aceitável. É algo factível, e não eu ficar fazendo promessa que eu não vou cumprir. Não faz parte da minha maneira de agir".
Os empresários pediram o encontro com Mourão porque estão apreensivos com eventuais prejuízos econômicos que os danos à imagem internacional do Brasil podem criar. A preocupação é que o avanço do desmatamento e declarações do ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) têm passado a percepção no exterior de que o governo Jair Bolsonaro não está comprometido com uma agenda de preservação ambiental.
A teleconferência de Mourão com os empresários ocorreu em mais um dia de dado negativo para o Brasil na área. O desmatamento na Amazônia teve mais um mês de alta em relação ao ano anterior, o 14º seguido, e é o maior desde 2016, segundo dados do Deter, programa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
A destruição da floresta cresceu cerca de 10% em relação ao mesmo mês de 2019 e atingiu o maior valor de km² destruídos da série histórica recente, que começou em 2015. Junho registrou mais de 1.000 km² destruídos.
Na quinta-feira (9), o vice-presidente participou de uma videoconferência com o mesmo tema, mas na qual do outro lado estavam representantes de fundos de investimento e de pensão da Europa e do Japão. A persistência do avanço do desmatamento, avisaram, pode levá-los a reconsiderar a alocação de recursos no Brasil, o que preocupa o Palácio do Planalto.
No Diário Oficial da União desta sexta, foi publicado um decreto que prorroga até 6 de novembro a operação Verde Brasil 2, que emprega Forças Armadas na GLO (Garantida da Lei e da Ordem) na Amazônia Legal, para a realização de ações preventivas e repressivas contra delitos ambientais, direcionada ao desmatamento ilegal, além do combate a focos de incêndio.
Mourão disse nesta sexta que não vê a possibilidade, no "curto prazo", de as forças armadas deixarem de atuar em ações ambientais na Amazônia. De acordo com ele, para que isso aconteça antes órgãos como o Ibama e o ICMBio precisam ter seus quadros recompostos.
"Eu não vejo no curto prazo operar sem o apoio das forças armadas. Para fazer isso eu preciso recompor as agências ambientais", disse.
De acordo com ele, o déficit de pessoal hoje nessas estruturas é de 50%, sendo que apenas um terço do efetivo é de agentes que trabalham diretamente no campo. "E os que estão na rua não estão só na Amazônia".
Na manhã desta sexta, Mourão argumentou que o recorde de desmatamento registrado em junho na região se deve ao início tardio do trabalho de combate às derrubadas.
"Começou tarde. O começo em maio [dos trabalhos de combate ao desmatamento] vai nos dar uma melhor situação em relação a queimadas, mas não a desmatamento", disse Mourão, após uma reunião remota com integrantes da Associação PanAmazônia, rede que une instituições e empresas da Amazônia continental --nove estados da Amazônia brasileira, mais Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, e Venezuela.
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