A novela da obra do Aeroporto de Vitória tem pelo menos 16 anos, quando em setembro de 2002, o governo federal anunciou a primeira licitação para construção da nova pista e terminal. Mas muito antes disso, no início da década de 1990, já se discutia sobre a necessidade de um novo complexo aeroportuário, até mesmo fora da Capital.
O Gazeta Online consultou o acervo do jornal A Gazeta e constatou que a possível mudança de cidade foi bem mais que mera especulação. Em 1991, técnicos do então Instituto de Aviação Civil (hoje Agência Nacional de Aviação Civil - Anac), vieram ao Estado para fazer um estudo de viabilidade de quatro áreas cogitadas à época para receber o empreendimento.
Os locais com possibilidades mais fortes de abrigar o novo aeroporto eram dois: a região da Ponta da Fruta, em Vila Velha, e a de Jacaraípe, na Serra. Outras duas áreas na Barra do Jucu também foram analisadas, uma delas a que é ocupada pelo Aeroclube do Espírito Santo e outra próxima a Rodovia Darly Santos.
Como já se previa que o terminal ficaria defasado e pelas limitações de espaço, na época nem chegava a ser cogitada a possibilidade do novo aeroporto continuar na Capital. Tanto pela falta de terrenos, como o relevo da cidade, que continha várias áreas de preservação ambiental.
Trata-se de um estudo preliminar que vai definir, nos próximos 15 dias, a área mais indicada para a construção do aeroporto, disse o capitão Getúlio Marques, que chefiou a vinda dos técnicos, em entrevista para A Gazeta em 13 de novembro de 1991.
AS ÁREAS
Mas a decisão demorou bem mais que 15 dias para sair. O máximo que houve foi uma redução de possibilidades. Um ano depois do estudo, restavam no páreo a área entre Jacaraípe e Nova Almeida, próximo às lagoas Jacuném e Juara, na Serra; e a entre a Ponta da Fruta e Setiba, em Vila Velha, na região do atual Parque Estadual Paulo César Vinha.
O trecho da reportagem publicada em 22 de agosto de 1992 dizia: Apesar de o terreno na Serra ser mais propício à construção do aeroporto, a área de Setiba seria mais adequada aos planos turísticos do governo, segundo Guerino [Dalvi, então secretário estadual de Transportes e Obras Públicas], por estar próxima a Vitória, Vila Velha e Guarapari, além do acesso ao aeroporto facilitado devido à Terceira Ponte e à Rodovia do Sol.
Apesar do apelo turístico e da pressão do governo do Estado, a área da Ponta da Fruta tinha um grande empecilho pela frente: uma camada subterrânea de turfa, que é de material esponjoso, constituído de restos vegetais em variados graus de decomposição.
O relatório técnico apontava que, apesar do terreno em Vila Velha favorecer o tráfego área para Rio de Janeiro e São Paulo, seria necessária uma grande movimentação de terra para conseguir uma área compatível com as necessidades do aeroporto.
Assim, a região de Jacaraípe era mesmo a candidatíssima para receber o novo aeroporto. O terreno possui excelentes condições de operacionalidade quanto às características meteorológicas de teto e visibilidade. Há boa infraestrutura para redes de comunicação e energia elétrica, explicava a reportagem.
A única dificuldade da área, segundo os técnicos, era a extrema proximidade com a região de Nova Almeida. Mas ainda assim, era a melhor opção. Este sítio é mais propício à atividade aeronáutica, dizia o relatório dos técnicos do Instituto de Aviação Civil.
BRIGA DAS BOAS
Mas Vila Velha não desistiu tão facilmente de receber o empreendimento. A discussão entre prefeituras, governo estadual e governo federal continuou praticamente ao longo de toda a década de 1990, e o esforço para levar o aeroporto para fora da capital seguia.
Em 1999, numa nova tentativa de atrair o empreendimento, a Prefeitura de Vila Velha disponibilizou na revisão do Plano Diretor Urbano a área de 10 milhões de metros quadrados na Ponta da Fruta para construção do complexo.
Outra briga boa foi da Prefeitura de Vitória, que sempre condenou as propostas de mudança do terminal e dizia que o aeroporto existente era suficiente para atender a demanda da população. O Governo está se envolvendo em questões que não lhe dizem respeito. As concepções mais modernas dão conta de que o aeroporto de Goiabeiras atende bem às necessidades da cidade, disse em entrevista para A Gazeta o então vice-prefeito Rogério Medeiros, em 1991.
MARTELO BATIDO
Após anos de discussão, a decisão saiu mesmo só em meados do ano 2000, quando a Infraero descartou a mudança de endereço, bateu o martelo de que o aeroporto continuaria em Vitória, e anunciou o primeiro projeto de ampliação do terminal de Goiabeiras.
Assim, morreram de vez as intenções de tirar da Capital o aeroporto e iniciou outra novela, ainda maior: a da obra, que foi anunciada em 2000, licitada em 2002, iniciada em 2005, e só agora ficou pronta.
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