Com os questionamentos de especialistas em torno dos dados de emprego observados no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério da Economia, e na Pnad Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Itaú elaborou seu próprio indicador para o mercado de trabalho formal.
O novo índice reforça as principais críticas feitas aos dois levantamentos, uma vez que vê um cenário pior do que o desenhado pelo Caged, mas não tão ruim quanto o da Pnad.
"Nós vimos que as duas métricas descolaram. O Caged mostra uma recuperação muito forte e a Pnad vai no sentido contrário", afirma o economista Luka Barbosa, do Itaú Unibanco.
Em relação ao Caged, o banco identificou uma diferença acumulada de 304 mil postos de trabalho a mais entre abril e dezembro de 2019 após as mudanças metodológicas adotadas pelo governo, em comparação com o formato anterior da pesquisa.
Para o banco, as mudanças metodológicas explicam parcialmente as diferenças nos resultados, uma vez que mais tipos de emprego passaram a ser considerados na estatística.
Por isso, o Itaú avalia não ser possível comparar os dados do Novo Caged (como é chamada a pesquisa após as mudanças) com os do antigo, como faz o governo.
Quando divulgou o resultado do emprego formal do início de 2021, a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia informou ter registrado o "melhor janeiro desde o início da série histórica, em 1992".
O pesquisador Bruno Ottoni, do iDados e do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), já havia apontado descolamento semelhante entre as séries do Caged em reportagem da Folha em março deste ano.
Já em relação à Pnad, o Idat-Emprego --como o indicador do Itaú foi batizado-- indica uma taxa de desemprego de 14,2%, menor do que a observada na pesquisa do IBGE, de 14,5% para o trimestre encerrado em fevereiro com ajuste sazonal.
O aumento da força de trabalho (que considera a soma total de ocupados e desocupados) acima do que o IBGE vem registrando explica por que a taxa de desemprego do indicador do Itaú é similar à registrada na Pnad, apesar de o banco identificar um cenário de recuperação mais forte.
Ou seja, o Itaú identifica mais empregados, mas também mais desocupados (pessoas desempregadas, mas que estão em busca de uma vaga), o que resulta em uma taxa semelhante à do IBGE.
A série ajustada pelo Itaú indica que a população ocupada total chegou a 87,9 milhões em fevereiro deste ano. No mesmo período, a Pnad registrava 85,8 milhões.
Segundo Barbosa, esses dados mostram um processo de recuperação mais forte do que o sugerido pelo IBGE, o que levou o banco a revisar suas expectativas para a taxa de desemprego no final do ano, de 14,3% para 12,7%.
"Estamos vendo que tanto o emprego quanto a força de trabalho estão maiores, então sabemos que o emprego ainda vai se recuperar mais", afirma Barbosa.
O Idat-Emprego considera as informações de processamento de folha de pagamento de empresas que são clientes do Itaú. Segundo o banco, os dados são ajustados de acordo com a participação do Itaú no mercado e refletem uma amostra de diversos setores da economia, exceto a administração pública.
De acordo com Barbosa, o comportamento verificado pelo Idat-Emprego é compatível com o resultado da receita previdenciária, que está crescendo.
"Pelo nosso indicador, a variação ano contra ano do emprego formal foi de -2,8% na média do quarto trimestre de 2020, e de -1,3% na média do primeiro trimestre de 2021", diz o Itaú.
O Itaú atribui as distorções em relação Pnad à mudança na coleta de informações pelo IBGE, que passou a ser feita por telefone, o que pode ter levado o resultado à subestimar a recuperação do emprego formal.
A Pnad considera empregos formais e informais. Na comparação com o Idat-Emprego, o Itaú usou somente os dados de trabalhos com carteira assinada ou CNPJ. Porém, ao calcular a taxa de desemprego, o banco usou a série de emprego informal da Pnad Contínua.
"Mesmo em recuperação, verificamos que há significativa capacidade ociosa no mercado de trabalho, acima dos níveis pré-pandemia", dizem os economistas que assinam o relatório de apresentação do índice.
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