O mundo pode sofrer uma segunda onda de disseminação do coronavírus no último trimestre deste ano, o que ampliaria a contração da economia brasileira em 2020 de 7,4% para 9,1%, segundo estimativas divulgadas nesta quarta-feira (10) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
De acordo com a organização, há 50% de chances de que vários países sejam obrigados a retomar, nos últimos três meses do ano, as medidas de isolamento que começaram a ser flexibilizadas nas últimas semanas.
Se esse cenário mais pessimista se confirmar, o impacto sobre a atividade deverá ser menor, metade da contração registrada por causa da primeira onda de contaminação. Ainda assim, adiará a recuperação da economia mundial.
A retração global é projetada pela OCDE em 6% no cenário mais otimista, no qual a reabertura segue gradualmente, voltando ao nível pré-crise em 2021. A queda estimada no cenário mais pessimista é de 7,6%.
Segundo a instituição, enquanto nenhuma vacina ou tratamento estiver amplamente disponível, os formuladores de políticas ao redor do mundo continuarão a "andar na corda bamba", e os principais instrumentos para combater a propagação do vírus serão distanciamento social, testagem, rastreamento e isolamento. Essas medidas, no entanto, podem não ser suficientes para impedir um segundo surto do vírus.
No caso brasileiro, a OCDE estima uma queda no Produto Interno Bruto (PIB) de 7,4% em um cenário em que seja possível seguir com a flexibilização. Uma segunda onda ampliaria a queda na atividade para 9,1% em 2020, atingindo tanto o consumo privado como os investimentos no final do ano.
Esse segundo evento também adiaria a recuperação da economia, reduzindo o crescimento projetado do PIB em 2021 de 4,2% para 2,4%. A taxa de desemprego deve passar dos atuais 12,6% para 15,4% ao longo do próximo ano no pior cenário.
As estimativas da OCDE sugerem uma diminuição de aproximadamente 20% na atividade em períodos em que o isolamento é adotado no Brasil. A instituição afirma que não fez os cálculos, mas que a não adoção dessas medidas por estados e prefeituras poderia ter custado mais em termos de vida e em impacto econômico.
De acordo com a instituição, as turbulências nos mercados internacionais afetaram o Brasil antes que a atividade econômica começasse a desacelerar por aqui, já que investidores internacionais buscaram ativos mais seguros, com saída de recursos do país e pressão sobre taxa de câmbio, juros e preços de ações.
As ações do governo federal em termos de gastos para minimizar o impacto da pandemia sobre a atividade foram classificadas como "ousadas e consideráveis". O impacto no consumo privado poderia ter sido de dois a três pontos percentuais a mais na ausência de medidas de apoio à renda das famílias, segundo a organização.
Com uma dívida bruta que deve terminar o ano próxima de 90% do PIB, a OCDE diz que o país pode se antecipar em sinalizar que retomará uma agenda de equilíbrio fiscal após a crise atual.
"Isso pode ser alcançado por meio de medidas legislativas, como uma reforma da administração pública que revise a remuneração de servidores públicos ou uma redução ambiciosa de subsídios ineficazes e isenções fiscais, a serem implementadas apenas a partir de 2021", diz a organização.
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