Após semanas de sinalizações de alinhamento com os Estados Unidos por parte do governo Jair Bolsonaro na política de banir a chinesa Huawei do 5G, as principais teles que atuam no país decidiram cobrar transparência nas decisões a respeito da tecnologia. Preocupadas com as "incertezas" no processo, o Conexis Brasil Digital, associação do setor, divulgou nota oficial em que pede para que as operadoras participem das discussões e pregou que elas sejam feitas de forma ampla e a partir de critérios técnicos.
"Diante do nosso papel fundamental na implementação da tecnologia no país, e preocupadas com as incertezas geradas por essas discussões, ressaltamos a necessidade de transparência de todo o processo", diz a nota. "Esse ambiente de incertezas pode impactar o desempenho do setor, pois eventuais restrições implicarão potenciais desequilíbrios de custos e atrasos ao processo, afetando diretamente a população."
A tecnologia 5G é a quinta geração das redes de comunicação móveis. Ela promete velocidades até 20 vezes superiores ao 4G e permite um consumo maior de vídeos, jogos e ambientes em realidade virtual.
As empresas não citam a gigante chinesa, mas mencionam preocupações com preço, escala e inovação, que são características atribuídas à Huawei, líder mundial no 5G. "Questões como preço, escala mundial e inovações tecnológicas dos fornecedores hoje presentes no País são determinantes para que as melhores soluções e custos competitivos do serviço possam ser oferecidos pelas operadoras aos cidadãos", diz a nota.
Também sem fazer referência direta à Huawei, as operadoras destacam que "todos os fornecedores globais já atuam no país nas tecnologias 4G, 3G e 2G". A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estima que a empresa chinesa esteja em algo entre 35% e 40% das redes brasileiras atualmente em operação. As teles, no entanto, afirmam que essa fatia é ainda maior.
No Reino Unido, o banimento da Huawei custará 250 milhões de libras, cerca de R$ 1,8 bilhão, para substituir os equipamentos da companhia pelos de outros fornecedores. No Brasil, os gastos associados a uma decisão como essa ainda não foram levantados, mas a decisão pode atrasar o 5G e comprometer os serviços já prestados, dizem as teles.
"Uma eventual restrição a fornecedores do 5G pode atingir também a integração com a infraestrutura já em operação, com consequências diretas nos serviços oferecidos e custos associados", diz o texto. "É necessário ainda ressaltar que as operadoras, em sua grande maioria, são empresas de capital aberto e a transparência das discussões é fundamental para gerar segurança aos investidores e seguir atraindo novos investimentos para o País."
As teles afirmam ainda que podem contribuir com sua expertise técnica nos debates sobre a nova tecnologia e sobre a política pública para o 5G. Até agora, as discussões no governo acontecem a portas fechadas, sem a participação das empresas.
A presidente da Federação Nacional de Infraestrutura de Redes e Telecomunicações (Feninfra), Vivien Suruagy, também se manifestou contra o banimento de qualquer companhia na tecnologia 5G. "Não podemos ter mais nenhum tipo de interrupção. Já basta a pandemia", diz a presidente da entidade, que reúne 137 mil empresas prestadoras de serviços para operadoras e bancos.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta