Em dois anos, os presidentes-executivos de empresas do mundo todo saíram do ápice de confiança com a economia global e atingiram o recorde da descrença.
Foi o que mostrou o relatório da pesquisa feita pela consultoria PwC com 1.581 chefes de empresas em 83 países. Apresentado nesta segunda-feira (20), véspera da inauguração do encontro anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, o estudo é uma tradição anual do evento que reúne a elite empresarial de todo o planeta.
O levantamento apontou que, para 53% dos entrevistados, o avanço da economia global deverá cair em 2020. No ano passado um desempenho econômico menor era projetado por 29% dos presidentes das companhias, enquanto em 2018 por 5%.
A partir das respostas dos executivos, o estudo estimou que o crescimento global em 2020 deverá ficar em 2,4% -0,9 ponto percentual abaixo da alta de 3,3% projetada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em revisão feita nesta segunda-feira.
Essa projeção mais conservadora é reflexo de um pessimismo sobrepondo o otimismo em todas as regiões do planeta, segundo os dados da PwC.
Ao abrir os dados por região é possível perceber que, se teve um local onde essa visão cética se destacou, sem dúvida foi na América do Norte. Lá, 63% dos entrevistados disseram ver uma queda no desempenho econômico global em 2020.
Já no pouco otimismo registrado pela pesquisa, a região mais esperançosa foi a Ásia-Pacífico, com 35% dos chefes das empresas projetando um avanço maior para este ano em relação a 2019, segundo o documento.
Curioso foi observar que, enquanto a China se localizava na região com o maior percentual de otimismo, os Estados Unidos estavam na área mais pessimista. Esse descompasso, porém, não deixou os executivos curiosos, mas temerários.
De acordo com a pesquisa, os conflitos comerciais subiram duas colocações e foram considerados pelos chefes da companhias a segunda maior ameaça ao crescimento das empresas -só perdendo para o excesso de regulação, que já encabeçava o ranking de preocupações do ano passado.
Vale lembrar que quando a pesquisa registrou o ápice de otimismo dos executivos, em 2018, a disputa comercial entre as duas maiores economias globais ainda não tinha eclodido. Além disso, a última avaliação, que captou o ceticismo recorde, foi feita nos meses de setembro e outubro do ano passado, quando os dois países ainda não tinham desenhado a fase 1 do acordo comercial.
Se para uns o peso desse conflito é grande, para outros nem tanto. Na América Latina as disputas comerciais não constam na lista das dez maiores ameaças ao desempenho das companhias. Na região, o maior receio fica por conta do populismo, seguido pela incerteza do crescimento econômico.
Essa indefinição na economia é o que mais afeta o Brasil. No país, segundo dados da consultoria, 50% dos executivos citaram as incertezas econômicas como uma grande ameaça aos negócios. Já o cenário tributário brasileiro é motivo de preocupação para 48% dos respondentes, seguido pelo excesso de regulamentação e também pela inadequação de infraestrutura.
Apesar de tais receios, 3 em cada 4 executivos brasileiros têm alguma confiança quanto ao aumento de suas receitas. Mas se hoje 78% deles têm alguma esperança nesse avanço, no ano passado esse percentual ficou em 95%, indicando, portanto, um desencanto por parte dos líderes empresariais.
Neste que deve ser um encontro marcado pela discussão da questão ambiental -inclusive com a participação da ativista Gretha Thunberg em três sessões-, não tinha como a consultoria fechar a pesquisa sem apresentar algum dado relativo ao tema.
Segundo o documento, enquanto há 10 anos 13% dos executivos de todo o mundo concordavam que iniciativas para evitar as mudanças climáticas poderiam criar oportunidades aos seus negócios, na pesquisa deste ano o percentual subiu para 25%.
A maior mudança em relação ao tema veio dos chineses. Por lá, em 2010, quem tinha essa visão eram apenas 2% dos entrevistados, enquanto na última pesquisa 47% deles disseram acreditar nessas oportunidades.
No Brasil, o avanço foi de 19% dos executivos concordando com tal perspectiva, no levantamento feito há uma década, para os 27% deles na pesquisa mais recente.
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