Em documento remetido ao Tribunal de Contas da União (TCU), a Petrobras afirma que quase 2 milhões de anúncios com sua marca foram indevidamente veiculados em sites cujo conteúdo pode ser impróprio.
A informação foi enviada à corte no âmbito de um processo que analisa denúncias de pagamento, pela estatal, de propaganda em páginas de internet e canais do YouTube que espalham fake news e ataques ao Supremo Tribunal Federal.
O caso será julgado nesta quarta-feira (29). O tribunal decidirá se cabe ou não aplicar medida cautelar proibindo a estatal de anunciar em sites, blogs, portais e redes que promovem desinformação e difamam personalidades.
Ao responder a questionamentos do TCU, a Petrobras afirmou ter revisado suas campanhas na web nos últimos anos, descobrindo que, por suposto erro de uma empresa prestadora de serviços, as peças foram publicadas em sites fora da lista por ela autorizada e homologada pela Secretaria de Comunicação Social (Secom), vinculada ao Ministério das Comunicações.
A relação de páginas nas quais a propaganda pode ser exibida ("whitelist") é feita previamente. Exclui as de conteúdo considerado impróprio, sobre sexo, drogas e pirataria, e as que veiculam fake news. A associação a elas implicaria dano à imagem da estatal.
Um dos sites que receberam anúncios é o do Jornal da Cidade Online, conhecido por propagar notícias falsas favoráveis a Jair Bolsonaro desde 2018.
O site é um dos alvos do movimento Sleeping Giants Brasil, lançado em maio, cujo objetivo é demover empresas de anunciar em espaços de preconceito e desinformação.
Naquele mês, após alerta do Sleeping Giants, o Banco do Brasil informou ter cortado sua publicidade no site. Mas recuou após ser cobrado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente.
O caso foi parar no TCU, que proibiu o banco de anunciar em ambientes de fake news.
A Petrobras disse ao TCU que 13.038 anúncios foram veiculados no Jornal da Cidade Online em dezembro de 2019, sem seu "conhecimento ou autorização".
Afirmou que, por erro de uma empresa subcontratada pela Propeg, agência de propaganda responsável por suas campanhas, foram veiculadas ao todo "impressões publicitárias" em 736 sites. A "whitelist" da estatal tinha apenas 261.
A companhia atribuiu a falha a um analista da empresa Gamned, parceira da Propeg especializada em mídia digital. "A veiculação em tais sites resultou em um aumento de 1,95 milhão de impressões publicitárias indevidas (sites que não estavam incluídos na whitelist)", diz trecho de relatório do TCU sobre o caso, obtido pela reportagem.
O documento não cita a relação completa dos sites indesejados que foram contemplados, tampouco o período em que ocorreram as publicações.
Ao TCU a Petrobras declarou que os anúncios indevidos não lhe geraram gastos, pois a Gamned não os apresentou no relatório que comprova as veiculações e subsidia as cobranças.
O relatório do tribunal afirma, no entanto, que, a despeito do prejuízo financeiro, a associação da marca a um site de conteúdo impróprio pode trazer danos de imagem.
A Petrobras disse à corte que só descobriu o problema em junho, mas que, de lá para cá, fez mudanças em seu esquema publicitário para evitar a repetição de falhas.
Uma delas foi suspender a publicidade no YouTube, pois a plataforma não permite controle dos canais que recebem publicações.
Outra foi atualizar filtros para exclusão prévia de ambientes reconhecidamente inadequados, além do "expurgo de categorias não compatíveis com a marca" da estatal (pornografia, violência, jogos de azar, tabaco e terrorismo).
Em parecer, a área técnica do TCU propõe que a corte continue fiscalizando os investimentos de publicidade da estatal, mas não a proíba de anunciar na internet, já que não foi apurado prejuízo financeiro com o suposto erro. A decisão a respeito caberá aos ministros da corte.
Em nota à reportagem, a Petrobras afirmou que, em dezembro de 2019, a Gamned veiculou anúncios fora da lista de sites previamente autorizados sem conhecimento prévio da Propeg e da própria estatal.
Segundo a companhia, o erro decorreu de uma "falha operacional de um analista" de equipe da empresa.
A Petrobras sustenta que não teve despesas com a publicidade nos sites indevidos, pois "no relatório de comprovação das veiculações enviado pela Gamned, utilizado para pagamento, foram omitidas as veiculações fora da lista autorizada".
"A Petrobras pagou apenas as 14.967.664 impressões de anúncios previamente contratados e veiculados em ambientes da lista autorizada", afirmou, acrescentando que o custo foi de R$ 220,1 mil.
"Vale destacar que é usual no mercado ocorrer excedente de impressões, que são consideradas bonificações pelas redes de conteúdo."
A estatal diz ter intensificado os mecanismos de controle de publicidade na internet, a serem cumpridos pela prestadora de serviço que controla as campanhas online.
Em futuras campanhas, afirma, serão feitos testes preliminares com redes de conteúdo pré-selecionadas pelas agências e com as respectivas listas de sites. "Somente serão admitidos para as campanhas redes e sites que possam ser monitorados plenamente."
A Petrobras diz que deixará de usar a distribuição de material publicitário em aplicativos de celular, "uma vez que nestes não é possível realizar os bloqueios programados de aplicativos indesejados".
A Propeg disse ter fornecido todas as informações necessárias à Petrobras assim que solicitadas. "As impressões que ocorreram fora da whitelist (fruto de erro operacional da Gamned) não foram consideradas. Desta forma, nenhuma impressão fora da whitelist foi paga pela Petrobras", afirmou.
A reportagem não obteve resposta da Gamned.
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