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Petrobras perderá R$ 100 bi em valor de mercado com intervenção

Petrobras perderá R$ 100 bi em valor de mercado com intervenção

Os números consideram a desvalorização das ações na B3 e nas Bolsas de Valores estrangeiras onde são negociados papéis da estatal. Perdas devem chegar a esse patamar na próxima segunda-feira (22)

Publicado em 20 de fevereiro de 2021 às 13:28- Atualizado há 4 anos

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Sede da Petrobras no Espírito Santo. Prédio da estatal fica na Reta da Penha, em Vitória
Sede da Petrobras no Espírito Santo. Prédio da estatal fica na Reta da Penha, em Vitória. (Fernando Madeira)

BRASÍLIA - Investidores deram início a um desembarque das ações da PetrobrasAs perdas acumuladas até a sexta-feira (19) somam R$ 60 bilhões e devem chegar a R$ 100 bilhões nesta segunda (22) devido ao que chamam de intervenção do governo na companhia.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) indicou o general Joaquim Silva e Luna para o comando da estatal no lugar de Roberto Castello Branco após os últimos reajustes nos combustíveis.

Os números consideram a desvalorização das ações na B3, a Bolsa brasileira, e nas Bolsas estrangeiras onde são negociadas as ADRs (recibos de ações negociados nos Estados Unidos) da petroleira.

Somente na noite de sexta-feira (19), a Petrobras registrou R$ 28,2 bilhões em redução de valor de mercado no Brasil e outros R$ 30 bilhões com os papéis no exterior, segundo banqueiros e gestores de investimentos que falaram com a reportagem sob anonimato.

Na avaliação de dois dirigentes de bancos, as perdas superam aquelas provocadas pelo esquema de corrupção na estatal durante os governos Lula e Dilma Rousseff (PT).

Eles lembram que, desde que o escândalo revelado pela Lava Jato se tornou público, em 2014, o valor da Petrobras encolheu na Bolsa de cerca de R$ 310 bilhões à época para algo em torno de R$ 225 bilhões, quatro anos depois, uma perda de R$ 85 bilhões.

Segundo esses banqueiros, em quatro dias a medida de Bolsonaro pode causar dano maior que a Lava Jato ao valor de mercado da companhia.

Consideram ainda que, do ponto de vista das perdas para o caixa, a própria Petrobras declarou prejuízos de R$ 50,8 bilhões -R$ 6,2 bilhões com propinas e outros R$ 44,6 bilhões com investimentos nos projetos investigados.

Para eles, o que está em jogo agora é a perda de credibilidade da companhia. O derretimento das ações é mais rápido porque, dizem esses executivos, houve manobra do governo para interferir na política de preços dos combustíveis, o que pode comprometer o resultado da empresa e o retorno para seus investidores.

O mercado teme também efeitos sobre o processo de venda de ativos da estatal, que visa reduzir o endividamento e aceleraria a estratégia da empresa para se tornar uma grande pagadora de dividendos.

A Petrobras recebeu proposta por apenas 1 das 8 refinarias que colocou à venda -o fundo Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos, ofereceu US$ 1,65 bilhão (cerca de R$ 9 bi) por uma unidade na Bahia.

A possibilidade de reversão do plano de venda de ativos foi comemorada por opositores da gestão Castello Branco, que esperam também revisão na política de preços.

"De nada adianta a mudança na cadeira se não houver mudança da política de preços desastrosa", diz o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros, Deyvid Bacellar.

Castello Branco foi nomeado no fim de 2018 e reconduzido para um mandato de dois anos em 20 de março de 2019. Diante da sua insistência em manter a Petrobras livre de qualquer interferência do governo, houve pressão para que renunciasse, mas ele não demonstrou essa disposição.

Na quinta-feira (18), a Petrobras anunciou reajustes de 10,2% e 15,1% para gasolina (o quarto do ano) e diesel (terceiro de 2021), respectivamente, a partir desta sexta.

No mesmo dia, Bolsonaro disse que promoveria mudanças na estatal e anunciou isenção de impostos federais sobre o diesel e o gás de cozinha.

Em reunião com ministros, mostrou insatisfação com Castello Branco, considerado "insensível" aos aumentos.

Os ministros Paulo Guedes (Economia), Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) tentaram apaziguar. Segundo relatos feitos à Folha, Guedes chegou a dizer que as perdas para a Petrobras seriam muito expressivas porque seriam entendidas como uma intervenção indevida.

Diante da recusa de Bolsonaro, Bento Albuquerque aceitou a indicação de Joaquim Silva e Luna, presidente da Itaipu Binacional, cujo nome foi sugerido pelo ministro-chefe da Casa Civil, general Braga Neto. O general da reserva João Francisco Ferreira foi indicado para o cargo de diretor-geral de Itaipu.

A ala militar do Palácio do Planalto defendia a mudança de comando da empresa porque avaliavam que Bolsonaro precisava ter à frente da Petrobras um executivo mais afinado com o governo. Para eles, Castello Branco era "liberal demais" e só pensava no mercado, em vez dos consumidores.

Não perdoaram, por exemplo, a declaração de Castello Branco de que, diante da ameaça de uma nova paralisação de caminhoneiros, disse "não ser um problema da Petrobras".

A indicação do militar foi definida em reunião na sexta, no Planalto, de que participou o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, amigo de Silva e Luna. Pessoas presentes relatam que o próprio Bolsonaro ligou para o general para fazer o convite.

O Ministério de Minas e Energia enviou então ofício para a Petrobras indicando Silva e Luna não somente como presidente da companhia mas também como integrante do conselho de administração.

Para gestores de investimento, a escolha do chefe da Petrobras compete ao conselho de administração --formado por representantes dos acionistas (União e minoritários) e profissionais do mercado--, que decide rumos e políticas implementadas pela diretoria-executiva, comandada pelo presidente da estatal.

Prevendo possível reprovação para a indicação de Silva e Luna pelo conselho, o governo o indicou como conselheiro.

Para os gestores, foi uma manobra para evitar essa derrota. O Ministério de Minas e Energia já solicitou convocação de assembleia-geral extraordinária para que o novo conselheiro seja empossado, o que lhe dá poder de voto.

Ao mesmo tempo, o governo indicou todos os atuais integrantes do conselho para a recondução. A Folha de S.Paulo ouviu um deles, cuja percepção é a de que a maioria dos indicados por Castello Branco -todos profissionais do mercado- renunciem ao posto.

A decisão representa uma derrota para Guedes, que defendia a permanência do atual executivo no cargo e era contra intervenções na companhia. Prevaleceu o interesse da ala militar do governo.

Segundo os banqueiros consultados, a reação dos investidores é vender as ações da Petrobras diante da possibilidade -agora mais evidente- de que o novo comando será mais sensível aos interesses do governo e poderá subsidiar preços, como fez a gestão petista.

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