Alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a Petrobras propõe ampliar em 8,57% o valor reservado para remunerar seus administradores no período entre abril de 2021 e março de 2022. Ao todo, serão separados R$ 47 milhões.
O valor contempla salários, benefícios e bônus pelo desempenho. Segundo a empresa, o aumento na rubrica corresponde à provisão para o programa de remuneração variável de 2020, quando a companhia registrou lucro de R$ 7 bilhões, e de parcelas remanescentes de anos anteriores.
Em nota, a empresa ressaltou que a soma é calculada considerando o limite máximo de desembolso e que, em 2020, apenas 60% dos R$ 43,3 milhões reservados foram efetivamente pagos. "A previsão é que o valor total realizado seja inferior ao aprovado, como ocorreu em anos anteriores", diz a estatal.
A política de remuneração da Petrobras precisa ser aprovada em assembleia de acionistas, que está marcada para 14 de abril. Como a União tem o controle sobre o capital votante, é do governo federal a última palavra.
Mesmo tendo aprovado a remuneração de 2020, Bolsonaro usou os altos salários como um dos argumentos para a substituição do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, pelo general Joaquim Silva e Luna, que comanda Itaipu Binacional.
"Alguém sabe quanto ganha o presidente da Petrobras? R$ 50 mil por semana? É mais do que isso por semana. Então, tem coisa que não está certa", afirmou o presidente, três dias após anunciar a mudança, criticando também a adoção de home office pela empresa. "E para ficar em casa, trabalhando de casa. No meu entender, não justifica."
Logo depois, apoiadores de Bolsonaro passaram a compartilhar mensagens de críticas aos salários e teorias da conspiração contra a gestão Castello Branco, em onda de ataques semelhante às deflagradas contra ex-aliados como os ex-ministros Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta.
A forma atabalhoada como a mudança foi anunciada e as críticas à gestão provocaram uma debandada inédita do conselho de administração da empresa, com cinco dos representantes do governo declinando do convite para recondução ao cargo.
A proposta de remuneração que a Petrobras levará à assembleia prevê o pagamento de R$ 14,1 milhões em salários aos nove diretores da empresa, uma média de R$ 120 mil por mês, incluindo o 13º salário. O valor total é 2,9% superior ao verificado em 2020.
A estatal afirma, porém, que não há reajuste na remuneração fixa dos administradores da companhia, "permanecendo os mesmos valores já praticados desde abril de 2016".
Para a remuneração variável, a proposta é reservar R$ 16,2 milhões, média de R$ 1,8 milhão por executivo. em 2020, foram pagos R$ 5,3 milhões, mas 40% do bônus sobre o lucro recorde de 2019 foi dividido pelos quatro anos seguintes - isto é, parte daquele bônus está incluída também na reserva de 2021.
Para o conselho de administração, a Petrobras propõe reservar R$ 2,9 milhões, ou cerca de R$ 260 mil para cada um dos 11 conselheiros. O colegiado será renovado em assembleia extraordinária no dia 12 de abril, convocada para sacramentar a troca no comando da empresa.
Do quadro atual, permanecem dois indicados pela União -o almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira e o oficial da reserva Ruy Flaks Schneider, além da representante dos trabalhadores, Rosângela Buzanelli. Ampliando a presença militar no colegiado, Luna e Silva substituirá Castello Branco.
Esta semana, o governo anunciou outros cinco nomes para as cadeiras a que tem direito. Em geral, são executivos com experiência no mercado de petróleo e gás ou especialistas no mercado financeiro. Os acionistas minoritários elegerão outros dois nomes.
A política de remuneração da Petrobras foi alterada em 2019, com a criação de um programa que privilegia a bonificação de executivos com cargo de chefia, ao contrário do modelo anterior, que distribuía os lucros de forma mais igualitária entre os empregados.
No novo modelo, o presidente da companhia pode receber até 13 salários adicionais em caso de cumprimento de todas as metas.
Crítica da mudança na política de bônus, a FUP (Federação Única dos Petroleiros) disse ter recebido "com indignação "que a proposta de aumento da remuneração divulgada nesta sexta.
"A proposta é uma afronta à classe trabalhadora, que amarga índices históricos de desemprego no atual governo, e é mais um desrespeito expresso da atual administração da Petrobras à categoria dos trabalhadores", disse, em nota, o coordenador geral da entidade, Deyvid Bacelar.
"Enquanto a direção da empresa reserva milhões ao pagamento de bônus à sua diretoria, mesmo diante da brutal crise econômica e social do país, os petroleiros tiveram reajuste salarial zero este ano, com aplicação do INPC apenas em setembro de 2021, para um acordo com validade de dois anos", completou.
Em comunicado distribuído nesta sexta (12), a Petrobras defende que a remuneração de seu presidente corresponde a 25% da remuneração total anual de empresas brasileiras de porte equivalente. Já para os diretores, diz, o valor equivale a 72% do pago por outras companhias.
A estatal diz ainda que, "como em qualquer empresa no mercado, o bônus de performance é uma remuneração variável sem garantia de recebimento". "Ou seja, seu pagamento depende do atingimento do critério de gatilho estabelecido para o ano (por exemplo, lucro líquido mínimo) e das metas de cada administrador."
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