A Petrobras quer rever suas regras de governança para garantir maior agilidade em suas decisões, afirmou nesta segunda (9) o diretor de Governança e Conformidade da estatal, Marcelo Zenkner. Segundo ele, com o expurgo de empregados corruptos, o momento é de estimular a confiança dentro da companhia.
Em evento sobre corrupção na sede da Petrobras, o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, contou que decidiu enviar pedidos de desculpas a cerca de 2.000 empregados que foram investigados por corrupção mas tiveram os processos arquivados.
Zenkner não detalhou a proposta de mudanças nas regras de governança. Ele disse que a avaliação é que o reforço no controle foi necessário após a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, mas as novas regras engessaram a empresa.
"Estamos virando uma página", afirmou ele, em entrevista à imprensa durante o evento. Ele defendeu que a companhia está mais madura e que as regras mais rígidas devem dar lugar a uma "cultura de compliance [governança]", com maior confiança nos gestores.
"Já conseguimos identificar onde estavam as falhas, conseguimos expurgar da companhia as pessoas que, de alguma forma, se envolveram com fraudes. Então agora temos condições de tornar a companhia mais ágil, mais veloz, para que possa competir com os grandes players do mercado internacional", afirmou.
Ele defendeu, porém, que as mudanças não representarão "relaxamento de regras". "O que vai haver agora é uma evolução, um aprimoramento no sentido de mantermos nos controles internos padrões já alcançados, mas com uma velocidade maior."
O executivo citou algumas medidas como a avaliação de integridade dos fornecedores e a checagem do histórico de indicados a cargos na estatal, criadas ainda no governo Temer, como avanços na prevenção à corrupção.
Disse ainda que a estatal vem abrindo procedimentos administrativos contra fornecedores que descumpram regras, como apresentar documentos falsos. Em 2019, foram 11 processo abertos, seis deles já concluídos com multas de R$ 6,5 milhões.
Segundo Zenkner, as mudanças nas regras de governança têm o objetivo de "empoderar os gestores para que possam ter o poder de decisão sem abrir mão dos controles". O movimento vai na contramão de medidas adotadas pela gestão Pedro Parente, que visavam limitar o poder da diretoria.
Em 2017, por exemplo, a estatal alterou os limites de competência que definem os valores que cada cargo hierárquico pode aprovar sozinho. A autonomia dos diretores foi apontada na época como um fator que facilitava a corrupção.
"Hoje nenhum diretor toma me toma decisão isoladamente, elas precisam ser aprovadas por dois diretores em conjunto", explicou na ocasião o então diretor de Governança e Conformidade, João Elek. Zenkner disse nesta segundo que a empresa "está revisitando" a questão dos limites, mas não adiantou se haverá mudança.
O presidente da Petrobras avaliou que, como resposta à corrupção descoberta pela Lava Jato, "a aplicação das regras de compliance passou a ser excessiva".
Castello Branco disse que a empresa está corrigindo injustiça contra 2.000 empregados que foram investigados mas não chegaram a ser informados do arquivamento dos processos por falta de indícios de crime. "Inocentes foram perseguidos e estamos entregando quase 2.000 cartas pedindo desculpas", contou.
Ele afirmou acreditar que a estimativa de perdas com a corrupção feita em 2014, de R$ 6 bilhões, "não corresponde à realidade". "Somente da Lava Jato já recebemos R$ 4,2 bilhões [em ressarcimento e multas de delatores e empresas]", afirmou.
Castelli Branco classificou o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), como um "cemitério da corrupção" -por ter recebido investimentos bilionários e estar hoje com obras paralisadas- e chamou o edifício Pituba, construído pela empresa em Salvador, como "templo da corrupção".
Ambos os projetos foram objeto de colaborações premiadas.
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